Falta de informações pelo governo tumultua pagamento do auxílio emergencial

Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal destaca, a exemplo de 2020, ausência de ampla e efetiva campanha de informação à sociedade. “Os atropelos do ano passado voltam a se repetir. E a culpa não é dos beneficiários”, observa Fenae. Consórcio do Nordeste, formado por todos os governadores da região, defende que governo descentralize pagamento do benefício. Bancários da Caixa contam rotina em agências e drama da população

Brasília, 13/04/2021 — O calendário de pagamentos do auxílio emergencial segue até o dia 22 de agosto. Nesta terça-feira (13), o crédito da primeira parcela do benefício — entre R$ 150, R$ 250 e R$ 375 — é para os nascidos em abril. Na quinta-feira (15), os valores serão pagos aos aniversariantes de maio e para as 236 mil pessoas que contestaram o auxílio negado e foram aprovadas. Saques em dinheiro só estarão disponíveis a partir de 4 de maio. De acordo com a direção da Caixa Econômica Federal, responsável pelos pagamentos, 95% das pessoas que têm comparecido às agências do banco tiveram o acesso ao aplicativo Caixa TEM bloqueado devido a trocas de linhas ou de aparelhos telefônicos.

“A exemplo de 2020, o governo novamente iniciou os pagamentos deste ano sem uma ampla e efetiva campanha de informação à sociedade, o que tem levado milhares de pessoas às unidades do banco em busca de esclarecimentos que poderiam ter sido feitos pelo governo antes da retomada do auxílio”, ressalta o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto. “Os atropelos do ano passado voltam a se repetir. E a culpa não é dos beneficiários que, pela falta de informações, precisam buscar solução para os problemas. Cheios de dúvidas, esses brasileiros vão até as agências, que podem acabar se transformando em focos de contaminação pelo coronavírus”, acrescenta.

Além de amplas e efetivas ações informativas à população, a Fenae sempre defendeu que o pagamento do auxílio emergencial fosse descentralizado para outros bancos. A Federação também entende que o benefício deveria ter sido mantido no valor de R$ 600 mensais, aprovado pelo Congresso Nacional, e até quando durassem os efeitos econômicos da pandemia.

GOVERNADORES PEDEM DESCENTRALIZAÇÃO — Entendimento semelhante têm os nove governadores que compõe o Consórcio do Nordeste. Na última semana, o governador do Piauí e presidente do colegiado, Wellington Dias, enviou ofícios aos ministérios da Fazenda e da Saúde para pedir mudanças na forma de concessão do auxílio. O pedido foi para que o governo federal descentralize o pagamento do benefício, incluindo mais bancos nesta operação, além da Caixa.

“Com o pagamento em mais agências, teremos menos filas. Inclusive, permitindo um agendamento em que se cumpra o protocolo garantindo as condições do distanciamento recomendado”, destacou Wellington Dias, que também voltou a insistir na retomada do valor do benefício para R$ 600, a exemplo de outros governadores.

Dias ainda defendeu a inclusão dos trabalhadores da Caixa no Programa Nacional de Imunização do SUS contra a covid-19. Segundo o governador, “o setor bancário foi considerado essencial” e as filas e aglomerações registradas em agência do banco elevam o risco de contaminação tanto pelos bancários como pelos beneficiários do auxílio.

DÉFICIT PIORA SITUAÇÃO — “Precisamos de mais funcionários. Senão, vamos ver repetir todas as dificuldades da primeira leva [de pagamentos] do auxílio, que gerou filas desumanas, colocando clientes em esperas absurdas de horas no sol, no frio, com fome, com sede, com vontade de ir ao banheiro e sem condições de sair para não perder o lugar na fila”, desabafa um caixa do banco público que trabalha em uma agência de Brasília e prefere não se identificar. Outro bancário, gerente em uma grande agência de São Paulo e que também fala em anonimato, emenda: “O prazer que tempos de cumprir o nosso papel social é único. Mas, é triste saber que a direção da empresa prefere direcionar sua estrutura para vender seguro e ações, bater metas e até incentivar o próprio empregado a participar da privatização da nossa empresa”.

Com um déficit que se aproxima de 20 mil empregados, a Caixa chegou a ter 101,5 mil trabalhadores em 2014 e atualmente conta com 84,2 mil. Conforme pontua o presidente da Fenae, das 7.704 contratações informadas pela direção do banco com o argumento de “reforço do quadro” para o pagamento do auxílio emergencial este ano, menos da metade (2.766) corresponde a concursados aprovados em 2014 e que ainda nem tomaram posse do cargo. O restante das vagas anunciadas pelo banco inclui 1.162 estagiários, 2.320 vigilantes e 1.456 recepcionistas. “Profissionais que não estarão nos caixas das agências, por exemplo, em que a demanda é enorme”, afirma Sergio Takemoto.

Informações sobre o auxílio podem ser obtidas pelo app Caixa TEM e, ainda, pelo telefone 111 e no site “auxilio.caixa.gov.br”. Por estes dois últimos canais, o banco informa que é possível consultar o andamento de novos pedidos ao benefício.

As mais de 200 mil pessoas que recentemente foram aprovadas para receber o auxílio emergencial terão o dinheiro creditado a partir desta quinta-feira (15). É o caso de trabalhadores que tinham carteira assinada em 2020, mas que perderam o emprego este ano. Já os beneficiários do Bolsa Família poderão consultar o valor do auxílio emergencial a que terão direito a partir de amanhã (14).

CONTESTAÇÃO — O prazo para contestação do resultado de pedidos para o novo auxílio terminou ontem (12) para quem teve a solicitação negada no último dia 2.

A Rede Brasileira de Renda Básica observa que a contestação não tem sido permitida para todos que foram considerados inelegíveis. “Basicamente, só é permitida para situações que dependem única e exclusivamente de uma atualização da base de dados do governo”, pontua a diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Oliveira.

De acordo com o “Movimento Renda Básica Que Queremos”, estima-se que o corte no orçamento para o novo auxílio emergencial excluirá um em cada quatro brasileiros que receberam o benefício ano passado. Isso representa 17 milhões de pessoas a menos na lista de pagamentos do auxílio, que, em 2020, foi pago a cerca de 68 milhões de brasileiros.

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