O IBGE divulgou hoje os números do emprego para o último trimestre de 2020, e o quadro é dramático.
O ano passado terminou com a maior taxa de desemprego da história brasileira recente, para o mesmo período, 13,9%. A maior taxa da série histórica, até então, foi registrada em dezembro de 2016, quando chegou a 12%.
A principal causa dessa situação foi a pandemia, naturalmente, mas a incompetência e inação do governo federal também teve uma participação determinante.
Países que combateram a pandemia com mais eficiência, como China e Coreia do Sul, conseguiram atravessar o ano de 2020 sem o registro de impacto significativo no mercado de trabalho.
Tirando algumas economias destruídas do continente africano, o nível de desemprego no Brasil é ultrapassado apenas por Tunísia, Grécia e Espanha. No caso da Espanha, é uma social democracia europeia de 47 milhões de pessoas, com generosos programas de proteção social, o que ameniza um bocado o impacto do desemprego em relação a fatores como segurança alimentar e moradia. Tunísia e Grécia tem cerca de 11 milhões de habitantes cada.
Mas temos índices piores que o de países que enfrentaram terríveis tragédias recentemente, como Síria, Haiti e Iraque.
No caso da Coreia do Sul, a taxa de desemprego ao final de dezembro de 2020 ficou em 4,6%.
Na Alemanha, o desemprego ao final de dezembro ficou em 5,9%.
Nos Estados Unidos, que foi o país desenvolvido mais atingido pela pandemia, os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho, indicam um desemprego de 6,9% em outubro de 2020.
O desemprego na China chegou a bater 6,2% no auge da pandemia, mas vem recuando desde então, e fechou o ano passado em 5,2%.
No quadro abaixo, com detalhes sobre os indicadores do emprego, os números são impressionantes:
- no ano, houve destruição de 8,37 milhões de postos de trabalho, com a população ocupada caindo de 94,5 milhões em dezembro de 2019, para 86 milhões em dezembro de 2020.
- De 2019 a 2020, houve destruição de 5,6 milhões de empregos do setor privado.
- O único setor que não registrou variação negativa foi o setor estatal, que inclui militares e servidores estatutários.
- Mesmo entre trabalhadores por conta própria, houve destruição de 1,2 milhão dos postos de trabalho, mas com uma concentração grande entre aqueles sem CNPJ.
Desemprego recua para 13,9% no 4º tri, mas taxa média do ano é a maior desde 2012
26/02/2021 09h00 | Última Atualização: 26/02/2021 10h22
Agência IBGE — A taxa de desocupação caiu para 13,9% no quarto trimestre, depois de atingir 14,6% no trimestre anterior. Mesmo assim a taxa média de desocupação para o ano de 2020 foi de 13,5%, a maior desde 2012. Isso corresponde a cerca de 13,4 milhões de pessoas na fila por um trabalho no país. O resultado para o ano interrompe a queda na desocupação iniciada em 2018, quando ficou em 12,3%. Em 2019, o desemprego foi de 11,9%.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada hoje (26) pelo IBGE.
“No ano passado, houve uma piora nas condições do mercado de trabalho em decorrência da pandemia de Covid-19. A necessidade de medidas de distanciamento social para o controle da propagação do vírus paralisaram temporariamente algumas atividades econômicas, o que também influenciou na decisão das pessoas de procurarem trabalho. Com o relaxamento dessas medidas ao longo do ano, um maior contingente de pessoas voltou a buscar uma ocupação, pressionando o mercado de trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
No intervalo de um ano, a população ocupada reduziu 7,3 milhões de pessoas, chegando ao menor número da série anual. “Saímos da maior população ocupada da série, em 2019, com 93,4 milhões de pessoas, para 86,1 milhões em 2020. Ou seja, foi uma queda bastante acentuada e em um período muito curto, o que trouxe impactos significativos nos indicadores da pesquisa. Pela primeira vez na série anual, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada no país. Em 2020, o nível de ocupação foi de 49,4%”, acrescenta Beringuy.
Essa queda da ocupação foi disseminada por todos os trabalhadores. Em um ano, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) teve redução recorde, menos 2,6 milhões, um recuo de 7,8%, ficando em 30,6 milhões de pessoas. Os trabalhadores domésticos (5,1 milhões) diminuíram 19,2%, também a maior retração já registrada.
Houve redução de 1,5 milhão de pessoas entre os trabalhadores por conta própria, que somaram 22,7 milhões, uma retração de 6,2% em relação a 2019. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (9,7 milhões) caiu 16,5%, menos 1,9 milhão de pessoas. Até o total de empregadores recuou 8,5%, ficando em 4,0 milhões.
Já a taxa de informalidade passou de 41,1% em 2019 para 38,7% em 2020, o que representa 33,3 milhões pessoas sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores sem remuneração. Adriana lembra que os informais foram os primeiros atingidos pelos efeitos da pandemia, no ano passado.
Outro destaque foi a alta recorde no total de pessoas subutilizadas, que são aquelas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas ou na força de trabalho potencial. No ano, esse contingente chegou a 31,2 milhões, o maior da série, um aumento de 13,1% com mais 3,6 milhões de pessoas.
Os desalentados, que desistiram de procurar trabalho devido às condições estruturais do mercado, chegaram a 5,5 milhões de pessoas 2020, uma alta de 16,1% em relação ao ano anterior. É também o maior contingente da série anual da PNAD Contínua.
“Com os impactos econômicos da pandemia, muitas pessoas pararam de procurar trabalho por não encontrarem na localidade em que vivem ou por medo de se exporem ao vírus. Durante o ano de 2020, observamos que a população na força de trabalho potencial cresceu devido ao contexto. Esse processo causado pela pandemia, somado às dificuldades estruturais de inserção no mercado de trabalho, podem ter reforçado a sensação de desalento”, afirmou a analista da pesquisa.
Em um ano de perdas generalizadas na ocupação, a exceção entre as atividades foi a administração pública, que cresceu 1%, com mais 172 mil trabalhadores, impulsionada pelos segmentos de saúde e educação. Já construção fechou 2020 com perda de 12,5% na ocupação, seguido de comércio (9,6%) e indústria (8,0%). Os serviços também foram os mais afetados, com destaque para alojamento e alimentação (21,3%) e serviços domésticos (19,0%). Outros serviços reduziram 13,8% e transportes, 9,4%. Os menores percentuais ficaram com agricultura (2,5%) e informação e comunicação (2,6%), que, inclusive, interrompeu três anos seguidos de crescimento da ocupação.
Em 2020, o rendimento médio real dos trabalhadores foi de R$ 2.543, um crescimento de 4,7% em relação a 2019. Já a massa de rendimento real, que é soma de todos os rendimentos dos trabalhadores, atingiu R$ 213,4 bilhões, uma redução de 3,6% frente ao ano anterior.
Desocupação cai no quarto trimestre, após atingir maior patamar
No último trimestre de 2020, a taxa de desocupação caiu para 13,9%, depois de atingir 14,6% no terceiro trimestre, encerrado em setembro, o maior patamar já registrado na comparação trimestral. Apesar do recuo de 0,7 ponto percentual, o país ainda somava 13,9 milhões de pessoas sem trabalho. Segundo Adriana, essa reação do mercado de trabalho já era esperada.
“O recuo da taxa no fim do ano é um comportamento sazonal por conta do tradicional aumento das contratações temporárias e aumento das vendas do comércio. É interessante notar que mesmo num ano de pandemia, o mercado de trabalho mostrou essa reação.”, afirma a analista da pesquisa.
Os principais destaques, no período, foram o aumento de 10,8% no contingente de empregados sem carteira assinada que atingiu 10,0 milhões de pessoas, e o total de trabalhadores por conta própria, que avançou 6,8%, somando 23,3 milhões. Na mesma comparação com o trimestre anterior, empregados com carteira avançaram 1,8%, atingindo 29,9 milhões.
O percentual de trabalhadores informais também subiu de 38,4%, no terceiro de trimestre de 2020, para 39,5%, no quarto trimestre. Isso compreende 34,0 milhões de pessoas, um aumento de 2,4 milhões de trabalhadores na informalidade.
Esse resultado no trimestre foi puxado pelo aumento na ocupação em quase todos os grupos de atividades: agricultura (3,4%), indústria (3,1%), construção (5,2%), comércio (5,2%), alojamento e alimentação (6,5%), informação e comunicação (5,8%) outros serviços (5,9%), serviços domésticos (6,7%) e administração pública (2,9%). Apenas transporte ficou estável.