A pesquisa CNT/MDA confirma o que outras pesquisas já apontaram: Bolsonaro vem se desmanchando a olhos vistos.
Ainda não está claro até onde vai essa tendência, mas os números hoje mostram Lula ganhando as eleições com vantagem expressiva, com chances inclusive de levar no primeiro turno.
Alguns céticos dizem que isso é impossível porque Lula, nem no “auge de sua popularidade”, ganhou no primeiro turno.
Lula apenas disputou uma reeleição, em 2006, quando não estava no auge. Em 2010, a candidata era Dilma.
Fernando Henrique Cardoso, que nunca teve grande carisma, venceu no primeiro turno duas vezes. Não me parece nada impossível, portanto, uma vitória de Lula no primeiro turno.
Lula tem caminhado com prudência, evitando cascas de banana e polêmicas, alternando entrevistas entre mídias regionais, de um lado, e internacionais, de outro.
Criticado por não se posicionar sobre o impeachment (apesar de seu partido ter assinado vários pedidos), e por não ter assinado nenhum documento, o ex-presidente divulgou mensagem de apoio à mobilização de partidos e movimentos em prol do afastamento de Bolsonaro. Mas usou um tom moderado, até mesmo ambíguo, sem se comprometer pessoalmente com a iniciativa.
No início do ano, Lula disse que não acreditava na viabilidade do impeachment. Entre alguns petistas graúdos, talvez o próprio Lula, há quem olhe para o impeachment com desconfiança, como se aí se escondesse alguma armadilha a atrapalhar os planos do PT de derrotar Bolsonaro nas urnas em 2022. Possivelmente Lula considere que essa não é uma pauta popular, ou que pode criar uma instabilidade política que não se sabe onde vai dar. O substituto de Bolsonaro, em caso de impeachment, seria o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que pode ser ainda mais perigoso que Bolsonaro, por ser mais inteligente e mais organicamente vinculado às Forças Armadas.
Ciro Gomes, por sua vez, tem divulgado vídeos interessantes, focados em tecnologia, debate sobre religião, posicionamentos ideológicos, e se mantém com um dos campeões das entrevistas para mídias nacionais e youtubers. Sua entrevista para o Flow rende até hoje, e ele participou de um debate com outros nomes da terceira via (Mandetta e Eduardo Leite) que apenas serviu para deixar claro a mediocridade de seus concorrentes pela vaga.
Mas Ciro continua se desgastando muito quando parte para o ataque frontal a Lula, gerando sempre uma onda pesada de reações extremamente negativas, que sua militância, apesar de grande e ativa, tem dificuldades para conter.
Após um erro de timing político de Lupi, presidente nacional do PDT, Ciro ainda teve que chamar para si e para sua militância a defesa do “voto impresso”. Isso gerou enorme desgaste político, pois todos os partidos desembarcaram dessa canoa furada e o PDT se viu sozinho, de mão dadas com meia dúzia de bolsonaristas radicais.
Até mesmo o PSL, partido de Bia Kicis e Filipe Barros, os dois principais defensores da pauta no Congresso, já se declarou contra o projeto do voto impresso.
Alguns ciristas tentaram justificar a defesa do voto impresso alegando que, depois que Ciro e PDT se manifestaram em favor, Bolsonaro “nunca mais tinha mencionado o assunto”. Deu-se na verdade o contrário. O tema tornou-se uma obsessão sinistra de Bolsonaro, que toca no assunto quase todos os dias, sempre de maneira ameaçadora, e sempre colocando em dúvida a lisura das urnas eletrônicas.
O voto impresso tornou-se uma bandeira radicalmente bolsonarista, e quem se associa a ela perde o eleitorado que deseja se distanciar do presidente. O outro pretexto para a defesa da pauta, de que seria útil “não deixar essa pauta apenas em mãos de Bolsonaro”, virou uma desculpa esfarrapada.
Os democratas, por sua vez, se decepcionaram com o PDT, e com Ciro, quando constataram que o partido não teve a sensibilidade e a inteligência de perceber as intenções golpistas de Bolsonaro por trás de sua campanha contra a urna eletrônica.
Entretanto, Ciro ainda pode se recuperar, caso consiga desenvolver uma fórmula mais eficaz para herdar o voto do bolsonarista arrependido. O tema da segurança pública, no qual ele ainda não entrou, deverá ser fundamental.
A pesquisa CNT/MDA traz pelo menos um dado bastante positivo para a terceira via: 30% não querem votar nos dois principais candidatos. Esse percentual é superior aos 25% que se dizem dispostos a votar em Bolsonaro.
Quanto a Bolsonaro, tem apenas metido os pés pelas mãos. Há poucos dias, esteve numa manifestação, organizada por ele mesmo, numa cidade do interior do nordeste, e removeu a máscara de uma criança que alguém colocou em seu colo. Minutos antes, no palco, o presidente fez um gesto para outra criança tirar a máscara. As cenas chocaram a opinião pública.
Sua última presepada foi uma série de mensagens insinuando que ministros do STF teriam envolvimento com pedofilia e, por isso, estariam sendo chantageados, obrigados a tomar decisões hostis ao governo. A base para essa conspiração, de qualidade nível Qnon, é um livro sobre… Cuba, de autoria de um escritor de extrema-direita.
Com isso, Bolsonaro apenas se ridiculariza junto à opinião pública, e antagoniza com os ministros do STF, cuja caneta tem o poder de aceitar ou rejeitar denúncias criminais contra o presidente. Como um animal que entra na areia movediça e se afunda mais e mais conforme se agita, assim Bolsonaro tem criado cada vez mais problemas para si mesmo.
Em outro post, vamos analisar as partes da pesquisa que tratam da aprovação do governo, do presidente. Adianto aqui que o quadro é muito negativo para Bolsonaro. Sua avaliação pessoal bateu recorde negativo de 63%.