A privatização parcial do ativo já provocou aumento da dívida da subsidiária, redução de direitos trabalhistas
e incerteza sobre preços e qualidade de serviços prestados à população
Disponibilizado na última semana, o fato relevante publicado pela BR Distribuidora reitera o interesse da Petrobras em se desfazer do restante de 37,5% das ações que a estatal ainda possui da ex-subsidiária.
De acordo com o comunicado, a realização completa da venda depende de fatores como condições de mercado e da aprovação de órgãos da Petrobrás e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Ao solicitar à BR Distribuidora cooperação para implementar a oferta pública secundária (follow on), a Petrobrás confirma que a venda do restante das participações em sua ex-subsidiária não ocorrerá por meio de leilão, como era estipulado.
Segundo a petrolífera, a venda completa das participações na BR Distribuidora visa a amortização das dívidas da companhia e melhores lucros para os investidores. “Esta operação está alinhada à otimização do portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, visando a geração de valor para os seus acionistas”, informou a Petrobras.
Com a total privatização da subsidiária, a Petrobras abre mão de 7,7 mil postos de combustíveis localizados em praticamente todo o território brasileiro.
Histórico falho de privatização
Ainda sob comando de Roberto Castello Branco, quando a Petrobrás decidiu colocar à venda a BR Distribuidora, em julho de 2019, a justificativa para o desinvestimento era a redução da dívida da companhia. Entretanto, desde que a ex-subsidiária começou a ser privatizada, o endividamento do ativo aumentou em 118%.
Em 2017, segundo o Relatório de Referência da empresa, o débito da distribuidora de combustíveis era de R$ 4,5 bilhões, contudo, de acordo com o mesmo documento, mas com valores referentes ao primeiro trimestre deste ano, a dívida da BR Distribuidora já alcança R$ 9,84 bilhões.
Concomitante ao endividamento da companhia, a atual diretoria da ex-subsidiária, composta por 17 administradores, recebeu no ano de 2020, dentre salários, benefícios e bonificações, R$ 51.920.483,40, quantia 272% maior do que a que foi repassada aos diretores no ano de 2019.
Em contraposição, logo no primeiro ano de privatizações do ativo da Petrobras, 860 trabalhadores próprios da companhia foram demitidos como resultado dos desinvestimentos da estatal. Dentre os que permaneceram na BR Distribuidora, foram registradas denúncias por assédio moral e reduções salariais.
Além disso, a sede da subsidiária na Bahia, localizada num bairro nobre de Salvador, foi completamente abandonada desde a venda da distribuidora. O Sindicato dos Petroleiros da Bahia chegou a reportar, no último ano, que a filial não recebia mais manutenções.
Com 50 anos de história, a BR Distribuidora, que já foi a maior empresa do ramo no Brasil, ao ser vendida perde toda a sua integração vertical – considerada sua maior vantagem competitiva, segundo o site Brasil Postos. Um dos benefícios dessa gestão estratégica é a garantia de redução dos custos de produção e comercialização de produtos, tal como melhora na qualidade dos serviços vendidos.
Presidente privatista
O atual presidente da BR Distribuidora, Wilson Ferreira, esteve à frente da Eletrobrás até o início deste ano, quando migrou para presidência da BR Distribuidora ao encontrar brecha na Lei 12.813, de 2013, para conseguir assumir o posto máximo na companhia sem precisar fazer o jejum de seis meses sem atuar em outra empresa pública.
Em meio à crise hídrica e seca histórica que assola o Brasil, Ferreira já aplaudiu o avanço da Medida Provisória que viabiliza a privatização da Eletrobrás – o que impede uma transição energética eficiente da empresa e, segundo especialistas, pode elevar o preço do acesso à energia em até 20%.
Fonte: FUP