Por Brizola Neto
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.” A frase, de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, parece também ser o mantra do governo Bolsonaro. A verdade, primeira vítima das guerras, acaba de tombar nos gabinetes do Ministério da Economia, diante de uma absurda comemoração de números estapafúrdios sobre a abertura de novas vagas de trabalho no epicentro mundial da pandemia de coronavírus, só compatíveis em um cenário de pleno emprego.
O governo Bolsonaro bateu bumbo para dados do Caged, dando conta da criação de 401.639 vagas de emprego com carteira assinada no mês de fevereiro, no que seria o segundo mês consecutivo de recorde positivo de toda a série histórica (janeiro também teria registrado um saldo de 258.141 entre demissões e novas admissões).
Qual a verossimilhança dessas informações com os números do IBGE, que, pela primeira vez em sua série histórica, registrou dois semestres seguidos com o nível da ocupação abaixo dos 50% – 48% no trimestre encerrado em outubro de 2020 e 48,7% no trimestre encerrado em janeiro de 2021, o que significa dizer que mais da metade dos brasileiros em idade de trabalhar encontram-se hoje sem nenhuma ocupação.
O próprio governo federal admite que teremos retração da atividade econômica no primeiro trimestre de 2021. Como, enfim, se deu o “milagre” da multiplicação dos empregos no início deste ano?
Primeiro, não se pode falar em recorde na série histórica, já que o Ministério da Economia mudou a metodologia de coleta de dados do Caged no início de 2020 com a implementação do sistema de escrituração eSocial e tornou obrigatória a informação dos contratos temporários e intermitentes.
Outra distorção foi a inclusão de admissões no setor público feita por algumas unidades da federação já neste mês de fevereiro, quando as próprias notas explicativas do ME sobre a nova metodologia previam esta inclusão somente para o segundo semestre deste ano.
Se não bastassem as notificações excessivas nas admissões, há neste momento uma subnotificação nas demissões, pois muitas empresas estão encerrando suas atividades, abatidas pela crise econômica, e simplesmente deixam de prestar essas informações para o ME.
Vale a pena, por fim, observar a enorme discrepância entre os dados divulgados pelo Caged e a PNAD Contínua – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios feita pelo IBGE. De acordo com a PNAD Contínua, a taxa de desemprego registrada no trimestre encerrado em janeiro, de 14,2% (14,272 milhões de trabalhadores fora do mercado de trabalho), é a mais alta para o período desde o início da série histórica, em 2012.
Este número fica ainda mais dramático quando são considerados os trabalhadores desalentados, que deixaram de procurar emprego e hoje somam 5,902 milhões de brasileiros, além dos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, que totalizam mais 6,797 milhões de trabalhadores, e dos 76,377 milhões fora da força de trabalho.
O negacionismo, como está claro, prevalece na Economia assim como na Saúde, e é o réquiem da Verdade, mais uma das centenas de milhares de vítimas no Brasil de Bolsonaro.
Brizola Neto é ex-ministro do Trabalho e coordenador de Emprego e Renda da Prefeitura de Niterói
Paulo
16/04/2021 - 18h06
Não há erro no CAGED, que é mais exato que o IBGE, que trabalha por pesquisas e estatísticas. Falando com uma colega da Pasta, provavelmente, pelo que ela me afiançou, o que ocorre é que essas vagas, ainda que criadas no setor público, se forem celetistas, podem e devem entrar no cômputo das admissões, obviamente, além de a elas se somar o serviço de formiguinha dos servidores da Pasta na fiscalização de contratações de aprendizes e portadores de deficiência, fora o combate feroz à informalidade. E notem, até onde eu sei, o Governo falou em recorde de contratações, e não saldo, não deduzindo, portanto, as demissões…
Tony
16/04/2021 - 17h29
Se cada esquerdista linguarudo desse um emprego regular para um desempregado ao invés de falar asneiras o problema seria resolvido.