Notícias boas para todos que são oposição a Bolsonaro!
A nova pesquisa Exame/Ideia (íntegra aqui) mostra um cenário cada vez mais negativo para o governo.
Tanto a rejeição ao governo como rejeição à figura do presidente aumentaram fortemente.
A rejeição ao governo bateu recorde de 52% (ruim e péssimo), ao passo que as notas de ótimo/bom chegaram ao nível mais baixo desde o início da administração: apenas 23%.
Segundo analistas experientes, se este percentual de ótimo e bom cair para abaixo de 20%, a candidatura Bolsonaro estará gravemente comprometida.
A rejeição à figura pessoal de Bolsonaro ainda é maior, com 54% de notas ruim e péssimo, contra 25% de ótimo e bom.
Um agravante na rejeição de Bolsonaro é o fato de que ela cresce ainda mais junto aos estratos de renda média e com maior nível de instrução, os quais formam o centro dinâmico da opinião pública. Com a consolidação das redes sociais como o meio de comunicação mais influente na formação das ondas de preferências e rejeiões políticas da população, esses estratos acabaram por se empoderar dramaticamente.
Estamos observando o início de um processo de deterioração política de Bolsonaro que pode culminar, em alguns meses, em sua eliminação do segundo turno das pesquisas.
Maurício Moura, fundador do instituto Ideia, responsável pela pesquisa que analisamos aqui, observa que os candidatos alternativos somam 32% dos votos, e se houver a convergência em torno de um nome, “a terceira via se torna uma possiblidade real”.
Essa é uma tendência que ainda precisa ser confirmada, no entanto. Um outro gráfico da pesquisa mostra que 39% dos eleitores acham que o presidente “merece ser reeleito”. Portanto este seria o seu grau de apoio na sociedade, que inclui tanto pessoas que avaliam seu governo como ótimo, bom ou regular.
Observe, por outro lado, que também aqui vemos um processo de deterioração do presidente, com o apoio à sua reeleição caindo de 42% para 39% em pouco mais de um m%es.
O gráfico acima, que estima o tamanho do eleitorado “nem-nem”, ou seja, que não quer Lula nem Bolsonaro, traz boas notícias para as pretensões da chamada terceira via, ao mostrar que o maior grupo eleitoral, de 41%, é aquele que preferiria um presidente que não fosse nem Lula nem Bolsonaro. Note que este grupo cresceu de 38% para 41% em pouco mais de 30 dias.
Continuemos. Analiso sempre depois dos gráficos.
Lula também experimentou um aumento de sua rejeição em pouco mais de 30 dias. Em 12 de março, 46% responderam negativamente à pergunta se ele merece voltar a presidente; na pesquisa de agora, 23 de abril, esse número cresceu para 53%.
Por outro lado, o percentual de eleitores favorável à volta de Lula à presidência também cresceu no mesmo período, de 32% para 41%. Esses dois movimentos contraditórios são explicados pelo aumento da polarização em torno de Lula.
Quanto a rejeição dos candidatos (quem você não votaria de jeito nenhum), os dois mais rejeitados são Lula e Bolsonaro, ambos com 40%. Ciro, Doria, Moro e Huck tem rejeição em torno de 25% a 29%. É preciso lembrar que rejeição, em política, nem sempre é ruim, pois quando ela não é estratosférica apenas mostra que o candidato está presente na imaginação coletiva como alguém com perspectivas reais de assumir o poder.
Apesar da queda nas pesquisas, Bolsonaro ainda lidera isolado o ranking de percepção da população sobre quem será o novo presidente: 29% acreditam que será ele, contra 18% que considera Lula e 7% Ciro Gomes. Acompanhar esse dado será interessante, porque ele nos dará um indicativo ou não sobre a possibilidade da candidatura Bolsonaro sofrer um colapso de expectativas, deteriorar-se rapidamente e encontrar muita dificuldade para ir ao segundo turno.
Agora vamos aos cenários de primeiro turno da pesquisa de intenção de voto, que também fez parte do relatório divulgado hoje.
A reentrada de Lula, com sua vitória judicial e recuperação de seus direitos políticos, repolarizou a disputra, com o petista crescendo para 30% a 33% das intenções de voto, e Bolsonaro caindo para 30% a 32%.
Os três cenários trazem Lula, Bolsonaro e Ciro, mas alternam os outros nomes.
No cenário 1, Lula aparece numericamente à frente de Bolsonaro, com 33% X 32%.
Para o petista, ultrapassar Bolsonaro é um grande marco simbólico, que ajuda a gerar mais densidade e peso gravitacional à sua candidatura, ao passo que, para Bolsonaro, é um anticlímax, pois o presidente vinha, até o momento, aparecendo sempre à frente das pesquisas.
Ciro pontua 9%, três pontos a frente de Luciano Huck. Não é um mau desempenho, sobretudo se considerarmos que está bem à frente dos outros candidatos da terceira via. Se chegar a pelo menos a uns 15%, Ciro poderia ter energia gravitacional suficiente pra reunir os cerca de 40% de eleitores que declaram não querer nem Bolsonaro nem Lula.
No gráfico acima, temos as imagens positivas e negativas dos principais presidenciáveis. Não sei porque Bolsonaro não aparece aí.
A rejeição mais altas é a de Amoedo, 36%, o que é curioso, pois não imaginava que sequer fosse conhecido. Nesse gráfico, Lula e Ciro tem avaliações positivas similares, de 17% e 16%, respectivamente, e 35% e 24% de avaliações negativas.
E temos, finalmente, os cenários de segundo turno, incluindo alguns que nenhuma pesquisa tinha feito antes, como entre Bolsonaro X Mandetta e Lula X Ciro, entre outros.
Num embate entre Lula X Bolsonaro, há empate técnico, embora com vantagem numerica para o petista, 40% X 38%.
Ciro, no entanto, perderia de Bolsonaro com 10 pontos de diferença.
No duelo Lula X Ciro, por sua vez, o petista ganharia com seis pontos de diferença: 42% X 36%.
Mandetta e Jereissati, por sua vez, perderiam de Bolsonaro por cerca de 20 pontos de diferença.
Conclusão
Reitero, como sempre faço, que pesquisas eleitorais devem ser vistas com leveza.
Em democracias muito grandes e dinâmicas, como a do Brasil, elas costumam oferecer apenas uma pálida imagem da realidade. O que importa, no momento, é usá-las para identificar possíveis movimentos ou ondas numa ou outra direção. Para isso, devemos sempre usar várias pesquisas, e jamais subestimar nosso próprio faro.
O que essa pesquisa confirma o que já vimos em outras pode ser resumido em três pontos:
- O crescimento de Lula. O ex-presidente vive um momento especial, de mártir libertado da cruz. Dotado de inteligência política singular, e posicionado no topo de uma estrutura de comunicação talvez sem paralelo no mundo, Lula conseguiu voltar ao jogo político em grande estilo, e hoje é o favorito para ganhar as eleições em 2022. Lula já está inscrito no panteão dos grandes herois nacionais. Seus erros políticos, que não foram poucos, não apagam nem seus feitos nem sua história. Sua vitória judicial contra a Lava Jato representou um desfecho emocionante de uma longa e dolorida batalha política.Mas a história também nos ensina que o espírito democrático das massas costuma ser mais pragmático que romântico, e ainda não está claro se todo esse amor e gratidão por Lula se converterão realmente em votos. Se o eleitor se convencer que a volta de Lula poderia trazer junto a insuportável instabilidade que testemunhou em tantos momentos dos governos petistas, ele pode escolher outro caminho.
- Os 9% de intenções de voto de Ciro Gomes dão exemplo da admirável persistência do núcleo duro de seus eleitores, diante de um candidato que às vezes parece empenhado em destruir suas próprias possibilidades. A entrada de João Santana na coordenação de sua pré-campanha talvez signifique que ele tenha resolvido reduzir seus improvisos e conter seus excessos verbais, em suma, levar mais a sério a luta do campo que representa para oferecer uma terceira via. A pesquisa Exame/Ideia mostra que há espaço para ele crescer. Há um grande eleitorado interessado numa novidade, e que rejeita Bolsonaro e Lula, e ele poderia ser esse nome. Um eventual – embora ainda improvável – apoio de partidos de centro-direita, que detêm poderosas máquinas políticas, poderia ajudar Ciro a fazer uma campanha mais profissional. Sua candidatura é importante para quem deseja derrotar Bolsonaro, por oferecer ao eleitor mais crítico ao PT a possibilidade de votar num candidato que não seja o presidente atual, dimuindo as chances de uma concentração de todo esse voto em apenas um candidato, como aconteceu em 2018. Se Ciro não estivesse no páreo em 2018, aliás, Bolsonaro teria mais chances de vencer no primeiro turno.
- Nota-se um movimento gradual – mas firme e em aceleração – de deterioração política de Bolsonaro, aparentemente vinculada à uma avaliação muito negativa sobre a maneira como ele lidou com a pandemia, além de um crescente decepção com a sua gestão econômica. O bolsonarismo se vê cada dia mais cercado de más notícias: traições, avaliações negativas, perspectivas de ações judiciais severas, possíveis derrotas eleitorais, denúncias de corrupção envolvendo a família, críticas pesadas da imprensa doméstica e internacional. Mas é a gestão da Covid que realmente pode demolir completamente o bolsonarismo. A morte agora bateu à porta de virtualmente todas as famílias brasileiras, e pelo jeito continuará batendo por muitos meses. Não há como apagar os milhares de vídeos de Bolsonaro fazendo pouco caso da doença, falando mal da vacina, e tentando de todas as maneiras criar obstáculos reais e informacionais contra o trabalho de governos e prefeitos que tentavam, desesperadamente, conter a disseminação do vírus. A cena de governadores e prefeitos, aos prantos, pedindo que as pessoas respeitassem as medidas de segurança, será um contraste forte demais com os vídeos do presidente promovendo aglomerações na praia e em pequenas cidades, explorando criminosamente a inocência e ignorância de populares.