Por Gilberto Maringoni
A divulgação dos acertos entre o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro, no curso do processo contra o ex-presidente Lula, vão muito além da exegese de um cambalacho judicial já liquidado. A ação reabre um escândalo de consequências imprevisíveis.
Ao retirar o candidato favorito das eleições presidenciais de 2018, Moro se tornou o principal responsável pela criação das condições que possibilitaram a vitória de Jair Bolsonaro. Fica agora oficialmente clara uma manobra absolutamente ilegal, que mostra o pleito como uma grosseira fraude.
Não é uma palavra muito pesada clarificar a manobra da República de Curitiba como um verdadeiro golpe de Estado. Ou a segunda fase do golpe de 2016.
Se Moro tiver de responder nas barras dos tribunais e for criminalmente condenado, como fica o crime em si? Mantém-se o resultado eleitoral? Se houve fraude na eleição, todos os atos dela decorrentes – a posse de Bolsonaro e as ações de seu governo – serão jurídica e politicamente nulos. Em decorrência disso, os resultados de dois anos e meio atrás têm de ser anulados e novo pleito ser convocado. Nó político intrincado.
Será por isso que o mesmo ministro Ricardo Lewandowski, que decidiu pela entrega do material à defesa do ex-presidente, em seguida tenha determinado o sigilo das informações?
Por quê? A República pode tremer? Nessas condições, cabe perguntar que República?