Que Bolsonaro jogou contra o combate à pandemia, desde o início, agora está claro para todos.
O presidente agiu o tempo inteiro como se quisesse que o vírus se espalhasse o máximo possível.
Sua fingida preocupação com o emprego e com a economia sempre foi um sentimento esquizofrênico e contraditório, visto que é impossível qualquer recuperação econômica sem um grande esforço para vencer a crise sanitária.
E não apenas porque as pessoas tem “medinho”, ou são “maricas”, para usar algumas das infames expressões do presidente.
Tampouco por causa das medidas de distanciamento social, necessárias para desacelerar a propagação do vírus e dar tempo às instituições médicas e científicas de encontrar soluções realmente eficazes para controlar e curar a doença gerada por ele.
A principal razão pela qual o vírus atrapalha a economia é que ele ataca a saúde dos trabalhadores, debilitando-os, e, em alguns casos, matando-os. E ninguém consegue trabalhar estando hospitalizado ou morto.
Ao abraçar um negacionismo absolutamente estúpido, Bolsonaro impôs obstáculos inúmeros tanto às respostas sanitárias quanto às econômicas.
Países que levaram a sério a pandemia, como a Coreia do Sul, fazendo testagem em massa, obrigando o uso de máscaras, e, sobretudo, com seu governo central respeitando rigorsamente as recomendações de suas autoridades médicas e científicas, não apenas reduziram drasticamente o número de mortes no país, como minimizaram de maneira espetacular o impacto econômico e social da pandemia. Na verdade, a Coreia do Sul assistiu a uma leve melhora de seu mercado de trabalho durante a pandemia, por incrível que pareça!
A China também tratou o problema com extrema seriedade, igualmente com testagem em massa, uso intensivo de tecnologia (inclusive inteligência artificial), lockdown rigoroso, e o resultado é que a economia do país, na contramão do mundo inteiro, se manteve no positivo, e agora se recupera muito rapidamente.
A organização Conectas, em torno da qual se reúne uma vasta rede de pesquisadores de todo país, especialmente na área de direitos humanos, lançou um boletim há alguns dias, em que reuniu declarações do presidente da república, e normas autorizadas por ele, desde o início da pandemia.
O que vemos é praticamente um Diário de um Genocida. O documento reuniu atos e discursos de “propaganda contra a saúde pública”, numa linha do tempo iniciada em março de 2020.
Segundo o relatório, essa propaganda é definida como “o discurso político que mobiliza argumentos econômicos, ideológicos e morais, além de notícias falsas e informações técnicas sem comprovação científica, com o propósito de desacreditar as autoridades sanitárias, enfraquecer a adesão popular às recomendações de saúde baseadas em evidências científicas, e promover o ativismo político contra as medidas de saúde pública necessárias para conter o avanço da Covid-19”.
Um dos exemplos compilados pelo documento:
Inacreditavelmente, uma das primeiras medidas do governo Bolsonaro para restringir a entrada do vírus no país foi inteiramente ideológica, atingindo apenas cidadãos da Venezuela, país que ainda registrava um número inexpressivo de infectados. Enquanto isso, a entrada de americanos, país que já era o maior foco global do vírus, continuava liberada. A portaria que proibiu a entrada de venezuelanos foi editada em 17 de março. Apenas no dia 29 de abril, mais de 40 dias depois, o governo restringe a entrada de estrangeiros de qualquer nacionalidade.
Na contramão dos governos estaduais, que vinham tentando obter liminares judiciais para restringir a entrada de estrangeiros no país, a administração Bolsonaro agia deliberadamente no sentido contrário.
Reportagem publicada pelo Valor, no dia 26 de março, informava que a Advocia Geral da União (AGU), cujo titular é indicado diretamente pelo presidente da república, “derruba liminar que impedia pouso em Fortaleza de voos vindos dos EUA”.
Poucas semanas depois, Fortaleza se tornaria um dos maiores focos nacionais do novo coronavírus, com um dos maiores índices de morte por milhão de habitantes, posição que apenas muitos meses depois, com muito esforço, o governo cearense conseguiria melhorar.
Este é apenas um exemplo do que podemos ver no relatório, com informações que nós acrescentamos.
A linha do tempo do relatório traz falas do presidente em que ele invariavelmente procura “mobilizar argumentos econômicos, ideológicos e morais, além de notícias falsas e informações técnicas sem comprovação científica, com o propósito de desacreditar as autoridades sanitárias, enfraquecer a adesão popular às recomendações de saúde baseadas em evidências científicas, e promover o ativismo político contra as medidas de saúde pública necessárias para conter o avanço da Covid-19”.
O documento deve ajudar a sociedade civil a levar adiante iniciativas similares, que podem se tornar mais comunicativas se vierem acompanhadas de vídeos e links.
Em nosso twitter, iniciamos um trabalho para coletar esse material, usando como base a linha do tempo apresentada no relatório do Conectas.