O Banco Central divulgou hoje os números do setor externo, relacionados às transações correntes (quanto dinheiro entra e quanto sai do Brasil, em dólares), investimento externo (quanto o mundo investe no Brasil e quanto o Brasil investe no exterior) e reservas internacionais (que é a poupança do governo brasileiro, em dólar).
Os principais números são esses:
- O déficit em transações correntes nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021 somou US$6,9 bilhões (0,48% do PIB), ante US$9,2 bilhões (0,64% do PIB) em janeiro de 2021 e US$55,7 bilhões (3,06% do PIB) em fevereiro de 2020. Ou seja, houve melhora substancial do nosso déficit em comparação a 2020. Essa melhora é enganosa, contudo, proque ela é o resultado do aumento das exportações de petróleo, soja e carnes para a China, somado a uma grande depressão no consumo das famílias brasileiras. É um número que reflete mais o bem estar dos chineses do que o nosso.
- A balança comercial de bens registrou superávit de US$430 milhões em fevereiro de 2021, ante saldo positivo de US$1,8 bilhão em fevereiro de 2020. Ou seja, o saldo caiu fortemente este ano, de maneira que a explicação para o déficit menor não é aumento de importação.
- O déficit na conta de serviços manteve a trajetória de retração e totalizou US$1,4 bilhão em fevereiro de 2021, recuo de 39,9% em relação a fevereiro de 2020, quando atingiu US$2,3 bilhões. A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$28 milhões em fevereiro de 2021, ante US$403 milhões em fevereiro de 2020, recuo de 93,0%. Aí está a explicação para a suposta melhora na conta das transações correntes. Os brasileiros reduziram drasticamente a compra de serviços estrangeiros, com ênfase na redução brutal das viagens de brasileiros ao exterior, por causa da pandemia. Ou seja, a conta corrente melhorou basicamente porque os brasileiros deixaram de viajar.
- Nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021, o Investinento Direto no País (IDP) totalizou US$39,8 bilhões (2,75% do PIB), ante US$33,4 bilhões (2,31% do PIB) no mês anterior e US$65,0 bilhões (3,57% do PIB) em fevereiro de 2020. Essa queda era inevitável, por causa da pandemia, que paralisou o mundo.
- As reservas internacionais atingiram US$356,1 bilhões em fevereiro de 2021, elevação de US$654 milhões em comparação a janeiro de 2021. Com o câmbio do dólar a R$ 5,7, esse valor corresponde a R$ 2 trilhões.
É um tanto chocante, todavia, constatar que o Banco Central do Brasil controla R$ 2 trilhões em reservas internacionais, um dinheiro que pertence ao povo brasileiro, no mesmo momento em que a fome retorna em grande escala para os lares brasileiros, e o governo oferece um auxílio emergencial inferior a R$ 200 por pessoa, para enfrentar a maior crise social do século.
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Um breve comentário econômico.
O Brasil vive, há muitas décadas, o seguinte dilema, denunciado tantas vezes por Celso Furtado. Sempre que o poder aquisitivo da população melhora, o nosso déficit em conta corrente aumenta, pela razão simples de que nosso setor produtivo não atende todas as necessidades do povo, e temos que importar uma grande quantidade de coisas.
O fato de precisarmos importar aquilo que não produzimos no país, em si é normal e inevitável. Todos os países importam.
O problema do Brasil, como em tantas coisas, é a proporção disso. A gente acaba importando mais do que a nossa economia suporta, e as transações correntes se tornam deficitárias demais, gerando uma série de consequências negativas para o país como um todo.
Entretanto, quando o poder aquisitivo da população se reduz, acontece o contrário. Importamos menos e exportamos mais, o que melhora a nossa balança comercial. Isso não é de todo o ruim, porque é a prova de que temos soluções econômicas para nossos dilemas, desde que tivéssemos um projeto de desenvolvimento que transferisse parte das divisas obtidas nos momentos de bonança para investimentos produtivos, de maneira a evitar que, na próxima virada do ciclo, ou seja, quando voltássemos a melhorar o poder aquisitivo das pessoas, o déficit não fosse tão elevado.
Abaixo, a íntegra do informe divulgado hoje pelo Banco Central:
Estatísticas do setor externo
1. Balanço de pagamentos
O déficit em transações correntes totalizou US$2,3 bilhões em fevereiro de 2021, ante déficit de US$4,7 bilhões em fevereiro de 2020. A redução no déficit decorreu das retrações de US$2,7 bilhões e de US$0,9 bilhão nas despesas líquidas de renda primária e de serviços, respectivamente, enquanto o superávit comercial recuou US$1,3 bilhão. O déficit em transações correntes nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021 somou US$6,9 bilhões (0,48% do PIB), ante US$9,2 bilhões (0,64% do PIB) em janeiro de 2021 e US$55,7 bilhões (3,06% do PIB) em fevereiro de 2020.
A balança comercial de bens registrou superávit de US$430 milhões em fevereiro de 2021, ante saldo positivo de US$1,8 bilhão em fevereiro de 2020. As exportações de bens totalizaram US$16,3 bilhões em fevereiro de 2021, aumento de 4,3% ante fevereiro de 2020. As importações de bens totalizaram US$15,9 bilhões, incremento de 14,5% na mesma base de comparação. Estima-se, para fevereiro de 2021, em US$1,6 bilhão as importações de bens no âmbito do Repetro, ante US$565 milhões em fevereiro de 2020. Desconsiderando essas operações, o crescimento das importações na comparação interanual reduziu-se à metade, 7,2%.
O déficit na conta de serviços manteve a trajetória de retração e totalizou US$1,4 bilhão em fevereiro de 2021, recuo de 39,9% em relação a fevereiro de 2020, quando atingiu US$2,3 bilhões. A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$28 milhões em fevereiro de 2021, ante US$403 milhões em fevereiro de 2020, recuo de 93,0%. Destaca-se também, na mesma base de comparação, a redução de 54,2% nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, de US$1,2 bilhão para US$555 milhões, influenciada pela nacionalização de equipamentos no âmbito do Repetro. A conta de transportes apresentou despesas líquidas de US$227 milhões, ante US$410 milhões em fevereiro de 2020. A conta de serviços de propriedade intelectual registrou aumento das despesas líquidas, de US$291 milhões em fevereiro de 2020, para US$561 milhões em fevereiro de 2021.
Em fevereiro de 2021, o déficit em renda primária recuou 61,3% em relação a fevereiro de 2020 e totalizou US$1,7 bilhão. As despesas líquidas de lucros e dividendos diminuíram para US$315 milhões, ante US$2,9 bilhões em fevereiro de 2020. A redução decorreu principalmente do aumento de US$2,3 bilhões nas receitas, impulsionado pela reversão do prejuízo de US$696 milhões em fevereiro de 2020 para lucro de US$1,6 bilhão em fevereiro de 2021. As despesas líquidas com juros somaram US$1,4 bilhão no mês, retração de 1,6% na comparação com fevereiro de 2020, com recuo das receitas e das despesas.
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$9,0 bilhões em fevereiro de 2021, ante US$2,6 bilhões observados em fevereiro de 2020. Houve ingressos líquidos de US$3,1 bilhões em participação no capital e de US$5,9 bilhões em operações intercompanhia. Nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021, o IDP totalizou US$39,8 bilhões (2,75% do PIB), ante US$33,4 bilhões (2,31% do PIB) no mês anterior e US$65,0 bilhões (3,57% do PIB) em fevereiro de 2020.
Em fevereiro de 2021, os investimentos diretos no exterior (IDE) apresentaram aplicações líquidas de US$1,7 bilhão. Nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021, entretanto, o IDE totalizou regressos líquidos (desinvestimentos) de US$14,6 bilhões.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram ingressos líquidos pelo nono mês consecutivo, somando US$3,6 bilhões em fevereiro de 2021, dos quais US$822 milhões em ações e fundos de investimento e US$2,8 bilhões em títulos de dívida. Nos doze meses encerrados em fevereiro de 2021, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$3,2 bilhões, primeiro valor positivo (para o acumulado em doze meses) desde julho de 2018.
2. Reservas internacionais
As reservas internacionais atingiram US$356,1 bilhões em fevereiro de 2021, elevação de US$654 milhões em comparação a janeiro de 2021. Houve US$2,6 bilhões em retornos líquidos em linhas com recompra e a receita de juros atingiu US$351 milhões. As variações por preço e por paridades contribuíram para reduzir o estoque, respectivamente, em US$1,9 bilhão e US$315 milhões.
Edibar
26/03/2021 - 19h21
Ridícula a afirmação de q o dinheiro do governo pertença ao povo. Besteira. O dinheiro meu é aquele q esta em MEU nome, em MINHA posse. O dinheiro do governo, ou do Estado, é do Estado. A mesma coisa vale para empresas e para todas as pessoas. Ter noção clara disso é fundamental.
Francisco
26/03/2021 - 14h47
O partido “mais corrupto da história da humanidade”, que recebeu do governo ‘quebra-quebra’ de FHC, em 2003, um saldo de Reservas referente a um resto do empréstimo feito pelo FMI na última quebra do Brasil, não apenas pagou esse empréstimo ao FMI deixando de ser devedor, como passou a credor e acumulou nos anos seguintes em seus “corruptos governos” de Lula e Dilma, US$ 375 bilhões em ‘Reservas Internacionais’, sendo acumulados mais US$11 bilhões pelo golpista Temer, totalizando em torno de US$386 bilhões passados ao tragédia anunciada, eleito para desgovernar o Brasil, em 2018, após o golpe de 2016, sendo que após 2 anos e três meses de desgoverno reduziu as mesmas em US$30 bilhões, com o Brasil tendo hoje US$356 bilhões em Reservas.
Que permitiram ao Brasil não quebrar nas mãos desse incompetente desgovernante, graças as reservas acumulados pelos governos do partido “mais corrupto da história da humanidade”.
É isso aí:
“Lula Ladrão” e “PT Nunca Mais”, com o Brasil atolado no brejo desde 2015, com Moro e lava jato desmascarados na perseguição a Lula e com a justiça paulista, ontem, sem maior divulgação pela mídia golpista, dando ganho de causa a falecida Marisa Leticia, pela desistência da unidade no prédio do Triplex, com que condenaram Lula, estabelecendo que a OAS deve devolver o dinheiro pago em função de Marisa ter desistido do imóvel, chutando às calendas a horrorosa jabuticaba morista do Bem ATRIBUÍDO, inventada para justificar a sentença que o condenou, juntamente com o ato de ofício INDETERMINADO.
gutierritos sp
13/04/2021 - 12h43
Francisco, perfeito seu comentário.
A grande maioria de nosso povo ainda desconhece a exitência de reservas em dólar de nosso País, que dá sustentáculo para investimentos estrangeiros, foi legado pela administração da esquerda e da centro-esquerda, com auxílio de partidos do centro. Nunca da direita e máxime da extrema direitila. As reservas devem ser utilizadas, neste momento, basicamente para salvar o povo brasileiro, nesta guerra contra a pandemia do coronavírus.
Veja que apenas, por exemplo, 30 bilhões de dólares, transformado em real, rendem, de imediato, por volta de 160 bilhões de reais, suficiente para cobrir as despesas de um auxílio emergencial, muito mais compatível com as necessidades existente, com a fome no seio de nossa população mais empobrecida. Era o mínimo que poderíamos estar fazendo.
Mencionei isto a muitos pessoas que, fantasticamente, riram, dizendo que Lula e Dilma quebraram o País e agora a situação era tenebrosa por isto
A ignorância é o nosso maior inimigo. Só a educação pode nos salvar.
Bruno
05/08/2021 - 14h48
Francisco, você não entende nada de política, só é um comunista desprovido de conhecimentos. O PT, só para elucidar, o pt pagou o FMI, emitindo dívida pública pagando juros mais do que o dobro do juro cobrado pelo FMI, aumentando brutalmente nossa dívida pública. Concordo em vender uns 25% das reservas para diminuir a dívida pública ou investir(corretamente), no desenvolvimento das nossas indústrias e infra estrutura de nosso país. Vender toda reserva, não é tão simples assim, pois existem vários fatores a se observar. Procure se informar melhor.