Por Altamiro Borges
Jair Bolsonaro está mais frágil, mas a fascistização segue em curso em todos os poros da sociedade. Na semana passada, o juiz Alexandre do Valle Thomaz, da 1ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias Municipais da Comarca de Juiz de Fora, atendeu ao pedido de um vereador-policial e censurou uma mostra artística na cidade mineira.
Em sua decisão liminar (provisória), o juizeco determinou que os painéis fotográficos da exposição “Democracia em Disputa” fossem retirados da fachada do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Ele se curvou ao vereadorzinho Sargento Mello Casal (PTB-MG), que moveu uma ação contra a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), gerida pela prefeitura de Juiz de Fora.
No processo, o vereador fascista chama os painéis de “engenhos de publicidade”. Já o juiz considerou que as fotos “aviltavam o patrimônio público”. A prefeitura, comandada pela petista Margarida Salomão, vai recorrer da decisão.
Em nota, ela afirma que “espera que seja respeitada a liberdade de manifestação artística e cultural”. A Funalfa, responsável pela exposição em parceria com o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT Democracia), também divulgou nota contra a censura.
Ataques à liberdade de expressão
Conforme explica, a mostra fotográfica, que estreou na cidade em 19 de julho, conta a história da democracia no Brasil com “imagens que narram mais de meio século de episódios cruciais para a construção de nossas instituições políticas.
Entre nossa primeira experiência democrática em 1945 e a crise atual, a democracia brasileira passa por momentos de avanços e também de retrocessos, retratados nas fotografias selecionadas por meio de curadoria técnica e artística”.
Já Leonardo Avritzer, coordenador do INCT, contestou na Folha as aberrações do vereador-policial. “Não é um material publicitário, é uma exposição que tem valor histórico, foi selecionada por historiadores a partir de fatos centrais da história do país. Fomos acusados de ser partidários por ter uma foto na exposição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso [1995-2003] passando a faixa presidencial para o ex-presidente Lula [2003-2011]”. Ele avaliou o absurdo como um sintoma do ataque à democracia no Brasil. “Iremos recorrer e esperamos que a Justiça faça prevalecer a liberdade de expressão”, afirmou.