A maioria de meus amigos de esquerda não gosta do Paraná Pesquisas, e tenho impressão que essa antipatia teve início nas eleições de 2014, quando o instituto foi o primeiro a divulgar uma pesquisa após o resultado do primeiro turno, e essa pesquisa trazia Aécio Neves com 54%, 8 pontos à frente de Dilma Rousseff, que tinha 46%.
Mais tarde, o Paraná Pesquisas teve um certo papel na legitimação da Lava Jato, divulgando pesquisas que sempre confirmavam a enorme popularidade da operação.
Naquelas eleições de 2014, porém, o maior papelão veio do Sensus, um tradicional instituto da época, que não sei se ainda existe. O Sensus trazia Aécio com 17 pontos à frente de Dilma, um cenário que, se fosse verdade, praticamente inviabilizaria uma vitória da petista. Ao final, Dilma ganhou por 52% a 48%.
Lembro-me que publiquei uma análise, com base nos números das urnas no primeiro turno, que sepultavam a pesquisa Sensus. Ela era uma fraude facilmente desmascarável pela matemática. E fiz a previsão que, matematicamente, seria muito difícil para Aécio conseguir, em tão pouco tempo, os milhões de votos que ele precisava para vencer. Dilma ganharia. Soube mais tarde que essa análise acabou sendo publicada no site oficial da campanha de Dilma, então coordenada por João Santana.
Mas eu advogo que se os institutos continuam aí, operando, e se não foram condenados ou fechados pela justiça, ou seja, se ainda tem clientes que os contratam, devemos lhes dar alguma atenção, sempre tentando encarar pesquisas como uma curiosidade e uma diversão política, porque a verdade em si, apenas as urnas dirão! Erros por erros, todos os institutos cometeram. E não foram poucos, nem em quantidade, nem em gravidade.
Dito isso, vamos à pesquisa do Paraná Pesquisas para as eleições presidenciais no estado do Rio de Janeiro.
Hoje foi publicado o relatório completo de uma pesquisa do Paraná Pesquisas que traz alguns dados alarmantes para a oposição ao presidente Bolsonaro.
Mas não é nada muito dramático, apenas um sinal amarelo, pelas razões que tentarei explicar aqui.
Vamos usar apenas o cenário 2 da pesquisa, que não traz nem Moro, nem Huck, que já cansaram de afirmar que não serão candidatos, e que, até hoje, não se filiaram a nenhum partido, e que, de qualquer forma, não vem apresentando nenhum desempenho marcante nas pesquisas.
Neste cenário, temos Bolsonaro na liderança, com 35%, mas Lula logo atrás, em empate técnico, com 32%.
Embora seja preocupante, naturalmente, que um idiota como Bolsonaro ainda esteja à frente, não podemos esquecer que ele venceu as eleições em 2018 no estado do Rio com 68% dos votos. Ou seja, ele perdeu cerca de metade de seus eleitores.
A terceira via ainda tem um desempenho muito ruim no Rio de Janeiro. Ciro Gomes pontuou apenas 5,1%, bem menos que os 15% que teve em 2018 (contra 14,7% de Haddad). Dória, Mandetta e Amoedo tem menos de 3%.
Outro ponto difícil para a terceira via é que a pesquisa não traz sinais de que Bolsonaro está ou vai derreter. O “colapso” da candidatura Bolsonaro, tão esperado por todos, ainda pode acontecer, mas essa pesquisa não ajuda alimentar nenhum otimismo neste sentido.
O que chama atenção, na tabela estratificada, e que deveria ser motivo de alerta para a oposição, é que, entre homens, Bolsonaro tem 46% de intenções de voto, contra 26% entre mulheres. Já Lula tem 26% de votos entre homens, contra 37% entre mulheres.
É uma diferença brutal entre os gêneros. Bolsonaro é o candidato dos homens. Se ele perder essa aura, vai minguar.
Quando olhamos para os dados estratificados relativos ao nível de instrução do eleitor, chama a atenção a força de Lula entre as camadas mais humildes, entre as quais ele tem 46%, contra 27% de Bolsonaro e 2% de Ciro Gomes.
Esse eleitor menos instruído, no passado, era mais difícil de ter sua opinião alterada, porque ele vê menos internet, não lê jornais e não presta tanta atenção no noticiário político. Tudo isso tendia a conferir um caráter inercial mais pronunciado em seu voto. Hoje em dia, porém, os mais pobres participam de redes sociais fechadas, especialmente, e tem se mostrado vulneráveis a fake news.
Outro fator de preocupação para a oposição é justamente a superioridade de Bolsonaro entre eleitores mais instruídos. Essa é uma dinâmica que, se não houver cuidado, poderia repetir o clima de 2018, com a formação de uma grande coalizão de classe média em favor de Bolsonaro. Poderia, mas não vai, porque apesar de Lula ainda tem rejeição forte na classe média fluminense, a rejeição a Bolsonaro está crescendo muito também.
Entre eleitores com ensino médio, Bolsonaro tem 41% das intenções de voto no estado do Rio, contra 26% de Lula, e 6% de Ciro.
Entre eleitores com ensino superior, Bolsonaro tem 35%, Lula 26%, e Ciro 7%.
O Paraná Pesquisas traz ainda uma sondagem sobre aprovação do governo Bolsonaro. Segundo ela, o governo tem aprovação de 42% dos eleitores fluminenses, percentual que sobre para 60% entre homens! Eis um dado alarmante, tanto para Lula, que terá de inventar maneiras de dissolver essa “muralha masculina” ao redor de Bolsonaro, como para uma eventual terceira via.
Entre mulheres, Bolsonaro é aprovado por 34%, mas reprovado por 60%. Essa é, por outro lado, uma boa oportunidade para a oposição, que é transformar o eleitorado feminino em cabo eleitoral, fazendo convencer seus parceiros de que Bolsonaro não é uma boa opção.
Entre eleitores com ensino superior, Bolsonaro é rejeitado por 60% dos fluminenses. Interessante observar que Bolsonaro é mais rejeitado nos dois extremos, entre os eleitores com ensino superior e entre aqueles que completaram apenas o ensino fundamental. Entre eleitores com ensino médio, porém, a administração do presidente Bolsonaro tem apoio de 48% e rejeição de 46%.
A pesquisa também traz dados de potencial, onde vemos que ambos os dois principais candidatos tem rejeição relativamente alta, de 48% para Bolsonaro e 49,5% para Lula.
Entretanto, os dados cruzados dessa rejeição com os números de intenção de voto sinalizam que as rejeições podem estar se neutralizando umas às outras. Quer dizer, o sujeito não gosta de Lula, mas sua rejeição a Bolsonaro é ainda maior. E vice-versa. Caso isso esteja acontecendo, é um dado a mais a indicar um processo cristalizado de polarização.
Os dados estratificados do potencial eleitoral nos permite identificar quais setores gostam mais ou menos de Lula. Seu melhor desempenho se dá entre eleitores menos escolarizados. E ele ainda tem rejeição expressiva entre eleitores com maior grau de instrução, que também devem ser os de maior renda.
Bolsonaro tem uma desvantagem nesse ponto. Ele também tem hoje rejeição entre os mais instruídos, mas, à diferença de Lula, que tem rejeição baixa entre as famílias mais humildes, de apenas 36%, a rejeição a Bolsonaro nessa mesma faixa (de eleitores com até o ensino fundamental) é de 50%.