Foto: Bolsonaro com Narendra Modi em janeiro de 2020 na Índia.
– O Brasil passou um vexame semana passada em termos de relações internacionais. Há exatamente um ano, em janeiro de 2020, Bolsonaro realizou visita à Índia e esteve com seu homólogo, o presidente Narendra Modi. Na época, os bolsonaristas comemoraram bastante a grande parceria. No entanto, parece que a relação criada não frutificou a ponto de estabelecerem uma comunicação básica, inteligível no mínimo. A Índia é conhecida como um dos gigantes dos fármacos e das vacinas. Muitos países estão na fila para adquirirem sua vacina. O que fez o governo brasileiro pensar que seria o primeiro da fila (antes do início da vacinação da população local na Índia), plotar um avião e estar a ponto de enviá-lo diretamente do aeroporto de Recife rumo a Mumbai para “buscar as vacinas”? A Índia obviamente negou a entrega imediata dos imunizantes e o avião não chegou a sair do Brasil. As informações são de que o chanceler Ernesto Araújo chegou a fazer uma última ligação para o chanceler indiano Subrahmanyam Jaishankar na quinta-feira (14) para fazer um último apelo, mas sem sucesso. Bolsonaro havia enviado uma carta a Modi em 8 de janeiro. Nas palavras do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava, “o processo de vacinação na Índia está apenas começando. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre destinação para outros países enquanto ainda estamos analisando os cronogramas de produção e entrega. Nós tomaremos decisões a esse respeito no devido tempo, isso pode demorar”. Uma cerimônia estava marcada para amanhã (19) no Palácio do Planalto para marcar o início da vacinação com a vacina da Oxford/Astrazeneca produzida na Índia pelo Serum Institute, mas com o fracasso da operação, acabou por ser desmarcada. Enquanto isso, a Índia começou no sábado (16) a maior campanha de vacinação contra a Covid19 do mundo. Esperam vacinar 300 milhões de pessoas até o meio do ano. Um desafio logístico e de recursos humanos monumental para o país de 1,3 bilhão de pessoas.
– Caminhões carregados com oxigênio venezuelano atravessaram ontem ao fim do dia (17) a fronteira da Venezuela com o Brasil. Esse é outro fato que demonstra o fracasso da diplomacia antiglobalista, antibolivariana e pró-Trump do Governo Bolsonaro. Em dois anos de gestão, o atual governo pautou sua política externa especialmente nos ataques à Venezuela, inclusive com ameaça de participar de invasão militar do país junto à Colômbia e aos EUA. Mas o fato de que a empresa (White Martins) fornecedora de oxigênio em Manaus ter estoque disponível em solo venezuelano deixou o governo Bolsonaro em xeque. O transporte do oxigênio líquido, essencial para o abastecimento dos hospitais no Amazonas, precisou, portanto, da gestão do Governo Maduro para garantir a logística e a segurança do transporte. O mais importante ainda, no entanto, é que o próprio governo venezuelano disponibilizou oxigênio de uma estatal venezuelana que fica em Puerto Ordaz, no estado de Bolívar (na divisa com Roraima), sem custo para o Brasil. Serão enviados oito caminhões com 18 toneladas cada, atravessando 1500 km de distância. Por fim, os venezuelanos também enviaram 107 médicos, entre brasileiros e venezuelanos, formados na Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, para ajudar a combater a pandemia no Amazonas.
– Foi anunciada na última sexta (15), pelo presidente palestino Mahmud Abbas, a realização de eleições legislativas na Palestina em 22 de maio e presidenciais em 31 de julho. São as primeiras eleições desde 2005, quando Abbas venceu após o falecimento de Yasser Arafat. Haverá ainda uma terceira votação em 31 de agosto para a eleição do Conselho Nacional Palestino. O estabelecimento de uma data para as eleições é fruto de um acordo firmado em setembro de 2020 entre a liderança do Fatah, partido que dirige hoje a Autoridade Nacional Palestina e o território da Cisjordânia, e o Hamas, partido que ganhou as eleições parlamentares de 2006 e dirige o território da Faixa de Gaza. Certamente haverá muita tensão em todo o processo eleitoral, em especial para a participação dos palestinos que vivem em Jerusalém oriental, ocupada por Israel.
– A Era Merkel está chegando ao fim na Alemanha. Foram 16 anos de governo como primeira-ministra da maior economia da Europa. Ao longo do final de semana saíram várias matérias e reportagens sobre esse período e os grandes desafios enfrentados por ela, desde a crise econômica de 2008 que se abateu sobre o bloco europeu, a onda migratória, a crise do Brexit, as relações com Rússia, China, EUA e a própria pandemia de Covid19. Seu governo na Alemanha se confunde com sua liderança no bloco, que impôs uma política de austeridade sobre as economias mais frágeis e lutou para manter a Zona do Euro a qualquer custo. Internamente, ficou marcada pela maior tolerância com a entrada de migrantes e uma política acertada de combate ao coronavírus. A retrospectiva vem ao tempo que o partido de Merkel, CDU (União Democrata Cristã), elegeu no sábado (16) seu novo líder, Armin Laschet. Ele é governador do estado da Renânina do Norte-Vestfália. Sua eleição se deu em uma convenção partidária virtual com a participação de pouco mais de mil delegados. Seu concorrente principal foi o atual líder da bancada do CDU no Bundestag (câmara dos deputados), seguido de Norbert Rottgen, com menor votação. A decisão se deu em dois turnos. As eleições parlamentares na Alemanha serão em 26 de setembro e se a CDU confirmar seu favoritismo, Laschet deve suceder Merkel como chanceler federal alemão.
– Portugal tem eleições presidenciais marcadas para 24 de janeiro, mas a votação já começou. As pessoas puderam se inscrever para votar antecipadamente e as urnas foram abertas ontem (17). Com a pandemia, o país teve um recorde de inscritos para votar antecipadamente, foram 247 mil eleitores cadastrados. Idosos e pessoas adoecidas pela Covid puderam pedir voto em domicílio. As pesquisas apontam para a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS-PP) já no primeiro turno. Ele concorre com Ana Gomes (PS, apoiada por PAN e Livre), André Ventura (Chega), João Ferreira (PCP, apoiado por “Os verdes”), Marisa Matias (Bloco de Esquerda), Tiago Mayan (Iniciativa Liberal) e Vitorino Silva (RIR-Reagir Incluir Reciclar). Segundo as últimas pesquisas, ou sondagens como dizem os portugueses, Ana Gomes do PS e André Ventura do Chega (ultradireita) disputam o segundo lugar com aproximadamente 10% cada. João Ferreira (PCP) e Marisa Matias (Bloco de Esquerda) disputam o voto da esquerda com aproximadamente 4% cada. Rebelo de Sousa está praticamente inalcançável na liderança com 70% das intenções.
– Aconteceu semana passada e não comentei por aqui ainda o 8º. Congresso do Partido do Trabalho da República Popular e Democrática da Coréia – RPDC – ou Coreia do Norte. O congresso foi coroado com um desfile militar em Pyongyang na última quinta (14) em que foram exibidos um míssil balístico e foguetes. O desfile ocorre poucos dias antes da posse do novo presidente dos EUA e dois anos após o último encontro de cúpula entre os dois países (Hanói, fevereiro de 2019).
– A caravana de migrantes centro-americanos que partiu de Honduras no último dia 15 rumo aos EUA encontra-se detida sob forte repressão neste momento na Guatemala, como já era previsto. Segundo uma reportagem da BBC, o total de pessoas que formam a caravana pode estar próximo de 9 mil, entre hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos. Muitas pessoas ficaram feridas ontem (17) na cidade de Chiquimula, na fronteira com a Guatemala. Os migrantes fogem da pobreza, da violência e da devastação deixada por grandes furacões que atingiram a região no ano passado. As cenas do confronto entre as forças de segurança da Guatemala e os migrantes são chocantes.
– Semana passada falei aqui nas Notas das turbulentas eleições presidenciais em Uganda, na África. De acordo com um anúncio feito sábado (16), o eleito foi o atual presidente Yoweri Museveni para seu sexto mandato com 58,6% dos votos. Ele está no poder desde 1986. O rival, Bobi Wine, com os oficiais 34,8% dos votos, denunciou que houve fraude e fez um chamado à população para não aceitar o resultado.