A irresponsabilidade de Bolsonaro
Por Chico D`Angelo, deputado federal (PDT-RJ)
A chegada da vacina, ou de várias vacinas, contra o coronavírus representou um grande alívio para toda a humanidade. Sobretudo porque chega num momento absolutamente crítico, em que a taxa de contaminação e os números de vítimas fatais voltaram a crescer com muita força, no Brasil e no mundo.
Entretanto, o que nos parece o mais chocante tem sido a banalização da morte.
Segundo o monitoramento da Universidade John Hopkins, 1,9 milhão de seres humanos já foram vítimas da Covid-19, sendo que o Brasil ocupa um triste segundo lugar, com 203,1 mil mortes. Em primeiro lugar, vem os Estados Unidos, com 374 mil óbitos decorrentes da Covid-19.
Segundo o site Our World in Data, o número médio de mortes causadas pela Covid-10, no Brasil, está voltando aos momentos mais dramáticos de 2020, com mais de mil vítimas diárias na média dos últimos 7 dias.
Não é trivial que os dois campeões globais de morte sejam países governados por populistas autoritários que, durante toda a pandemia, atacaram a comunidade científica e a imprensa profissional, demonstrando sempre muito mais preocupação com sua própria popularidade do que com as questões sanitárias, as quais, em última instância, podem definir a vida ou a morte de milhares de pessoas.
Medidas de controle da epidemia foram tomadas por governadores e prefeitos frequentemente contra o chefe do Executivo federal. No Brasil, as lideranças regionais tiveram que apelar à Justiça para que pudessem adotar iniciativas para defender a vida dos cidadãos residentes nos espaços por eles administrados.
Quase todas as medidas de controle da pandemia são impopulares, de maneira que é até encorajante, e sinal de maturidade política de tantos brasileiros, que as lideranças que a adotaram, ganharam o respeito da população e viram subir suas taxas de aprovação.
Já o presidente Bolsonaro, infelizmente apostou, desde o início, no obscurantismo e na corrupção moral do povo. Como as medidas de distanciamento social implicam em profundo, terrível, custo econômico para milhões de trabalhadores e empresários, o presidente adotou a mais oportunista e infame das decisões, a de lavar as mãos.
O conceito de responsabilidade é uma das virtudes mais sagradas, talvez a mais nobre de todas, de uma liderança. Isso vale para um pai, uma mãe, um político, um médico, ou chefe militar, ou apenas um amigo. Trata-se da responsabilidade de tomar uma decisão difícil, que pode implicar num custo de curto prazo, mas que é necessária para a sobrevivência, resistência e fortalecimento no longo prazo. Assim uma mãe impede o filho de brincar, impondo-lhe algumas obrigações referentes ao estudo, porque entende a importância, para o futuro da criança, de adquirir determinados conhecimentos. Assim um médico proíbe um paciente de ingerir bebidas alcóolicas, ou consumo de determinados alimentos, por enxergar a necessidade destas restrições para a recuperação de sua saúde e conservação de seu bem estar e longevidade. E naturalmente isso vale também para uma liderança política, que precisa tomar, às vezes, decisões impopulares, para assegurar a redução do número de mortes e o bom funcionamento do sistema de saúde de seu país.
Bolsonaro não é esse líder.
Bolsonaro é o modelo, por excelência, do líder irresponsável, que não quer assumir o ônus de nenhuma medida que possa lhe trazer um custo político.
Bolsonaro procura corromper o caráter do povo, num dos momentos mais dramáticos da nossa história sanitária e econômica.
Quando o cansaço das pessoas com as medidas de distanciamento social chega ao limite, quando a população se vê, mais que nunca, assustada diante das terríveis consequências de uma pandemia devastadora, que já matou quase 2 milhões de pessoas em todo mundo, o que faz Bolsonaro?
Visita uma instalação de produção de vacinas, para checar se há necessidade de alguma medida para acelerar e estruturar melhor o processo de imunização em massa da população? Não.
Visita um centro de recapacitação profissional, montado pelo poder público ou pela iniciativa privada, que visasse reconectar a classe trabalhadora ao mundo pós-pandemia? Não.
Bolsonaro prefere ir a praia e provocar aglomerações. E logo em seguida, faz declarações niilistas, dizendo que o país “está quebrado”, e que não há nada o que fazer.
Bolsonaro é o presidente da morte, da desesperança, do desemprego, da ausência de políticas inteligentes para educação, economia, desenvolvimento, ciência, cultura, ou qualquer outra esfera da nossa vida coletiva.
Para nós, da oposição, cabe trabalhar duro para criar as condições para o impeachment de um presidente tão irresponsável. E, independente do impeachment acontecer ou não, simultaneamente articular para que a oposição se fortaleça e chegue a 2022 com energia e densidade suficientes para, democraticamente, expulsar Bolsonaro da vida política nacional!