É um pouco cansativo repetir isso, mas pesquisa não reflete a realidade, que é sempre complexa e dinâmica demais para ser capturada por entrevistas que correspondem a percentuais ridículos do eleitorado. Ela apenas oferece elementos para o debate. Temos de analisá-las sem paixão.
Hoje, sexta-feira 12 de março, foi divulgada mais uma pesquisa eleitoral para as eleições de 2022, encomendada pela revista Exame ao instituto Ideia. Ela foi realizada com mil pessoas entre os dias 10 e 11 de março, e pegou, portanto, uma parte da repercussão da decisão do STF de anular os processos de Lula, ocorrida no dia 8, e da coletiva do ex-presidente, no dia 10.
Link da pesquisa completa.
Fizemos um gráfico com o cenário mais completo da pesquisa, com presença de todos os candidatos mais expressivos, incluindo Moro, Huck, Ciro, Doria, Lula, e Bolsonaro.
As ondas provocadas pela decisão do STF de restituir os direitos políticos de Lula ainda estão mexendo as águas da lagoa política, e os números podem mudar muito nos próximos meses, conforme a temperatura se elevar.
Mas hoje o cenário é esse: Bolsonaro segue firme na liderança no primeiro e no segundo turno. No primeiro turno, ele inclusive recuperou cinco pontos desde dezembro, e hoje lidera com 33% das intenções de voto.
Lula experimentou uma oscilação positiva de dois pontos, de dezembro para cá, de maneira que o novo fato político, a decisão de Fachin, acentuou, como previram muitos analisats, a polarização entre os dois principais atores políticos do momento: Bolsonaro e Lula.
Os votos em ambos somam hoje 51% do eleitorado total. Em dezembro, os dois postulantes capturavam as intenções de 44% dos entrevistados na pesquisa.
Entretanto, outros dados da pesquisa, paradoxalmente, oferecem perspectivas contra a polarização. Foi feita a pergunta, por exemplo, se o entrevistado “gostaria que o próximo presidente não fosse nem o Lula nem o Bolsonaro”, e o principal bloco de entrevistados, ou 38%, respondeu “concordo”. Outros 33% discordaram, 24% responderam que nem concordam nem discordam e 5% disseram não saber.
Esses 38% representam aí, portanto, a principal margem de manobra para os candidatos de “centro”, aí incluídos tanto a centro-direita, como Luciano Huck, Sergio Moro e Dória, como a centro-esquerda, como Ciro Gomes.
A pesquisa traz ainda um gráfico que parece positivo para a oposição a primeira vista, mas não é. Trata-se da pergunta se o presidente Bolsonaro merece ser reeleito: 48% responderam que não; mas 42% responderam que sim, que ele merece ser reeleito. Esses 42% é o problema, porque eles mostram que Bolsonaro ainda tem uma imagem resiliente, ou seja, ainda é distante a perspectiva de um “colapso” de sua candidatura.
A rejeição aos candidatos oferece sempre uma armadilha ao analista. É normal que os principais postulantes, num ambiente de polarização, tenham rejeição superior aos demais, pois os eleitores de um pólo tendem a rejeitar o pólo contário.
Mesmo assim, não é evidentemente muito promissor para Lula que ele apresente rejeição superior a Bolsonaro, sendo Bolsonaro quem ele é. Mas o ex-presidente acabou de tirar um peso grande de suas costas, e ganhou margem de manobra para melhorar sua imagem a partir de agora, ao passo que Bolsonaro é telhado de vidro e precisa mostrar serviço na luta contra a pandemia e seus efeitos econômicos – coisa que ele não tem feito até o momento.
Quanto a opinião sobre a anulação das condenações do ex-presidente, o desafio é maior para Lula. Segundo a pesquisa, uma maioria bastante sólida, de 54%, deu uma resposta negativa para o ex-presidente, ou seja, confessaram que ainda acreditam em sua culpabilidade, pois acharam “injusta” a decisão do STF que anulou seus processos. Outros 33% responderam que acharam “justa”.
Mas esses números também não são de todo ruins para Lula, ao menos como ponto-de-partida, porque se ele tem 18% de intenções de voto, mas 33% consideram que a anulação de seus processos foi justa, isso significa que ele tem potencial para conquistar os votos de todos esses 33%. Esses 33% dificilmente são eleitores de Bolsonaro.
O aspecto negativo, todavia, é que Bolsonaro tem a sua disposição os 54% dos eleitores que ainda acreditam na culpa de Lula.
Outro gráfico importante para o PT analisar segue abaixo, trazendo a pergunta sobre se o ex-presidente Lula “merece voltar a ser presidente”. Um total de 32% responderam que sim. Esse número é muito positivo, pois confirma aqueles 33% que disseram concordar com a decisão do STF. São perspectivas boas sobretudo para o primeiro turno.
Por outro lado, 46% responderam que não, que Lula não merece voltar a ser presidente, o que poderia representar um grande perigo no segundo turno, caso não tivéssemos visto que um percentual ainda maior, de 48%, é contrário à reeleição de Bolsonaro. Mesmo assim, é um cenário tenso, de polarização aguda, cheio de riscos e perigos.
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A pesquisa traz ainda vários cenários de primeiro turno. Já vimos um deles acima, com todos os candidatos.
Vamos olhar o cenário abaixo, sem Moro e sem Huck.
Bolsonaro lidera isoladamente, com 34% das intenções de voto. Se somarmos os 7% de João Doria, temos 41% de votos pela direita.
Lula, por sua vez, tem 22%, Ciro, 11%, e Boulos 6%. Se somarmos os votos desses três, teríamos 39%, o que sinaliza uma polarização bastante equilibrada entre direita e esquerda.
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A pesquisa também traz cenários de segundo turno. Neles, o presidente Bolsonaro ainda tem vantagem expressiva, de 7 pontos contra Lula, de 9 pontos contra Ciro, 9 pontos contra Huck e… 21 pontos contra Doria. Esse desempenho sofrível de Doria num eventual segundo turno contra Bolsonaro certamente não ajuda a vê-lo como um adversário perigoso do presidente.
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Conclusão
A pesquisa nem apura mais as intenções de voto em Fernando Haddad, o que revela a impressão crescente de que o candidato do PT será Lula e ponto final.
Lula tem um ponto-de-partida alto. Por essa pesquisa, ele tem cerca de 33% de potencial de voto, que é o percentual dos eleitores que não acreditam em sua culpabilidade.
Ciro Gomes é uma incógnita. A entrada de Lula, em tese, o deixaria fora do jogo, mas ele permanece com seus 10% a 11% dos votos totais, e pode vir a se beneficiar do voto nem-nem, ou seja, do eleitor que não deseja nem Bolsonaro nem Lula. Este eleitor é o que poderíamos chamar de centro, e é em torno dele que se travará a grande batalha de 2022. O eleitor de centro pode recolocar Ciro no jogo, pode dar uma vitória esmagadora a Lula, ou pode dar uma vitória igualmente expressiva a Bolsonaro.
Sergio Moro, Doria e Huck estão meio que fora do jogo, ao menos por enquanto.
Moro porque agora está na linha de tiro, sob ataque cerrado de ministros influentes do STF, setores cada vez mais numerosos mídia, toda a esquerda (a começar por Lula, que não esconde seu desejo de retaliar o ex-juiz por todo o dano que lhe causou), e agora também o bolsonarismo, que conseguiu pespegar em Moro a pecha de traidor.
As projeções do desempenho sofrível de Doria no segundo turno confirmam a dificuldade do governador de São Paulo de obter votos fora de seu estado.
Huck é o que teria um pouco mais de chance. Assim como Ciro, ele poderia receber os votos nem-nem (nem Bolsonaro nem Lula) e do centro. Mas o seu tempo está se esgotando.
Ricardo JC
12/03/2021 - 15h06
Eu prefiro olhar de outra maneira…hoje, menos de 1/3 dos eleitores (somando todos os outros, temos 24%, que ´menos do que a metade da soma de Lula e Bolsonaro, que dá 54%) estão dispostos a votar em um candidato que não seja Lula ou Bolsonaro. Acho que a polarização ainda vai se acentuar. Quanto ao suposto “centro”, vou repetir o que sempre falo para os meus filhos…não existe “centro” no Brasil. Isso é conversa para boi dormir…
Batista
12/03/2021 - 12h53
“Se a canoa não virar,
Olê olê, olê olá,
Eu chego lá…
Rema, rema, rema, remador…
Kleiton
12/03/2021 - 12h53
Sei Moro for declarado imparcial por ter condenado Lula vai ganhar mais votos em vez de perder…kkkkkkkk
Os brasileiros sabem muito bem das porcarias que Lula fez junto ao PT e comparsas; também sabem que são manobras políticas do STF para tentar por um contrapeso na balança das próxima eleições pois Bolsonaro não tem minimamente viáveis.
Kleiton
12/03/2021 - 13h29
“rivais” minimamente viáveis.