Por Antonio Neto
O Brasil vive a sua maior crise política, social e econômica desde a redemocratização. O povo brasileiro volta a sofrer nas mãos de um governo autoritário que ataca a democracia, retira direitos e ignora a ciência e a saúde pública em seus arroubos conspiracionistas e reacionários. Apesar de tudo isso, o bolsonarismo resiste. Já não faltam crimes de responsabilidade para fazer o impedimento de Jair Bolsonaro, mas a política e a falta de adesão popular garantem a permanência da ignorância em pessoa no Palácio do Planalto.
O bolsonarismo, de fato, foi derrotado nas urnas nas eleições municipais, mas as últimas pesquisas de avaliação parecem confirmar que esses fracassos não têm a ver necessariamente com a imagem do presidente –como se Bolsonaro já estivesse acima do bolsonarismo e a rejeição popular não o tivesse atingido diretamente.
É preciso humildade e capacidade de analisar a conjuntura para entender que os ventos sopram para garantir Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2022, apesar da sua política genocida. Ainda é impossível cravar quem estará na disputa do segundo turno contra o atual presidente. O campo progressista deve ter ao menos dois nomes competitivos, assim como a centro-direita também deverá ter seu representante na briga pela segunda vaga.
Para chegarmos à disputa presidencial com chances de vitória, é urgente que o campo progressista se organize e, em unidade, comece a impor dificuldades a Bolsonaro. Os partidos de esquerda (PT, PSB, PDT, PC do B, PSOL e Rede) possuem 132 cadeiras na Câmara, número que não basta para eleger o presidente da Casa, mas é suficiente para impor uma derrota indigerível ao déspota que ocupa a Presidência da República.
Hoje, na Câmara, existem três grupos distintos se organizando para o pleito de fevereiro: o já mencionado campo progressista; o grupo governista liderado por Arthur Lira (PP-AL), que parece já ter algo muito próximo de 200 deputados ao seu redor, após a desistência de Marcos Pereira (Republicanos-SP); e, por fim, o grupo com cerca de 180 deputados protagonizado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta encontrar um nome capaz de ampliar os apoios e se manter no comando. É óbvio que, com votação fechada, é impossível cravar qualquer número, mas o desenho parece real e mostra a capacidade de as esquerdas em unidade definirem a eleição.
Derrotar Bolsonaro é a maior vitória que o campo progressista poderia ter neste momento. A aliança com o centro liberal liderado por Rodrigo Maia pode significar não somente o enterro da agenda reacionária e antidemocrática de Bolsonaro, mas, pelo poder de definição do grupo, é possível deixarmos a defensiva e começarmos a pautar uma agenda mínima que aponte saídas para a crise econômica, que assola principalmente a classe trabalhadora e os mais vulneráveis.
Marcar posição é romântico e fácil, mas no atual momento o romance vira arrogância, e a facilidade se torna irresponsabilidade para com o Brasil e o nosso povo. Impor uma derrota ao bolsonarismo nos garante frear a onda reacionária, mas além disso pode marcar a virada que nos possibilite pautar o impedimento de Jair Bolsonaro e, sobretudo, salvar vidas.
Se não for suficiente para o impeachment, a aliança com o centro liberal neste momento deixa pontes criadas para que em 2022 a tão sonhada “frente ampla” se consolide no segundo turno e garanta ao povo brasileiro se livrar de Jair Messias Bolsonaro nas urnas.
Antonio Neto é presidente municipal do PDT em São Paulo, da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e do Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo); foi candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa de Márcio França (PSB)
Texto publicado originalmente na Folha em 17 de Dezembro de 2020.