A informação consta no próprio relatório financeiro da estatal, divulgado hoje, com os resultados para o ano de 2020.
“A Petrobras é a maior pagadora de tributos do Brasil. Diante dos preços baixos do petróleo e da contração da demanda, pagamos R$ 129 bilhões ao governo em 2020, totalizando R$ 375 bilhões nos últimos dois anos.”
Ou seja, além de ter uma função estratégica, produzindo petróleo e derivados necessários para o funcionamento de nossa economia, a Petrobras também tem importância central para o próprio financiamento do Estado, na medida em que é, de longe, “a maior pagadora de tributos do Brasil”.
Eu separei algumas tabelas e gráficos divulgados hoje, para comentar.
O lucro líquido recorrente pago aos acionistas registrou uma alta de quase 800% no quarto trimestre.
No ano, o lucro líquido recorrente pago aos acionistas totalizou R$ 13,24 bilhões, queda de 64% sobre o ano anterior.
A tabela acima deixa claro a importância das refinarias para o caixa da Petrobras. Apenas a venda de diesel e gasolina geraram R$ 103 bilhões em 2020, enquanto a exportação de petróleo, mesmo batendo recorde histórico, gerou R$ 58 bilhões.
Então porque as últimas administrações da Petrobras demonstram tanta indiferença, e até mesmo hostilidade, a tudo que não é exploração e venda do petróleo bruto?
A tabela abaixo explica.
O segmento E&P (exploração e produção), que é exatamente aquele do petróleo bruto, deu lucro líquido à Petrobras, em 2020, de R$ 24 bilhões. O segmento de refino deu lucro de “apenas” R$ 703 milhões.
Entretanto, olhar apenas para o lucro de um bom ano é uma perigosa ilusão. O segmento de refino serve de garantia a Petrobras, pois em caso de queda dos preços do petróleo, os lucros serão transferidos quase todos para as refinarias, que comprarão a matéria-prima a baixo preço.
Em 2020, houve queda na importação de derivados, obviamente em função da Covid, que impôs uma drástica paralisação na circulação de bens e pessoas pelo país. Mas a partir da normalização da economia, o Brasil irá voltar a depender de importações de diesel e gasolina.
Em 2020, o Brasil refinou 1,82 mil barris por dia, o que representou um leve aumento de 2,8% sobre o ano anterior.
De qualquer forma, o fator de utilização do parque refinador em 2020 ficou em 79%, contra 77% em 2019. Ainda estamos longe, contudo, dos níveis de refino que tínhamos antes de 2013, quando chegamos a utilizar 94% do nosso parque.
Trouxe a tabela abaixo para aqui, para os leitores compararem os níveis de refino das principais empresas de petróleo no mundo. A Petrobras está em décimo segundo lugar.
O aumento da produção das refinarias chinesas, controladas pelo governo, é um fator impressionante.
A Exxon Mobil é a maior do mundo. É uma empresa privada americana, mas a sua consolidação no mundo talvez tenha significado mais despesas estatais, do governo americano, do que qualquer outra empresa pública, especialmente quando consideramos os gastos militares dos EUA.
Lamentavelmente, a Petrobras não parece interessada em ampliar seu parque de refino. O relatório menciona que a empresa se prepara para vender suas refinarias, além de Gaspetro e campos maduros de petróleo.
Em 2020, o investimento em refinarias caiu 35%.
Na tabela acima, vemos os projetos de exploração que entraram em funcionamento a partir deste ano. Até 2024, mais de 1,17 milhão de barris/dia serão acrescentados a Petrobras, o que significa que a nossa estatal irá escalar algumas posições no ranking das maiores empresas de petróleo do mundo.
Na tabela acima, uma informação preocupante é a redução drástica, de 20%, nas despesas com pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Sem investir em inovação, nenhuma empresa tem futuro.
woods
25/02/2021 - 00h31
E vai pagar até mais se for privatizada.