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Lenio Streck: O feio papel da TV Globo na “lava jato” e no caso propinoduto

Por Lenio Luiz Streck 1. As mensagens do Intercept-SpoofingO jurista Geraldo Prado postou em seu Twitter: “O fato da Globo não se interessar pelas revelações da Lava Jato, descortinada a partir da divulgação do The Intercept-BR, caracteriza obstrução do dever de noticiar que justifica a crença no envolvimento editorial nas práticas ilegais de investigação e […]

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Por Lenio Luiz Streck

1. As mensagens do Intercept-Spoofing
O jurista Geraldo Prado postou em seu Twitter:

“O fato da Globo não se interessar pelas revelações da Lava Jato, descortinada a partir da divulgação do The Intercept-BR, caracteriza obstrução do dever de noticiar que justifica a crença no envolvimento editorial nas práticas ilegais de investigação e processo que vieram à luz.”

Correto o querido Geraldinho. O silêncio eloquente da Globo mostra que as mensagens (agora liberadas pelo STF para a defesa do ex-presidente Lula — aliás, não entendi o voto do ministro Fachin, quem não se insurgiu contra o vazamento do caso Lula-Dilma) estão cutucando a onça. Como se diz, mutuca tira boi do mato. Por enquanto, o boi resiste. Bom, as Diretas Já (1984) são um exemplo: a Globo resistiu até o último momento. Porque apoiava o regime. Hoje, a Globo apoia o lavajatismo. Isso tem de ser dito. Por que é que dizer isso incomoda? Alguém nega que seja verdade?

Observe-se: a Globo silencia naquilo que um colunista do New York Times chama de “o maior escândalo judicial da humanidade“. Mais: quatro ex-presidentes da Associação Nacional dos Procuradores da República fizeram manifesto exigindo apuração dos atos da força-tarefa. Mas nada disso vira notícia, certo?

Portanto, é feio esse tipo de jornalismo seletivo. Onde estão as imagens do dinheiro jorrando por oleodutos? Agora, sugiro, poderiam mostrar milhares de mensagens afogando Moro e Deltan. Fica a sugestão para o setor de jornalismo da Vênus Platinada. Os fatos.

Também, pudera: uma das mensagens mostra o chefão da Globo em lauto regabofe (aqui) patrocinado por Joaquim Falcão, episódio que Deltinha (sic) conta com muita basófia em diálogos com seus companheiros. Ali foi feito o compromisso da emissora em fazer propaganda gratuita para o Projeto das Dez Medidas que estabelecia o uso de prova ilícita de boa-fé. Que sarcasmo do destino, não? Qualquer semelhança… a gente vê por aqui.

2. O caso Propinoduto-Silveirinha
Vejam como se pega um caso e o transforma em um cavalo de troia para vender outra coisa.

Explico: leio que o Supremo Tribunal Federal analisa nesta sexta-feira (12/2) um recurso extraordinário de réus do caso chamado de Propinoduto, que veio à tona em 2003, no Rio de Janeiro. O esquema revelou que fiscais da Fazenda estadual e da Receita Federal cobravam propinas de empresários e depositaram o dinheiro em contas na Suíça.

O total encontrado no banco suíço foi de US$ 33, 4 milhões, algo em torno de R$ 182 milhões atualmente.

Aí começa o imbróglio comunicativo. A Globo, e o seu “fantástico Fantástico”, aproveitou a onda do “combate à impunidade”, com seu tenentismo de microfone, e tentou tirar uma lasquinha, talvez para chorar pelo suicídio da “lava jato”, coisa que a emissora não engole. Que pauta bonita essa, contra a corrupção. Alguém é a favor da corrupção? Alguém é contra a pauta do combate à corrupção?

Pauta bonita. Péssima matéria. Onde os repórteres e o diretor de jornalismo estudaram? Na faculdade ensinam que uma reportagem se faz desse modo?

A reportagem preocupou-se em mostrar o principal protagonista, Silveirinha, hoje dirigindo táxi, mas morando em uma mansão (isso não ficou claro) e nem como ele poderia, dirigindo um táxi, viver assim. Porém, isso não importa para a reportagem. Imagem é tudo. Empirismo mequetrefe.

Teve até take da Suíça. Gastaram dinheiro para ouvir a repórter que está em Zurique. Que disse o quê? Platitudes. Ah, o banco que recebeu os depósitos foi vendido. E daí? Ah, disse também que se o crime prescrever no Brasil o dinheiro volta para Silveirinha et caterva.

E por aqui, no Rio, o repórter foi mais longe. Entrevistou a ex-mulher do protagonista. E aí veio a “bomba”: as duas filhas, que à época tinham cinco e oito anos, são acusadas como cúmplices. Como assim? E o repórter não mostra nada?

Uma defensora pública foi entrevistada, mas deram a ela, como sempre, oito a dez segundos. Para explicar por que as meninas sofriam com isso e não conseguiam fazer concursos publico etc. Digo eu, outra vez: como assim? Não existe MP? Vara de Menores? Criança e Adolescente? Defensoria? Quer dizer que, segundo a “esclarecedora” reportagem, o sistema judicial prejudicou duas crianças — agora moças — porque seu pai as colocou como beneficiárias em uma conta na Suíça? E isso fica por isso? E aí elas não podem fazer concurso? Só estocando comida nesse caos informativo.

E ninguém explicou mais nada para “nosotros”. Disseram que os advogados disseram que o dinheiro, mesmo em caso de prescrição (que é iminente), não voltaria para os autores do desfalque. OK, mas, assim? Isso é verdadeiro? Volta ou não volta? E se voltar, isso ficará assim? O repórter não foi checar a informação? Baita jornalismo…! Tiram o espectador para idiota. Bingo: criam idiotas.

Ah, sei. A reportagem era para fazer apenas espetáculo. Pois é. Viva Guy Debord. Ao fim e ao cabo, o que ficou foi a pauta principal — e esse era o busílis: a culpa da possibilidade de prescrição é porque não existe prisão em segundo grau. Está lançada a tese.

Como assim? O que a prisão em segundo grau tem a ver com a inércia de um sistema penal-processual que permite que condenações de 17 anos prescrevam? O processo ficou parado sete anos em um tribunal? É? E por que o repórter não foi atrás para saber as razões disso? Por que não entrevistou o promotor? Um professor de Direito veio falando: maldita prescrição. É? Eu sempre achei que a prescrição era um direito do réu e o Estado tinha o dever de evitar que ocorresse.

Sigo. O Ministério Público não movimentou os autos? Deixou assim? Os autos têm vida própria? Quer dizer: a culpa pelo desmatamento é do machado. Não é de quem maneja a ferramenta. Que coisa, não? Mas culpar o mensageiro é sempre mais fácil mesmo. Olhar para o espelho é difícil pra quem tem medo daquilo que pode enxergar.

E assim a coisa vai. A Globo faz um carnaval com um processo que ela mesma tinha esquecido. Que o MP esqueceu e ninguém lhe perguntou. Que o Judiciário esqueceu e ninguém lhe perguntou. E a culpa é… de quem? Da defesa. Claro. E do “maldito sistema”. Sempre o sistema. Culparam tanto o tal do sistema e… deu no que deu. Vocês sabem bem do que falo.

E a solução é simples: vamos mudar a legislação. Aliás, vamos obrigar a prisão logo na segunda instância. A Globo quer ganhar no tapetão. Lembram quando Merval dizia que se o STF der provimento às ADCs, 190 mil presos, entre eles estupradores, assassinos etc. serão soltos? Eu não esqueci. Você já esqueceu?

Pronto. A reportagem deverá ganhar um prêmio. O Ig-Nobil. Por mal informar, por fazer espetáculo barato, por correr pateticamente atrás do réu-hoje-taxista (aliás, o repórter está fora de forma) e, mais do que tudo, por nada esclarecer à população. Dá zero para eles, como dizia o filósofo Chavo Del Ocho…

Simples assim. Se alguém pensa que é só no Direito que ensinam com livros simplificados, imagino com que livros o pessoal do Jornalismo e Comunicação vem lidando. O resultado é essa “reportagem” fantástica do Fantástico. E a “cobertura” das mensagens que mostram o conluio entre Moro e acusação? Não é pauta? Ah, pauta mesmo é BBB. Ali está a cultura nacional. Eis o papel de parte da imprensa “oficial”. Quem vai pro paredão? Quem vai ser cancelado? Pelo jeito, o debate sério e a legalidade de um país que prefere o showzinho.

E isso que não falei da reportagem que veio depois sobre a pandemia. Em vez de informação, muito choro de familiares de vítimas. Ig-Nóbil. O sujeito perdeu a mãe e o repórter enfia o microfone na cara do enlutado e pergunta: e agora, como você está se sentindo?

Que maravilha, não? É fantástico. Guy Debord, que os repórteres e diretores de jornalismo deveriam ler, estava certo. Trata-se de uma sociedade do espetáculo. O paradoxo: tivessem lido, não teria saído isso. Mas saiu. E é o que temos.

Mas a culpa é da prescrição. Da CF, que deu “direitos demais”.

De todo modo, vale o adágio: mutuca tira boi do mato. Demora, mas tira!

Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito. Sócio do escritório Streck e Trindade Advogados Associados: www.streckadvogados.com.br.

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Comentários

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Júlio César

12/02/2021 - 19h41

Os lulistas e os bolsonaristas estão juntinho pra engrupir os trouxas, nós. E o Streck finge bem que acredita na ladainha dele. Como alguém pode ser tão hipócrita? O gilmarzinho dos pampas! Palmas!

Sérgio Wecker

12/02/2021 - 11h18

A Globo tem um linguagem popular de convencimento…ela usa o palanque e o megafone…os criticos o coxicho…restrito aos seus…

EdsonLuiz.

11/02/2021 - 13h48

Há aspectos. Sempre os há. O que não podemos é nos escudar nos nos aspectos para fazer valer os nossos particulares interesses, entendimentos e desejos. Não podemos nos tornarmos todos maniqueístass e fazer do maniqueísmo uma virtude.

A propósito, eu gosto muito dos votos de Luiz Edson Fachin, assim como gosto dos votos da Carmén Lúcia, do Barroso e do Fux, quase sempre. Já outros gostam dos votos de Março Aurélio, do Lewandowski, do Kássio Nunes e Gilmar Mendes e do Tófoli, não sei se sempre.

Fazer o que, é a vida!

    Batista

    12/02/2021 - 12h01

    Não é a vida, são os fatos, e os ‘votos gostosos’ de “Aha uhu… é nosso!” e ” In fux we trust”, que o digam, já que a “Mortícia” está ‘sartando da banda lavajateira’ e o “gogó de veludo” entre o “Mato ou Moro”, não sabe se corre pro mato ou pra longe do moro, sem cachorro.

      Edson Luiz Pianca

      13/02/2021 - 01h37

      Batista,

      Falando bem sério com você: Eu não o conheço, claro, mas tenho certeza que, há 4 anos, 5 anos, você, vocezinho, você mesmo, ODIAVA o Gilmar Mendes. ODIAVA! Batista, eu tenho certeza absoluta, e olha que é bem difícil eu ter certezas absolutas, mas essa eu tenho. Embora não o conheça, eu tenho certeza de que, se você há 4 ou 5 anos, tomando cafezinho em alguma padaria perto da sua casa, ouvisse alguém falar em Gilmar Mendes, é inimaginável o que esse alguém poderia ouvir. Poderia até não acontecer nada, mas aí seria inimaginável o seu estado de espírito em se conter para não ser reativo com o adorador de Gilmar que se lhe apresentasse. E já um bolsonarista, diferentemente de um petista, nesta época babava fascinado com Gilmar Mendes, com o anti-petismo de Gilmar Mendes, anti-petismo esse em muito gratuito e sem nada da compostura que Gilmar devia ter devido à natureza do seu cargo. É a minha opinião. Afinal, naquela época só havia denúncias contra o Lula, ainda não havia nenhuma condenação. E mesmo se já houvesse condenação contra Lula, o juiz demonstrar juízo fora dos autos e em público, como era demonstrado contra o PT, era completamente inadequado e vocês tinham toda a razão de ter antipatia completa por Gilmar Mendes, como tinham. Eu compreendia vocês. Sério! Eu sempre falo a sério! (Embora eu goste quando você trata as coisas com bom humor. Eu gosto de bom humor, e detesto o que estou tendo que fazer aqui agora. E algumas vezes você é bem humorado).

      Hoje, a disposição de vocês em relação a Gilmar Mendes mudou. E mudou por alguns fatos!

      Mas os fatos / você escreveu acima: “são os fatos” /, eu lhe digo quais foram os fatos que mudaram relativamente a disposição de todos em relação uns aos outros e que hoje permitem entendimentos no Senado, na Câmara, em instâncias de julgamento, etc, que no meu modo de ver são entendimentos contra o país.

      Alguns desses fatos são:

      -Caiu o ‘Aécim’;
      -Caiu o Michel Temer;
      -Vários ex-governadores do PSDB já sofreram prisão inicial e outros de seus filiados estão bem enrolados;
      – E ainda tem o Flávio bolsonaro e suas rachadinhas e outros enrolos.

      Todos eles tiveram seus destinos associados ao destino de Lula e do PT.

      Agora, todos se juntam ao destino de todos.
      Boas companhias essas, não é? São companhias que vieram em boa hora, são bons fatos, dependendo de quem precisa desses fatos.

      MAS A VERDADE É QUE OS FATOS NOVOSSÃO ESSES.

      Agora, com a carga que o PT e o bolsonaro, em quase conluio, estão fazendo contra operações anti-corrupção, e é claro que todos os outros atores e Partidos que têm problemas com as investigações participam dessa carga, todos se abraçam, todos se protegem, e como eu já disse antes, quando todos passam a dividir um destino comum, querem que se foda o país.

      O que é a vida, não é? Desde a fundação do PT até 2013, 2014, todos no Brasil que discordavam do PT eram safados, corruptos, vagabundos, picaretas, eram tudo de ruim. E tocava o PT a distribuir juízos e ódios. Ficou como cultura para o PT. O PT distribui esse ódio todo contra todo mundo até hoje. E detesta quem desmascara a hipocrisia toda. E o bolsonarismo acabou assimilando essa tecnologia de ódio e potencializando a tecnologia com a própria truculência e bestialidade.

      Mas fique sabendo, Batista: como eu não sou petista e não sou bolsonarista (eu até queria encontrar um Partido político que eu achasse que valesse a pena, mas não encontro), não faço diferença, não escolho os fatos. E tenha certeza, também não seria seletivo com os meus, não sou.

      Olha! Eu também tenho certeza de que, acaso as conveniências novamente se modifiquem e Gilmar Mendes volte à postura que manifestava anteriormente contra o PT, todo o ódio também volta contra o Gilmar. Isso porque tem muita gente que não se move por integridade, mas por cumplicidade mafiosa : quem estiver a meu favor, esteja eu certo ou errado, é santo; quem estiver contra mim, é demônio. Mas tudo pode mudar se as conveniências mudarem

Paulo

11/02/2021 - 12h16

E segue a narrativa. De lado a lado. Mas nessa aí – combate à Lava-Jato – petistas e bolsonaristas vão caminhar juntos, tenham certeza! E nem ficarão vermelhos…”Quid novi”?

    Paulo Figueira

    11/02/2021 - 13h51

    Narrativas?
    Está tudo bem descrito e narrado nas conversas entre os procuradores e Moro.
    Você não querer admitir, é seu direito, mas quem narrou todas as barbaridades cometidas contra o devido processo legal, contra a democracia e as intenções políticas da operação foram os próprios procuradores e Moro em seus diálogos, que felizmente o Brasil pode ter acesso.

      Paulo

      11/02/2021 - 17h20

      Xará, mesmo que se comprove algo contra a Lava-Jato, a via escolhida para isso (gravações ilícitas) seja aceita e o(s) processo(s) seja(m) todo(s) anulado(s), Lula não será inocente. Eu vi o que foi o Governo dele. Eu vi Abreu e Lima, eu vi o mensalão, vi o petrolão, vi o “Ronaldinho dos negócios”, vi o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá. Você não viu nada disso?

        cid

        11/02/2021 - 22h30

        viu na grobo?

          Paulo

          12/02/2021 - 18h59

          Na Grobo, nus jorná, nas rivista, nas rádiu, nus pograma. Até no rádiu-relógio. Tava em tudo que é lugar. Viu/orviu não?

          Batista

          13/02/2021 - 12h29

          Resumindo, confessa não ter visto nada, embora permaneça convicto e espalhando ter visto tudo.

          Certamente natural de Taubaté e viciado em “A Vida é Bela”.


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