O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) anunciou sua saída do DEM após o escândalo público com o presidente Nacional da legenda, ACM Neto, por causa das traições na eleição para Presidência da Câmara.
“Vou me filiar ao MDB. Já está decidido”, disse na Veja.
Para não perder o mandato, Maia pediu autorização ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que ainda vai decidir sobre o pedido.
EdsonLuiz.
15/03/2021 - 02h39
Entender a política brasileira é difícil.
Entender o político brasileiro é mais difícil ainda.
A formação política de Rodrigo Maia é estupenda desde o berço, os tempos e a geografia. Seu pai, Cézar Maia, fugindo do golpe de 1964 no Brasil, no Chile teve rediviva a experiência da ditadura no exílio. Na volta de César Maia do exílio, Rodrigo veio para o Brasil com Cézar ocupando o palco central da abertura política e reconstrução democrática. E para refletir sobre a experiência efervescente que viveu, ele tem a profissão que mais obriga o acompanhamento da realidade material e social das pessoas e da sociedade, determinada pela escassez, e que por isto de fato educa para a política, para a democracia e para o progressismo – Rodrigo Maia é economista, a mesma profissão do pai (eu me lembro, em 1984, de uma palestra do pai de Rodrigo no curso. César Maia em pessoa respondendo pacientemente a perguntas de estudantes. Eu apenas perguntei: Senhor Cézar Maia, como o senhor trabalha como economista. E o início da resposta de Cézar Maia foi, descontados os enganos da memória: ” Eu leio jornais. É assim que eu começo o meu dia de trabalho como economista. Eu me sento para tomar café da manhã e começo. Leio um, leio outro, leio outro. É assim que eu começo o meu dia de trabalho como economista, começo o dia lendo jornais”.
O dia da palestra de Cézar Maia foi uma sexta-feira, que nós gaiatamente chamávamos de sexta básica e após as aulas nos embriagávamos de bebidas baratas. Embriagados, discutíamos e decidíamos o mundo como pequenos deuses ungidos que ensinaríam a todos o caminho do céu. Não seríamos os guias de todos por sermos presunçosos não, imagina? Nós não éramos presunçosos, nem prepotentes, nem autoritários, nem disfóricos, não éramos nada disto. Nós seríamos os guias da transformação do mundo porque éramos meninos; e meninos não precisam estar certos, meninos precisam estar vivos. Meninos precisam acreditar, desejar, querer. E depois, quando não forem mais meninos, precisam ainda terem dentro, bagunceiros e livres, o menino que foram. Mas ser adulto é outra realidade. Como economista então, nada pode sobrar de fantasioso. Cabe ao velho menino que vive no economista garantir que ele tenha sonhos juvenis de transformação da realidade material e social, mas tem que ser sonhos lúcidos.
“A profissão de economista obriga a apreensão correta da realidade”, foi esta a conclusão dos debates ébrios e juvenis daquela sexta- fei…básica, conclusão a que chegamos a partir das respostas de César Maia é de que o mais importante era estar bem informado sobre o mundo. Recordando agora, foi uma conclusão bem adulta, a nossa. É a realidade material social e cultural o objeto de trabalho do economista. Economia é essa realidade decifrada em números e/ou por números, mas aplicados a pessoas e a suas expectativas, desejos e, principalmente, necessidades. Economia é a ciência da escassez e como isso impacta a sociedade e as pessoas, como impacta o mercado. O economista pode ser militante de partido político e economista, mas não pode ser as duas coisas juntas; pode ter ideologia, e é natural que tenha, mas não pode ideologizar seu trabalho. O economista vai pensar a realidade ‘a partir de sua visão de mundo’, mas não pode pensar a realidade ‘como a sua visão’. A sua visão não é a realidade. Fazer a realidade caber em suas preferências só vai servir para falsificar a realidade, e seu autoengano terá consequências demoradas e contra milhões.
Rodrigo Maia desde menino sabe de tudo isto. Rodrigo Maia tem uma consistente história de gente. É com essa bagagem que Rodrigo Maia sempre serviu de muro contra a captura do Estado por empresários e políticos espertalhões, trabalhou para avanços institucionais e barrou ameaças a retrocessos civilizatórios no Parlamento. E sempre fez isto a custo de desgastes e perda de votos dos nichos (mal) intencionados. Rodrigo foi, durante os dois primeiros anos de mandato do presidente bolsonaro, o muro que impediu no congresso as consequências de tanta insanidade do presidente. Teria sido mais proveitoso eleitoralmente aderir a bolsonaro. Rodrigo pagou e paga o preço de resistir. E sem precisar ser do contra quando sabia de propostas que precisavam ser aprovadas. Em outros tempos já impedia tudo isto e, sempre que pôde, impediu a aprovação de políticas populistas na economia, arranjando mais inimigos e perdendo votos, mas bancando a lucidez consistente de sua formação. Tudo dentro do que podia e construindo dentro dos limites que lhe eram impostos dentro de um parlamento e de uma sociedade extremamente corporativa e atrasada. O adulto bem preparado bancava a lucidez necessária para o país não desandar de vez.
Rodrigo sempre teve um perfil progressista e esse seu perfil progressista foi fundamental nestes últimos dois anos terríveis de nossa história. Mas também sempre esteve nas derivações do PFL/DEM, que lhe impunham maiores limites. Agora, quando eu tinha certeza que Rodrigo faria o encontro de sua índole e formação progressista com uma força também progressista e, no mínimo, trabalharia pelo embrião de um partido coerentemente de Centro-Direita que o Brasil não tem, Rodrigo Maia se desvencilha do atraso do Partido DEM e anuncia sua filiação ao… PMDB.
Vai entender!
Tem um adulto maravilhoso morando dentro de Rodrigo Maia, mas lhe falta o velho menino para merolhar-lhe os sonhos.
edsonmaverick@yahoo.com.br
EdsonLuiz.
15/03/2021 - 02h48
Agora, eu vou tomar um banho e melhorar o meu sonho.
Boa noite!