Desde que se elegeu, umas das extravagâncias do “núcleo ideológico” do governo Bolsonaro, centralizado no próprio presidente, e que constitui a ala mais extremista e reacionária de sua adminsitração, tem sido suas demonstrações de proximidade (um tanto forçada) com o Estado de Israel.
É uma coisa puramente simbólica, como que um constraste artificial, forçado, com movimentos de solidariedade de organizações, comunidades ou partidos “progressistas”, em relação aos problemas vividos pelo povo palestino.
O binarismo é a marca mais evidente do bolsonarismo tosco: se a esquerda é pró-palestina, então a direita tem de ser pró-Israel.
Sutileza ou nuance não é o forte de extremistas.
Essa postura é tanto mais burra porque ignora solenemente que Israel não pode ser confundido com seus movimentos e partidos de direita. Isso seria o mesmo erro que enxergar, no Brasil, apenas o bolsonarismo.
Israel tem uma esquerda historicamente ativa, pró-direitos humanos, e que apesar de estar marginalizada do poder há alguns anos, tem uma participação importante na vida social do país, hoje e no passado. Não podemos esquecer que Israel foi construída sobre pilares socialistas, dos quais os kibutzs, ou fazendas agrícolas coletivas, foram a iniciativa mais conhecida.
Até hoje, Israel é um dos países desenvolvidos com melhores índices de distribuição de renda, e isso se deve a um Estado de bem estar social, que inclui tributação progressista, educação pública de qualidade e, sobretudo, uma cultura de igualdade e solidariedade (ao menos entre os seus compatriotas) profundamente enraizada no país.
A prova de que a proximidade entre o bolsonarismo e Israel tem sido a falta de cuidado com que o presidente e seu entorno se relacionam com movimentos e partidos acusados de neonazismo.
Confira a nota do Instituto Brasil – Israel, divulgada há pouco, em protesto ao encontro de Bolsonaro e uma deputada alemã investigada por suas ligações com movimentos extremistas alemães.
Todas essas patacoadas de Bolsonaro vão isolando o Brasil cada vez mais, reduzindo investimentos em nosso país e, com isso, destruindo os empregos e a esperança dos brasileiros.
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Encontro entre Bolsonaro e Beatrix von Storch é afronta ao espírito da Constituição democrática do Brasil, diz Coordenador Executivo do IBI
Beatrix von Storch, vice-líder do partido AfD (Alternativa para Alemanha), esteve com o presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira (22). O Coordenador Executivo do IBI, Rafael Kruchin, assinou uma nota sobre o encontro, que foi destaque em diversos meios de comunicação, como a Coluna da Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e a agência Poder 360.
Confira a nota na íntegra:
O presidente Jair Bolsonaro recebeu Beatrix von Storch, líder do partido de extrema-direita AfD da Alemanha, para uma reunião no palácio presidencial. Antes, os deputados Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis, do PSL, haviam recebido a parlamentar alemã.
A AfD, fundada em 2013, cultiva tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração. Em março deste ano, a agência de inteligência da Alemanha colocou o partido em vigilância depois que o serviço secreto identificou uma série de violações da democracia e dos valores constitucionais do país.
O sentido sectário do encontro fica mais claro pelo fato de tanto o Brasil quanto a Alemanha estarem enfrentando tragédias e nenhum dos lados ter sequer se referido a isso.
O fato de Beatrix von Storch se ausentar da Alemanha quando se contam as vítimas das enchentes e viajar por um país isolado internacionalmente a esta altura, como o Brasil, mostra a irrelevância de seu partido e a busca desesperada por qualquer legitimação internacional.
Ao contrário de uma união dos conservadores do mundo para defender os valores cristãos e a família, como sugeriu Bia Kicis, esses encontros estão mais para união de políticos de extrema-direita irrelevantes no cenário global. Um abraço de náufragos.
O Instituto Brasil Israel (IBI) repudia veementemente estes encontros, que representam um revés nos esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto e uma afronta à letra a ao espírito da Constituição democrática do Brasil.
Rafael Kruchin, coordenador-executivo do IBI
Marco Vitis
27/07/2021 - 15h33
Perguntinhas incômodas: esse Instituto emitiu uma nota quando Bolsonaro foi aplaudido no Clube Hebraica ? Naquele evento, os judeus presentes riram efusivamente das falas racistas, fascistas do então candidato. E quanto ao dinheiro de judeus estrangeiros entregues à campanha de Bolsonaro para ajudar a elegê-lo ? Existem notas de repúdio do Instituto em todas essas situações ?
Paulo
27/07/2021 - 12h08
A aproximação com Israel se deve à agenda evangélica, que confunde a Israel bíblica com o atual Estado de Israel. Já o encontro com grupos de ultradireita se deve à agenda política do bolsonarismo. Como eles se entendem entre eles – os bolsonaristas -, diante de tanto incongruência, é um caso de estudo. Eu arriscaria que se deve à ignorância que grassa nessas hostes…Mas lembrando que um ponto de contato é o fato do Governo israelense ser de direita, também…
Valeriana
27/07/2021 - 11h13
“O fato de Beatrix von Storch se ausentar da Alemanha quando se contam as vítimas das enchentes e viajar por um país isolado internacionalmente a esta altura, como o Brasil, mostra a irrelevância de seu partido e a busca desesperada por qualquer legitimação internacional.”
Que presunçào hein, que arrogancia e que educaçào de primeira ordem…até os israelenses se tornam imbécis quando colocam os pès no Brasil…?