“É o massacre da serra elétrica”, diz o cientista político Christian Lynch.
O instituto Ipec, formado por ex-funcionários do Ibope, divulgou agora há pouco uma pesquisa de intenção de votos que deixou a internet em estado de choque.
Um choque de alívio.
O presidente Bolsonaro é um criminoso de alta periculosidade, e hoje produziu mais cenas de horror no Rio Grande do Norte, misturando-se sem nenhum cuidado sanitário a um pequeno grupo de populares que se interessaram em se aproximar. Nem o presidente nem seus seguranças usavam máscaras. Foi uma cena patética, triste, ainda mais considerando que o evento ficou quase completamente vazio.
Em dado momento, o presidente pega uma criança em seus braços e arranca-lhe a máscara.
É um grande alívio, portanto, que um monstro desse quilate apareça numa pesquisa realizada entre os dias 16 e 21 de junho, por um instituto prestigiado, com menos da metade de votos de Lula.
Segundo o Ipec, Lula tem 49% das intenções de voto, o que significaria mais da metade dos votos válidos e, portanto, uma vitória do petista no primeiro turno.
Bolsonaro, por sua vez, teria 23%.
Ciro Gomes pontua 7%, Dória 5% e Mandetta 3%.
Brancos e nulos seriam 10%, e apenas 3% se declararam indecisos.
Em votos válidos (excluindo nulos, brancos e indecisos), Lula teria 56%, 30 pontos a mais que os 26% de Bolsonaro, o que corresponderia a uma vitória folgada no primeiro turno.
Alguns dados estratificados deixam bem claro que Lula hoje vence em setores politicamente estratégicos.
Por exemplo, entre evangélicos, vistos até então como um setor conservador e inclinado a votar em Bolsonaro, Lula tem 41% de intenções de voto, contra 32% de Bolsonaro.
Entre católicos, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro é de 22 pontos: 52% X 20%.
No Nordeste, Lula tem 63% das intenções de voto, contra 15% de Bolsonaro.
No Sudeste, Lula tem 47%, 23 pontos ‘a frente de Bolsonaro, que tem 24%.
No Sul, Lula também lidera, com 35%, contra 29% de Bolsonaro.
Os números são consistentes com a acelerada perda de prestígio do governo Bolsonaro, cujas notas ruim/péssimo saltaram 10 pontos desde fevereiro, e hoje marcam 49%.
As notas ótimo/bom, por sua vez, desabaram 4 pontos, e estão em apenas 24%.
O Ipec também pesquisou o potencial de votos dos diferentes candidatos.
O potencial de voto em Lula cresceu de 50% para 61%, ao passo que sua rejeição declinou de 44% para 36%.
Bolsonaro fez o caminho contrário: sua rejeição explodiu para 62%, ao passo que seu potencial mingou de 38% para 33%.
Ciro também melhorou seu potencial, de 25% para 29%, mas ainda tem rejeição relativamente alta (se comprada a seu potencial), de 49%.
Doria e Mandetta tem potenciais baixos e rejeição elevada.
Conclusão: a pesquisa foi feita antes da escalada, nos últimos dias, dos escândalos envolvendo o presidente Bolsonaro, que já podemos chamar de “crise política”.
Os números confirmam outras pesquisas, que mostram uma queda acentuada das intenções de voto em Bolsonaro, e crescimento de Lula.
Com esses números, Lula terá muito mais facilidade para atrair apoios partidários, inclusive da centro-direita, como o PSD de Kalil e Eduardo Paes, e o MDB de Renan Calheiros.
O PSB, que ainda tem diretórios com dúvidas se a melhor estratégia é mesmo se aliar ao PT, dificilmente poderá resistir à força gravitacional do petista, ainda mais agora, que incorporou a seus quadros duas estrelas lulistas, Flavio Dino e Marcelo Freixo.
Todos os elementos conspiram para uma eleição polarizada, na qual Bolsonaro, pelo visto, deve sofrer uma derrota histórica no primeiro turno, desmoralizando completamente seus resmungos antecipados de “fraude”.
Mesmo os temores de um “golpe”, se já eram infundados, devem perder força, pois que não se vislumbra nenhum setor importante da sociedade disposto a se aliar a uma aventura suicida em apoio a um presidente cada vez mais rejeitado e com chances cada vez mais remotas de se reeleger.
Essa pesquisa mexe as placas tectônicas da política nacional. Políticos do “centrão” vão cobrar muito mais caro o apoio a um presidente em declínio, e provavelmente já devem estar fazendo seus planos sobre a melhor forma de pularem fora dessa canoa furada.
A terceira via, por sua vez, se vê numa situação extremamente complicada, ao menos até que a opinião pública possa ver como mais clareza até onde Bolsonaro pode cair. Sendo presidente, ou seja, portando uma caneta tão poderosa, e possuindo redes sociais ainda muito fortes (as maiores do país, até o momento), ainda é difícil imaginar um segundo turno sem Bolsonaro.
Não basta, além disso, que Bolsonaro perca pontos, mas que algum candidato da terceira via apresente crescimento consistente, o que ainda não se vê.
O eleitor bolsonarista arrependido, pelo jeito, está migrando diretamente para Lula. A polarização fica cada vez mais desequilibrada, com desvantagem para Bolsonaro, mas ainda assim é uma polarização.