A economista Juliane Furno entende da pauta dos petroleiros: seu doutorado, defendido na Unicamp, foi sobre a política de conteúdo local de petróleo e gás. Ela também já atuou como pesquisadora no Sindicato dos Petroleiros Unificado de São Paulo e Norte Fluminense, além de já ter sido assessora parlamentar.
Atualmente, Juliane é economista-chefe do Instituto para a Reforma das Relações Estado e Empresas (IREE), colunista do Brasil de Fato, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular. Também dá nome ao canal Economia com Ju Furno no Youtube.
Ela participou da mesa de abertura do 35º Congresso dos Petroleiros de Minas Gerais, realizado de 14 a 17 de julho, e conversou com a comunicação do Sindipetro MG. Confira abaixo:
Você estudou no seu doutorado os “Limites e possibilidades do desenvolvimento econômico na periferia capitalista: a Política de Conteúdo Local no setor de Petróleo e Gás”. E desde então o desmonte da Petrobras segue, agora com ameaça de venda da PBio e refinarias. Por que é tão grave para o país abrir mão desse setor estratégico?
A Petrobras é um setor muito importante para a economia e para a sociedade brasileira como um todo e abrir mão dessa grande empresa traz pelo menos dois prejuízos de ordem significativa para o Brasil. O primeiro deles é o prejuízo econômico. Porque o setor de petróleo e gás, liderado pela Petrobras, e com o poder de compra que a Petrobras tem, sendo a maior empresa nacional brasileira, tem a possibilidade de liderar um conjunto de investimentos que no médio prazo recoloque a economia brasileira na trajetória do crescimento econômico. Ou seja, a Petrobras e seu poder na cadeia produtiva do petróleo e gás pode mobilizar importantes indústrias – seja para trás na cadeia produtiva, como a indústria naval, metal mecânica, engenharia, autopeças, seja para frente na cadeia produtiva -, ofertando um produto barato em moeda nacional. Então, abrir mão da Petrobras é um empecilho para o crescimento econômico. É abrir mão de usar esse setor para liderar o crescimento, a construção de obras, por exemplo. E ofertar o petróleo – que é o combustível de toda a indústria brasileira – a preços baratos, em moeda nacional.
Em segundo lugar, abrir mão dessa empresa de caráter estratégico também nos enfraquece do ponto de vista da geopolítica internacional. Porque vamos viver um período provavelmente de preços maiores do barril de petróleo no comércio internacional, porque quanto mais as economias se urbanizam e crescem, mais elas demandam energia e vai haver um aumento da procura e diminuição da oferta de energia, porque os campos já estão em sua fase de maturação, ou seja, declinando de produtividade. A única grande descoberta de petróleo no século XXI foi no Brasil. Ou seja, a gente vai abrir mão de uma empresa de petróleo justamente no período de escassez dessa energia, quando os preços vão ficar maiores no mercado internacional. Vamos deixar de usar esse recurso internamente e provavelmente teremos que pagar para importar, em dólar, em preço ainda maior.
Você também já foi assessora de sindicato de petroleiros. O que você diria para a categoria hoje, qual a luta central a ser feita e como fazê-la?
Eu diria que a luta hoje é em defesa da Petrobras e do papel que ela cumpre na sociedade brasileira. Seria estranho dizer como fazer, já que os sindicatos de petroleiros têm um protagonismo e são referência pra classe trabalhadora organizada, mas se eu pudesse dar um pitaco, eu diria que seria muito importante uma ampla e permanente articulação com os movimentos populares, ou seja, tentar que a pauta seja o menos corporativa da categoria possível e mais uma pauta de caráter nacional. Lembrando que a única luta de massas no Brasil por uma pauta de soberania foi a campanha “O petróleo é nosso”. Não me recordo de nenhuma outra. Ela tem esse potencial.
É importante buscar formas de mediações para mostrar como a alienação da Petrobras impacta no bolso no brasileiro. Como a mudança, por exemplo, no regime de partilha, pode fazer com que o descontrole do Estado na produção de barris de petróleo leve a uma superprodução de barril, que vai ser exportado. E se a gente exportar muito mais barris do que a gente exporta hoje no mercado internacional significa que vai entrar muito dólar na economia brasileira. Se entra muito dólar, a taxa de câmbio se aprecia. E aí as indústrias brasileiras perdem competitividade, a gente perde empregos no setor industrial. Ou seja, é preciso conectar como o desmonte do controle do Estado sobre esse setor – sejam os mecanismos regulatórios ou a própria alienação de subsidiárias da Petrobras – vai impactar na vida do brasileiro.
Com sua experiência como youtuber e também como militante de uma organização de juventude, quais as dicas você dá para disputar a sociedade, para fazer a luta em defesa da Petrobras para além da categoria petroleira?
Investir na disputa, na batalha das ideias, em duas frentes. A primeira é o bom e velho trabalho de base, ou seja, os sindicalistas precisam vivenciar, estar no local de trabalho, ser uma referência. E também a gente precisa entender hoje que grande parte da luta política se dá nas redes sociais. E o youtube é uma rede onde muitas pessoas interessadas estão buscando conhecimento, então eu investiria em agitação e propaganda, vídeos informativos que façam conexão com a vida real, em linguagem popular, conteúdos que ajudem a cativar as pessoas. A forma do sindicalismo mais tradicional tem caído um pouco em descrédito. Isso talvez não seja em relação à forma organizativa, mas de comunicação. Acho que temos a aprender isso com os jovens. E tenho aprendido isso também com meu canal no Youtube e na militância no Levante Popular da Juventude, que é, na minha opinião, uma referência em agitação e propaganda.
Além do desmonte da Petrobras, assistimos a uma série de retirada de direitos, com um governo que não só não defende a vida como quer lucrar com a saúde da população. Tem crescido a insatisfação com Bolsonaro, mas o que precisamos fazer para encerrar logo esse ciclo e não deixar que ele se repita?
A gente precisa ser parte desse movimento de desgaste do bolsonarismo, entendendo que a pauta política que mobiliza as ruas não é necessariamente a que a gente escolhe. Karl Marx já dizia que os seres humanos fazem história, mas não nas condições que eles escolhem. Então, se eventualmente se colocar a pauta da corrupção como aquela que mobiliza – apesar de sabermos historicamente como essa pauta é usada no Brasil – temos que ter condições de politizar e ser parte desse movimento mais geral de insatisfação, participando, convocando e contribuindo para dirigir esses processos de luta.
É importante também ser parte das organizações que convergem várias outras, como a Frente Brasil Popular, a Frente Povo sem Medo, onde os sindicatos ultrapassam momentaneamente sua pauta corporativa e cumprem o que é a forma clássica do novo sindicalismo, que é comprometido com pautas mais gerais, com um projeto popular de Brasil.
Gabriel
22/07/2021 - 16h54
Parabéns, Juliane!!! Muito bem colocado, da pra compreender bem.
Adorei, Cafezinho!! Já pode chamar ela mais vezes.
maurilho
21/07/2021 - 11h59
“seu doutorado, defendido na Unicamp, ”
Kkkkkkkkkkkkkkkk
Parei de ler por alí. Não aguentei ao riso.
Efrem Ventura
21/07/2021 - 11h29
O que a economista Juliane Furno diz ou nada sao a mesma coisa.
canastra
21/07/2021 - 10h12
Quando a Petrobras era assaltada dia e noite pelo PT e comparsas e dava prejuizos bilionarios essa “gente” estava onde ?
Onde estavam os sindicatos dos petroleiros…? Caladinhos no escritorio com ar condicionado e com dinheiro garantido de quem trabalha no bolso…?
Quanto fazem falta as estatais nas maos dos companheiros hein…?
Vao queimar no inferno.