Numa das maiores reviravoltas da história política brasileira, o presidente Bolsonaro, até pouco líder nas pesquisas para as eleições presidenciais de 2022, agora é o que os cientistas políticos norte-americanos chamam de “lame duck”, ou pato manco. A expressão se refere a presidentes que perdem o prestígio e poder muito rápido, e não tem mais perspectivas de se reelegerem.
A primeira pesquisa Datafolha após a decisão do STF de restituir os direitos políticos de Lula, anular todos os seus processos, e declarar que o então juiz Sergio Moro, que lhe havia condenado, agiu de maneira desonesta contra ele, mostra a impressionante recuperação do petista, que agora tem 41% dos votos no primeiro turno.
Em votos válidos, esse percentual seria um pouco maior, de maneira que agora é possível imaginar inclusive uma vitória de Lula no primeiro turno.
De qualquer forma, as simulações de segundo turno do Datafolha sinalizam uma verdadeira surra eleitoral, com Lula ganhando com 55% dos votos, 23 pontos à frente de Bolsonaro, que pontuaria 32 pontos.
Bolsonaro, por sua vez, tem apenas 23%. Ainda é um percentual considerável, que lhe garante um lugar no segundo turno. Ao mesmo tempo, já está claro que as chances de vitória do presidente são extremamente baixas.
A rejeição de Bolsonaro, um dado importante para avaliar o potencial de voto dos candidatos num eventual segundo turno, chegou a 54%, o que praticamente inviabiliza qualquer possibilidade de vitória do presidente.
Na terceira via, os candidatos ainda estão a anos-luz de distância de oferecerem um nome competitivo para alcançar um lugar no segundo turno.
Moro e Huck já desistiram. Ciro tem apenas 6%. Dória, 3%. Mandetta, 2%.
A única chance da terceira via agora passa pelo esvaziamento ainda maior de Bolsonaro, e a aglutinação dos votos “nem-nem” (nem Lula nem Bolsonaro) em apenas um candidato, o que será um desafio complicado, pois o melhor posicionado (Ciro) tem um programa muito à esquerda para os eleitores de Doria, Amoedo, Moro e Huck.
A pesquisa traz ainda algumas informações interessantes:
- O presidente Bolsonaro perde para Lula em todas as regiões, mas tem melhor desempenho no Sul e no Centro-Oeste/Norte, nas quais é forte o agronegócio, uma de suas grandes bases de apoio. Tem 28% em ambas.
- Bolsonaro também perderia feio de Ciro Gomes no segundo turno, por 48% X 36%, mas esse agora é um cenário mais que improvável.
- Ciro se sai melhor entre brasileiros com ensino superior (11%) e com maior renda (13%). Esse tem sido, aparentemente, um dos problemas de Ciro, sua dificuldade de conquistar a simpatia dos extratos mais populares.
- Doria, por outro lado, tem um desempenho mais fraco que os outros no segundo turno, empatando com Bolsonaro.
- Lula recuperou o voto no Nordeste, onde pontuaria 56% no primeiro turno.
- Entre brasileiros com renda familiar até dois salários, o ex-presidente teria 47%.
- Entre brasileiros com ensino superior, Lula teria 30%.
- Entre brasileiros do estrato mais rico, com renda superior a dez salários, o petista teria 18%.
- O petista também lidera na espontânea, com 21% das intenções de voto, contra 17% de Bolsonaro, e 1% de Ciro Gomes. Os outros não pontuam.
O relatório completo do Datafolha ainda não foi divulgado. Os dados mencionados constam da reportagem da Folha, assim como os gráficos abaixo.
Conclusão: Bolsonaro se queimou fortemente junto a setores influentes da opinião pública com seu extremismo político, seu negacionismo e sua agressividade contra a imprensa. Tudo indica que vai perder em 2022.
Naturalmente, é preciso tomar cuidado com pesquisas. O histórico das últimas eleições, no Brasil e no mundo, mostram que os métodos atuais tem encontrado muita dificuldade para capturar a dinâmica da opinião pública. Mas o Datafolha faz sentido, porque outras pesquisas também vem mostrando um crescimento muito sólido do ex-presidente, e ao mesmo tempo o aumento da rejeição a Bolsonaro.
De qualquer forma, será preciso aguardar a próxima rodada do mesmo instituto, para confirmarmos se estamos diante de uma tendência. Se assim for, bye bye Bolsonaro.
Caso a pesquisa Datafolha, que é um dos institutos mais respeitados do país, esteja correta, então Bolsonaro está destinado a sofrer uma derrota acachapante em 2022.
Esse perspectiva pode fazer com que ele perca ainda mais pontos nas próximas pesquisas, abrindo inclusive a possibilidade de que ele não consiga chegar sequer ao segundo turno, o que representaria uma derrota política avassaladora não apenas contra Bolsonaro mas contra o bolsonarismo.