Por Urariano Mota
Nesta quarta feira (7), as Forças Armadas em conjunto ao Ministério da Defesa emitiram nota de intimidação ao Senador Omar Aziz, exigindo respeito às instituições, ainda que elas mesmas não tenham esse exemplo para dar
Para a chamada cívica do senador Omar Aziz, quando na CPI declarou que “fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”, os ministros das forças armadas de Bolsonaro chegaram a responder numa “indignada” nota:
“…As Forças Armadas do Brasil, ciosas de se constituírem fator essencial da estabilidade do País, pautam-se pela fiel observância da Lei e, acima de tudo, pelo equilíbrio, ponderação e comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas.
As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”
Mas isso em absoluto não é verdade. Dizer que militares fazem uma “fiel observância da Lei” é a própria negação da história do Brasil. Primeiro, porque não respeitaram nem as urnas e as eleições brasileiras, como foi exemplo o primeiro de abril e 1964, quando derrubaram governos livremente eleitos. E depois impuseram o terror, a sua democracia sem voto.
Segundo, porque a Lei não é observada sequer nos livros que formam os oficiais nas Forças Armadas. Já em artigo anterior sobre Escolas Militares pude ver que seus livros servem a um ensino orientado pela Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA), criado em 1973, naquele inesquecível ano da ditadura Médici.
Seu material didático se apoia em um certo Art 4º do R-69. Percebem?
A caserna legisla. Mas não é assim, sem nada, pois a Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial organiza a proposta pedagógica “de orientar o processo educacional e o ensino-aprendizagem na formação de cidadãos intelectualmente preparados e cônscios do seu papel na sociedade segundo os valores e as tradições do Exército Brasileiro” Que valores seriam esses, além das ideias anticomunistas do tempo da ditadura?
Terceiro, porque ao longo destes tenebrosos tempos de Bolsonaro os militares que o apoiam têm se pautado por ameaças e avisos intimidatórios ao judiciário, como ao STF e TSE, à imprensa, ao Senado, chegando ao máximo de intimidar a livre manifestação do povo brasileiro, que tem morrido na UTI sob este governo.
Quarto, porque é mentira declarar que a Forças Amadas estão “comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas”. Não é verdade. Quem batalha contra a vacina, quem espalha remédios miraculosos à margem da ciência, quem apoia os descalabros e corrupção provada de Bolsonaro não pode afirmar que se dispõe a salvar vidas.
Quinto, este primor, esta cereja do bolo: “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
A gente lê e tem que reler para acreditar no que viu. Pois quem ataca a democracia, ministros do STF, repórteres, jornalistas, quem ataca um presidente da CPI? Quem ataca até mesmo o sistema de votação eletrônico, quem? A resposta está no espelho do governo Bolsonaro. É só olhar.
É comovente, ou melhor, é espantoso que os fascistas no poder acreditem que a retórica possua o poder de transformar a realidade. Se falam que respeitam a Lei, ah, bom, a Lei já se considera respeitada.
Se falam que defendem a democracia, aí será melhor ainda, a Democracia jamais será tão bem defendida. Mas se não aceitam ataque leviano às Instituições democráticas, aqui devemos suspender um ponto de interrogação: se o ataque não for leviano, pode? Atacar a democracia de modo sujo, fraudulento, será justo e legal?
Depois, na quinta-feira, em novo ataque ouvido pela colunista Bela Megale, de O Globo, eles afirmaram que “não aceitarão serem desrespeitados” pela CPI. Flexão terrível do infinitivo do verbo “ser” à parte, podemos considerar.
A digna chamada do senador Aziz para que militares corruptos sejam punidos, olhem só, recebeu a resposta de que insultos não serão tolerados. Isso é o máximo de volta ao tempo da ditadura. Se não, lembremos o grande Stanislaw Ponte Preta, em uma página do Febeapá:
“Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que ele agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito:
– Viva a Democracia!
Ao que Ernani Sátiro na mesma hora respondeu:
– Insulto eu não tolero!”
Agora, os militares alinhados ao genocida também respondem:
– Democracia no Congresso? Insulto eu não tolero!
Artigo publicado originalmente no Portal Vermelho em 09 de julho de 2021