O salário médio anual dos trabalhadores da Petrobrás é um dos mais baixos entre as empresas concorrentes no mercado mundial de petróleo, aponta levantamento realizado pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese). A pesquisa faz um comparativo da renda dos empregados da companhia brasileira com a de sete outras grandes multinacionais e evidencia a tendência de crescimento da remuneração nas empresas internacionais, frente a queda contínua da média salarial do trabalhador da Petrobrás, na última década.
A pesquisa baseia-se em relatórios divulgados pelas próprias empresas. “Para efeito de comparação, calculamos o salário médio como resultado da relação entre a massa salarial divulgada pela empresa e o total de trabalhadores diretos empregados. Em todos os casos, os respectivos valores foram convertidos em dólar, seguindo a cotação média anual”, explicam Nazareno Godeiro e Gustavo Machado, pesquisadores do Ilaese.
De acordo com o levantamento, em 2011, a média salarial na Petrobrás era de US$ 98,5 mil ao ano. Em 2020, a remuneração caiu para US$ 61,9 mil, valor 67% menor do que o rendimento dos trabalhadores da norueguesa Equinor e 60% abaixo do ganho anual dos empregados da britânica BP. O salário na Petrobrás também é inferior ao da italiana Eni (40%), da espanhola Repsol (30%), da francesa Total (26%) e da chinesa Cnooc (14%).
O estudo revela que a única empresa que pagou menos do que a Petrobrás foi a Petrochina, com salário médio de US$ 49 mil no ano passado. Os pesquisadores destacam, entretanto, a evolução salarial oposta de ambas as empresas, já que a remuneração média anual dos trabalhadores da Petrobrás caiu continuamente entre 2011 e 2020, em US$ 33,1 mil, e a da Petrochina subiu US$ 22,3 mil nesse mesmo período. Enquanto na companhia brasileira houve uma queda de 37% do salário médio anual, na chinesa a remuneração média cresceu 82%.
“Pela tendência indicada, vemos que é questão de tempo para que a remuneração média dos trabalhadores da Petrochina ultrapasse a dos empregados da Petrobrás, assim como já aconteceu com a petrolífera chinesa Cnooc”, avaliam os estudiosos.
A conclusão da pesquisa é que a cada ano aprofunda-se mais o abismo entre os salários da Petrobrás e de suas concorrentes. “Na última década, em todas as empresas consideradas no estudo, houve crescimento nominal da remuneração média dos trabalhadores. A única exceção foi a Total. Mas, enquanto na empresa francesa a retração dos salários foi de 9,94%, na Petrobrás a redução chegou a 37%. Ou seja, uma diferença quase quatro vezes maior”.
Outro ponto do levantamento refere-se ao percentual que a massa salarial ocupa sobre a receita total da empresa. No caso da Petrobrás, apenas 5,66% da arrecadação é direcionada aos salários e benefícios de seus trabalhadores diretos. Esse índice é próximo ao da BP (5,49%), da Cnooc (5,13%) e da Repsol (5,60%) e bem abaixo da Equinor (8,73%), Total (7,44%), Petrochina (7,63%) e Eni (6,51%).
“Importante ressaltar que todas as empresas relacionadas são multinacionais com atuação em todo o mundo. A italiana Eni, por exemplo, possui a maioria de seus campos de exploração na África, com moeda ainda mais desvalorizada do que o real. Apesar disso, a remuneração de seus trabalhadores e a fração da receita líquida são maiores do que as da Petrobrás”, afirmam Godeiro e Machado.
Fonte: FNP