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Lenio Streck: A sereníssima República de Merval e Deltan, os homens que calculavam!

Por Lenio Luiz Streck – Conjur Até agora, jornalistas, jornaleiros, bacharéis em Direito e muitos quejandos estão tentando entender um artigo misterioso de Merval Pereira, replicado-elogiado por seu fiel escudeiro Dallagnol. Título: “As Razões do STF”. Explico. Merval revela, em O Globo, que matematicamente o STF ainda poderia decidir que o foro de Curitiba era competente […]

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Por Lenio Luiz Streck – Conjur

Até agora, jornalistas, jornaleiros, bacharéis em Direito e muitos quejandos estão tentando entender um artigo misterioso de Merval Pereira, replicado-elogiado por seu fiel escudeiro Dallagnol. Título: “As Razões do STF”.

Explico. Merval revela, em O Globo, que matematicamente o STF ainda poderia decidir que o foro de Curitiba era competente para julgar Lula e que Moro não era incompetente. Uma estranhíssima matemática, já que o resultado pela incompetência de Curitiba foi de oito a três.

Mas Merval é uma espécie de 36º camelo de Malba Tahan, de “O Homem Que Calculava”. Ele conta e não conta (com o duplo sentido que palavra “conta” tem). É um camelo imaginário.

Para Merval, oito votos não são oito, porque esses se dividiram entre dois que achavam que era mesmo Curitiba, mais Alexandre de Moraes, que entendia que era São Paulo, e três outros que votaram por Curitiba. Entenderam? Não? Mas Deltan Dallagnol explicou:

É incrível isso. Já não bastava dar à lei o sentido que queriam, assim como Humpty Dumpties, através do espelho — em “Alice no país…” —, agora investem contra fatos. E contra a matemática. Ousados.

Estranho esse Brasil em que até a matemática vira objeto/produto da consciência, da vontade. Pobres Kurt Gödel, Bertrand Russell, Wittgenstein, Turing, todos aqueles que discutiam a natureza da matemática, o significado dos números enquanto números e seus fundamentos.

Matemática é o que Deltinha e Merval decidem que é, seus tolos! “Realismo matemático”.

Em 1984, de Orwell, 2 + 2 = 5, porque o Grande Irmão assim disse. E pronto. No Brasil do lavajatismo, oito não é oito. Porque o Merval disse e Deltan Dallagnol referendou. O que é a matemática perto dessa autoridade, pois não?

A perfeita definição de solipsismo. Viciado(s) em si mesmo(s). Até a matemática é filigrana. Como é possível isso? Nem a matemática tem uma objetividade independente da mente do sujeito-agente-auctoritas-Deltinha-Merval.

Eu não entendo. Peço desculpas, mas não sou capaz de entender uma coisa dessas.

A solução está na ‘filologia’
Eis, então, que fui buscar na Academia Brasileira de Letras a solução. Não no acadêmico Merval, mas no “dono da casa”, Machado (de Assis). Afinal, como se chama mesmo a Academia? “A Casa de Machado”.

Pois eu não sou da Academia (Brasileira de Letras), mas sou “feito a Machado”. E fui buscar na “Sereníssima República” a explicação para a incrível hermenêutica do drible da vaca feita por Merval, apoiada por, vejam, sempre ele, Dallagnol.

Prestemos atenção. A ironia do destino é que só Machado explica Merval. Quer dizer, o filólogo do conto “Sereníssima República”. Vamos lá?

O cônego ofereceu à República das Aranhas um sistema eleitoral a partir de sorteio, em que eram colocadas bolas com os nomes dos candidatos em sacos.

O inusitado ocorreu quando da eleição de um magistrado (para uma corte superior). Havia dois candidatos. A disputa era “Nebraska contra Caneca”.

Em face de problemas anteriores — grafia errada de nomes de candidatos nas bolas —, a lei estabeleceu que uma comissão de cinco assistentes poderia jurar ser o nome inscrito o próprio nome do candidato.

Feito o sorteio, saiu a bola com o nome de Nebraska. Ocorre que faltava ao nome a última letra (a). Mas as cinco testemunhas resolveram o problema. Afinal, Nebrask, faltando um “a”, só poderia ser… Nebraska. Bingo.

Mas, porém, mervaliana e deltaniamente, Caneca, o derrotado, impugnou o resultado. Fez um agravo. E trouxe um grande filólogo, formado por uma famosa universidade, que apresentou a sua tese:

“1) Em primeiro lugar, não é fortuita a ausência da letra ‘a’ do nome Nebraska. Não havia carência de espaço. Logo, a falta foi intencional.
2) E qual a intenção? A de chamar a atenção para a letra ‘k’, desamparada, solteira, sem sentido. Ora, na mente,’k’ e “ca” é a mesma coisa.
3) Logo, quem lê o final lerá ‘ca’; imediatamente, volta-se ao início do nome, que é ‘ne’. Tem-se, assim, ‘cané’.
4) Resta a sílaba do meio, ‘bras’, cuja redução a esta outra sílaba ‘ca’, última do nome Caneca, é a coisa mais demonstrável do mundo. Mas não demonstrarei isso.
5) É óbvio. Há consequências lógicas e sintáticas, dedutivas e indutivas… Aí está a prova: a primeira afirmação mais as silabas ‘ca’ às duas ‘Cane’, dando o nome Caneca”.

Pronto. Merval estava lá, disfarçado de filólogo. Mas vamos ver como Merval chegou à conclusão de que oito a três não era oito a três?

Simples.

1) São três “foros” envolvidos. Curitiba, São Paulo e Brasília. Qual foi o mote central da suspeição de moro? Resposta: o grampeamento dos telefones dos advogados de Lula.

2) Então o ponto é: telefonia. Quais são os prefixos das três cidades? Curitiba é 041, Brasília é 061, São Paulo é 011.

3) Pegando Brasília e tirando Curitiba, sobram 20. Somando São Paulo, dá 31.

4) Então, como diz o filosofo Antíteses, na sua obra “Juris tantum mas non tantum”, no caso sub judice cabe a “fórmula da inclusão exclusória”. Qualquer um sabe o que significa essa famosa cláusula.

5) Como isso é feito? Fácil: soma-se o resultado obtido da “operação incluso-exclusória” das três cidades do possível foro (31) com o número de votos que disseram que Curitiba era incompetente (oito). Assim, 31 mais 8 é igual a 39.

6) Quantas cidades estão na “disputa”? Três.

7) Logo, dividindo 39 por 3 dá exatamente 13.

8) Qual é número da vara de Curitiba em que Moro atuou? 13ª.

9) Pronto. Curitiba é competente. Qualquer um sabe disso!

E nada mais precisou ser dito! Causa finita!

Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional e titular da Unisinos (RS) e da Unesa (RJ).

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Gabriel Barbosa

Jornalista cearense com pós-graduação em Comunicação e Marketing Político. Atualmente, é Diretor do Cafezinho. Teve passagens pelo Grupo de Comunicação 'O Povo', RedeTV! e BandNews FM do Ceará. Instagram: @_gabrielbrb

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Comentários

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Tiago Silva

22/04/2021 - 20h52

Parabéns ao Cafezinho que finalmente nos brinda com textos de Lênio Streck para explicar de forma brilhante e didática como sempre funcionou a Farsa a Jato de Kuritiba ComK!!!

kkkkk

Alexandre Neres

22/04/2021 - 18h56

Triste fim do meu amigo Paulo. Defensor de corrupto. Marca indelével. O marreco entrou pra História definitivamente como JUIZ LADRÃO! Zefini. Tomou de 7!

    Paulo

    22/04/2021 - 21h56

    Processualmente, Alexandre Neres. E não, não somos amigos, apenas nos respeitamos, por enquanto, até que sua índole ideológica o impila a avanços maiores…

Paulo

22/04/2021 - 18h02

Que texto pedante e lamentável. Sobre números, basta uma Carmem Lúcia e tudo vira, como de fato virou, e, portanto, havendo oportunidade, pode desvirar…

    Carlos Jose

    22/04/2021 - 20h57

    Carminha não vai virar, mesmo virando ainda Lula
    ganha

    Carlos Jose

    22/04/2021 - 20h58

    Paulo, o voto de Carmem Lucia vale por dois votos? se esta 7×2, menos o voto de Carminha ficam 6 votos

      Paulo

      22/04/2021 - 21h53

      Carlos José, a decisão foi de natureza processual. Ou seja, decidiram que o Plenário não poderia rever decisão de Turma. A Carminha fez o seu papel na decisão d’antanho…


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