O Cafezinho não é um instrumento para fazer a campanha política de nenhum partido, movimento ou candidato.
A favor ou contra.
Não estamos aqui para “atacar” ou “defender” ninguém.
Nossa militância é pelo jornalismo, pela liberdade e pela cidadania, seguindo o Código de Ética do Jornalista, onde está escrito que é dever do jornalista lutar pela liberdade de pensamento e de expressão; defender os princípios constitucionais e legais; e defender os direitos do cidadão.
Esse é o nosso lado.
Somos contra Bolsonaro porque consideramos que ele atenta contra todos esses valores fundamentais.
Agora, os movimentos, correntes, partidos, candidatos, militâncias, estão sempre mudando. Uma hora se radicalizam, outra se moderam. Num momento, defendem tal ou qual bandeiras, em outro criticam-nas. Numa hora acertam, noutra erram, na opinião do observador.
Isso é normal. “Tudo flui como um rio”, dizia Heráclito.
Os movimentos políticos mudam, porque envoltos no turbilhão de suas próprias contradições, suas lutas pelo poder, suas deficiências e qualidades.
Entretanto, esses movimentos às vezes se deixam enganar por uma ilusão de ótica. Eles olham pela janela do trem e vêem as pessoas que estão paradas, observando-os com atenção crítica, e acham que elas é que estão se deslocando.
Daí entra a teoria da relatividade especial, a descoberta revolucionária de Albert Einsten. Talvez não seja o outro que esteja mudando, mas você mesmo.
Quando um militante diz que um blog político “mudou” sua linha editorial, talvez devesse refletir se foi mesmo o blog que mudou, ou se foi ele mesmo, seu candidato ou seu movimento.
Além disso, é totalmente absurdo pretender que, no ambiente de fortes mudanças políticas, um veículo continue agindo sempre da mesma forma, sem reagir a essas mudanças. Isso é impossível.
Um jornalista tem toda a liberdade de votar ou apoiar um candidato, de mudar de ideia em seguida, de mudar novamente. Em seu trabalho, porém, deve se esforçar em relatar os fatos com o máximo de independência e imparcialidade.
Samuel Wainer, o grande jornalista, era um militante do PTB, um apoiador de Getúlio Vargas, e seu principal jornal, Última Hora, foi um importante baluarte de seu governo na grande imprensa. Mas quando era o momento de criticar e pressionar, ele o fazia. Wainer tinha suas ideias, suas referências. Se Vargas se afastava delas, a Última Hora criticava. Não seria justo dizer que o Última Hora “mudou”, e sim Vargas.
O chato, porém, é que as pessoas acabam acreditando nos rótulos que elas mesmas inventam, e daí quando passamos a fazer críticas a seu candidato ou movimento, elas “tomam um susto”, e dizem que “mudamos”. Não. Não mudamos em nada. As pessoas é que alimentam uma imagem estereotipada sobre nosso trabalho. Frequentemente, não lêem nossos textos, não acompanham nosso raciocínio, nossas críticas, o que também ajuda a construir esse tipo de impressão superficial sobre o que pensamos ou não.
As militâncias também passam por grandes mudanças. Muitas vezes, o próprio militante, imerso no coletivo, não percebe a mudança, porque ele está dentro dela. Para quem está dentro do trem, a mesa do vagão restaurante à sua frente, ou o copo de uísque em sua mão, não estão se mexendo. Para quem está de fora, porém, tanto a mesa como o copo estão se deslocando em alta velocidade.
Se faço alguma crítica, é porque, em minha percepção, a mudança aconteceu do lado de lá. Quem mudou foi a militância, o candidato e o partido. Não eu.
Posso estar errado, naturalmente, mas isso é humano e jornalistas são, apesar de alguns indícios em contrário, humanos.
Se a mudança lhes parece “drástica”, é porque – de onde estou, parado em meu ponto de observação – a mudança “drástica” aconteceu do lado de lá.
Do meu ponto-de-vista, permaneço onde sempre estou, desde 2010 tentando me manter estável e firme, em favor de um projeto de emancipação popular e nacional, em meio a esse redemoinho alucinado da política nacional.