Por Gabriel Barbosa
Goste-se ou não, o encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) transmite a carga simbólica da civilidade que há tempos não vimos no Brasil. O colapso no sistema de Saúde no combate a pandemia e a crise sócio-econômica são tão inéditos e hiper dimensionados que não existe outro caminho além da reconstrução democrática através de gestos e simbolismos de grandeza.
Enquanto isso, Bolsonaro ficará isolado na sua extremidade, falando apenas para o seu “núcleo duro” entre 15% e 17% do eleitorado para transmitir a ideia de que está sendo resiliente para camuflar o fato de que seu governo estar em frangalhos e cada vez mais refém das negociatas fisiológicas. Seu objetivo é claro, tentar se segurar no cargo até o final de 2022 enquanto a pandemia avança, vacinação míngua e a economia despenca.
Com isso, o ex-capitão que foi expulso do Exército se torna o único “líder” político que busca uma polarização que até o momento, não está dada, pois não existe polarização se o seu maior adversário lidera as pesquisas com folga e adota um discurso de reconstrução, operando genuinamente como uma opção de Centro.
Voltando as duas figuras que realmente importam nessa análise, tanto FHC quanto Lula mostraram ao país que o momento é de construir um caminho de pacificação, pensando na questão nacional e de como podemos superar esse momento tão sombrio na nossa história. Contudo, também é preciso atentar para as questões eleitorais.
Me arrisco a dizer que será difícil uma chapa PT-PSDB em 2022, diria até improvável. O próprio FHC, horas depois da publicação de Lula sobre o encontro, reafirmou que o ‘plano A’ do PSDB é lançar uma candidatura que naturalmente terá o seu apoio.
Contudo, se a candidatura tucana não chegar ao 2° turno e se a disputa ficar entre o atual inquilino do Planalto e Lula, “não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula”. Considero que a postura de FHC é natural e legítima, vide a representação que ele carrega de um partido importante como o PSDB.
Já Lula opera corretamente, ao meu ver, no seu objetivo. Quem esperar do ex-presidente uma postura revolucionária e radical de extrema esquerda vai se frustrar profundamente. Quem esperava que Lula iria jogar no campo da polarização contra Bolsonaro também vai começar a se arrepender amargamente de ter apostado nesse embate.
Dialogando com lideranças ligadas ao lulismo, é nítido que após uma década de sucessivas crises e de terra arrasada deixada pelo Governo Bolsonaro, Lula vai para o jogo como o pacificador ou popularmente falando, aquele que vai tentar colocar a bola no chão. Sua “romaria” política não vai parar e em breve teremos notícia de Lula dialogando com diversos segmentos e até mesmo caciques do Centrão. A conferir!