Por Paulo Morceiro
No primeiro trimestre de 2021 o peso no PIB da agropecuária e indústria extrativa somados ultrapassou o da indústria de transformação (Gráfico abaixo). A última vez que isso aconteceu foi no final da década de 1950.
Desde o Plano Real a economia brasileira vem se reprimarizando num ritmo intenso, isto é, a parcela da agropecuária e da indústria extrativa no PIB vem crescendo enquanto a da manufatura está encolhendo.
Os gráficos mostram a tendência de reprimarização.
Até meados da década de 1950 o Brasil era conhecido pelo modelo primário-exportador, isto é, produzia-se produtos primários para exportar e importava majoritariamente produtos industriais dos países mais avançados (centro). O modelo centro-periferia foi superado com a industrialização de JK, Milagre Econômico e II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).
Recentemente, essa relação centro-periferia voltou a ser observada nas estatísticas de comércio exterior. No entanto, agora é muito mais grave: ela está acontecendo também na estrutura de produção do país.
Isso tem consequências graves para a continuidade do crescimento e desenvolvimento econômico do país, pois as áreas agrícolas e extrativas estão localizadas em poucas regiões menos populosas que as áreas manufatureiras.
Além disso, a indústria de transformação costumou ser o carro-chefe do crescimento econômico na maioria das nações hoje avançadas, pois a manufatura tem várias externalidades positivas para o desenvolvimento. O Brasil perde.
Texto originalmente publicado no Valor Adicionado.