O lero-lero acabou. O que nós precisamos é de um estado maior de defesa do Brasil. Porque depois de uma pandemia sem controle e de um colapso sanitário você tem um colapso funerário. Você não consegue dar conta dos mortos. (…) Infecções bacterianas secundárias começam a surgir. O lençol freático é contaminado, os alimentos são contaminados. Aconteceu em 1918 na Índia, 20 milhões morreram na Índia. Aconteceu em Nova York em 1918. (…) Filadélfia a mesma coisa. Quando você tem um colapso desse nível não tem volta. O colapso social se segue. O colapso econômico é completo. (…) As perdas econômicas em decorrência da falta do controle da pandemia no Brasil vão ser muito maiores do que qualquer perda que um lockdown bem feito no país poderia criar nesse momento. Porque a geopolítica da pandemia vai colocar o Brasil como pária mundial. (…) O Brasil vai colapsar em todas as dimensões do país se a gente não fizer o que tem que ser feito.
Essa fala do cientista Miguel Nicolelis (veja aqui) demonstra o tamanho do buraco em que nos metemos. Mas como distopia pouca é bobagem, bolsonaristas tresloucados seguem protestando pelas ruas de várias cidades do país, aglomerados e sem máscara, pelo direito de serem contaminados e de contaminarem, pela liberdade para matarem e morrerem.
Tudo isto é macabra obra do presidente da República, o senhor Jair Bolsonaro; o que me leva a ser um pouco cético quanto ao burburinho em torno da queda do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Se o que estiver ocorrendo for mesmo uma tentativa de mudança na política do governo federal em relação à pandemia, por conta do estrago na imagem presidencial que uma montanha de mortos pode produzir, é evidente que deve-se sim pressionar pela queda de Pazuello e pala nomeação de alguém que respeite os protocolos seguidos na esmagadora maioria de países do globo.
O que não se pode fazer é dar um respiro a Bolsonaro por conta dessa eventual mudança. Lembremos que Pazuello só foi nomeado porque os ministros anteriores se recusaram a seguir as ordens bizarras do presidente – como a de receitar cloroquina à população indiscriminadamente. Pazuello sequer é da área médica (é “”especialista em logística””) e só está neste cargo crucial porque é subserviente a Bolsonaro. “Um manda, o outro obedece”, declarou o ainda ministro alguns meses atrás.
Pazuello é, portanto, como um dos generais de Hitler: ele é, sim, culpado pelas mortes aos borbotões que o Brasil chora todos os dias, mas não é o mentor. O chefe dos genocidas, o genocida-mor chama-se Jair Bolsonaro. E ele precisa ser retirado do seu cargo para ontem.
Os mecanismos para tanto não importam nesse momento. Qualquer um serve. Um impeachment é demorado, mas o afastamento do cargo que acontece no meio do processo é mais rápido. Uma declaração de interdição por parte do Judiciário, apesar de problemática em alguns aspectos, seria uma grande notícia. No meio de uma tragédia humanitária desta monta as formalidades legais, que são importantes, é claro, se tornam secundárias. Qualquer coisa que pare o homicídio em massa que o presidente eleito(!) está cometendo é muito bem vinda.
Porque é urgente que se faça o que os cientistas clamam: lockdown radical. E para tanto o governo federal precisa dar um auxílio emergencial decente, que permita aos trabalhadores e pequenos empresários ficarem em suas casas pelo tempo necessário. Qualquer coisa diferente disso é contribuir para o genocídio.
500 mil mortos oficiais já não é uma previsão delirante. Some-se a este número o de mortos não oficiais (provavelmente alto, já que testamos muito pouco) e o de casos graves que não estão sendo atendidas nos hospitais por causa do colapso do sistema de saúde (e por isso vão à óbito) e chegamos a quantas vidas perdidas?
Bolsonaro precisa sair porque o desastre aumenta de tamanho em progressão geométrica. E o poço pode ser muito mais fundo e tenebroso do que podemos imaginar, caso se confirme a previsão do Miguel Nicolelis. Mortos nas casas, nas ruas, contaminação dos lençóis freáticos, dos alimentos. Se isso realmente acontecer, quantos mortos teremos?
Vamos pagar para ver? Os senhores congressistas, os ministros do STF, a grande imprensa, todos os que têm poder e influência mas continuam lavando as mãos, vão se manter omissos até quando? Até termos 1 milhão de mortos, 10 milhões, quem sabe 20 como na Índia em 1918?
Bolsonaro escolheu o seu caminho de morte e destruição e, por isso, já merece há tempos o apelido de Hitler Tropical. Deixá-lo livre para alcançar/ultrapassar o führer em número de mortos é, contudo, um caminho que ainda podemos evitar.
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Atualização, em 15/03/21: A médica Ludhmila Hajjar anunciou que não assumirá o Ministério da Saúde por “falta de convergência” com o presidente Bolsonaro (ela defende o lockdown e desautoriza o embuste do tratamento precoce). Ludhmila afirmou que desde que passou a ser cotada para o cargo vem sofrendo ameaças, inclusive duas tentativas de invasão ao hotel em que estava hospedada.
dcruz
15/03/2021 - 12h29
Breier, o que você escreveu é assustador, mais ainda quando retrata a pura realidade vigente. Macabro.
Mas o que assusta acima de tudo e dá a sensação de frustração absoluta é esse imutável núcleo de bovídeos que continua a dar popularidade a esse genocida. Isso sim é mais aterrador ainda.
Pedro Breier
15/03/2021 - 14h23
Pois é, Darcy! A ministra que poderia ser nomeada já divulgou que não vai aceitar o cargo e que sofreu ameaças, inclusive tentativa de invasão do hotel em que está hospedada. Aterrador mesmo.
EdsonLuiz.
15/03/2021 - 12h18
O senhor Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuelo, precisa marcar com urgência um atendimento no SUS para si próprio e se submeter a um implante de intestino, porque não está fazendo bosta nenhuma.
O seu “”especialista em logística”” para ele foi perfeitamente pertinente: o General Eduardo Pazuelo especialista em logística não existe.
E quanto mais a tragédia sanitária e logística aumenta, quanto mais falta vacina e ministro da saúde, mais ele vai se tornando “”””” “” “especialista em logística” “” “””.
Pede pra sair Pazú
15/03/2021 - 10h20
Comparar esse asno a Hitler é uma afronta ao alemão.
enganado
15/03/2021 - 09h13
6.157 oficiais da ativa e da reserva que ocupam postos-chave em vários níveis do governo. Segundo dados extraoficiais, são 4.450 do Exército, 3.920 da Aeronáutica e 76 da Marinha que ocupam postos governamentais
Aliás, não existe caso mais exemplar do fracasso desta crença na superioridade do juízo militar do que o que se passou com o próprio ex-Comandante em Chefe das Forças Armadas brasileiras que, autoconvencido de sua “genialidade estratégica” e de sua grande “sabedoria moral”, decidiu avalizar em nome das FFFA, e tutelar pessoalmente a operação que levou à presidência do país um psicopata agressivo, tosco e desprezível, cercado por um bando de patifes sem nenhum princípio moral, e de verdadeiros bufões ideológicos, que em conjunto fazem de conta que governam Brasil, há dois anos. Que sirva de exemplo para que não se repitam estas pessoas.
Muito obrigado MERDANHA viDDa$$$ bôa$$$ !!!!!
Pedro Breier
15/03/2021 - 09h20
Né!