Por Tulio Ribeiro, exclusivo para O Cafezinho
As eleições de 2020 apresentaram um novo desafio ao Partido do Trabalhadores diante de uma resultado negativo, perda de capilaridade e de sua base social.
Entrementes, o partido nega a realidade no momento que se mostra mais adversa. E tenta emplacar a narrativa de que sua derrota foi, na verdade, uma vitória.
Segundo a leitura petista verbalizada pelo ex-prefeito de São Paulo em sua coluna na Folha de São Paulo, o PT “é um fenômeno social não replicável, forjado a partir da luta social, reuniu pessoas advindas do novo sindicalismo, das comunidades eclesiais de base e da universidade”. Este pensamento é base do hegemonismo que afasta da capacidade de negociação franca com o campo progressista.
A razão é que ao recorrer à defesa do ex-presidente Lula da Silva, impedido injustamente de se candidatar, tenta-se repetir a estratégia já derrotada em 2018, de impor a candidatura de Fernando Haddad. O ex-ministro procura promover a ideia que seu partido teria uma posição “única”, inatingível por outras forças progressistas:
“O erro de alguns progressistas não petistas é imaginar que o enfraquecimento do PT vai lhes favorecer. O lugar que o PT ocupa no espectro ideológico não é ideal, mas materialmente construído. Não é um espaço natural à espera de um hóspede, mas um espaço socialmente conquistado.”
O esforço do petismo de atribuir tudo aos ‘outros’ e não entender a nova postura do eleitor, se vale do discurso repetido de perseguição e uma inculpabilidade pelo resultado das urnas.
Procura encontrar uma matemática criativa a tentativa de manutenção de seu legado eleitoral, mesmo caindo das 652 prefeituras em 2012, para 256 em 2016 e 183 em 2020, o que permite ao partido administrar apenas 2,9% da população via prefeituras. O argumento petista é que manteve os 6 milhões de votos, mesmo passados quase dez anos, seria uma visão similar a que mesmo mantendo sua votação em 2022 para deputados perdesse 50% dos seus deputados e ampliado a mesma proporção de suplentes.
Segundo Haddad ,”o PT é sua militância”. Nesta definição encontramos a razão para esforço de comunicação em amenizar a derrota. Corroída sua base eleitoral, sindical e com participação cada vez mais difusa em movimentos sociais, perder estes seria o golpe final .
Lembrando que as disputas municipais são as que mais exigem dos apoiadores. No Brasil, existe ainda uma significado especial, muitos prefeitos serão os futuros deputados federais.
Perdurando nesta lógica, é natural que defenda a candidatura de Lula, o qual, mesmo livre, foi pouco usado nas campanhas, para tentar manter parte de seus ativistas, mesmo que a estratégia seja repetir o nome do ex-ministro para 2022.
Outro argumento é negar o resultado da centro-direita, mesmo o PSD (654),DEM (464), MDB (784), e PSDB (520) controlando em torno de 44% das prefeituras. Segundo o PT, a vitória estaria com a direita, numa máxima que se o bolsonarismo cresceu com o antipetismo, agora o PT tem esperança de ressurgir como se fosse a única força que pudesse vencer o atual presidente. Fato que está longe da verdade, a rejeição ao PT perdura, mesmo superado o momento mais acentuado do ódio político.
Deste modo, mesmo que as análises criativas estejam longe do final, o que se apresenta é tentativa do PT repetir em 2022 a mesma frase de 2018: Lula é Haddad e Haddad é Lula.
Barreto
17/12/2020 - 20h13
Ótimo texto sobre uma verdade que pode levar a mais uma derrota da esquerda com Haddad
Mário
11/12/2020 - 19h06
Concordo plenamente com autor , vão tentar empurrar o haddad de novo. Bela análise ,inclusive pelos dados desconstruindo o argumento do PT
Mário
11/12/2020 - 19h06
Concordo plenamente com autor , vão tentar empurrar o haddad de novo. Bela análise ,inclusive pelos dados desconstruindo o argumento do PT
Tadeu
11/12/2020 - 12h47
A empulhação em que o PT vai se focar daqui para frente é a de que a base social do petismo e o PT são a mesma coisa – quando a eleição de SP provou que não são. A base social do petismo pode perfeitamente se descolar da instituição PT e votar em um candidato do PSOL. Se isso começar a se tornar frequente, adeus para as pretensões do Andrade de ser presidente algum dia.
José de Souza
11/12/2020 - 09h23
Vou repetir o que já comentei em outro post. O cenário pra 2022 terá os seguintes balizadores:
1) por mais desastroso que seja, o Bozo estará no segundo turno, com os votos de suas hordas de fanáticos. Algo similar ao que aconteceu com o Crivella no RJ;
2) A turma da Casagrande quer uma alternativa limpinha e cheirosa, mas tá encontrando dificuldade pra achar um nome de consenso. Hulk, Moro e Mandetta não empolgam;
3) Ciro sabe que unir-se ao PT é ser interditado por tabela. A eleição municipal demonstrou que ainda há um antipetismo enraizado em boa parte do eleitorado mais moderado. Por isso flerta com o PSD de Kassab e o DEM de Maia e ACM neto. Ademais, sabe que o PSB e o PDT são esquerdas (supostamente…), que não assustam a Casagrande. Aliás, PSB e PDT criaram rusgas fortes com o PT nessa eleição municipal, o que os tornam mais palatáveis para a turma da Casagrande;
4) O sucesso de Ciro dependerá da inviabilidade de um nome de direita soft, o que hoje parece provável. Mas terá que fazer algo similar à “carta aos brasileiros” pra ser aceito pela Casagrande. E escolher um vice confiável às elites retrógradas do país. Não é missão impossível;
5) Tem o fator PCdoB, que vai decidir para onde penderá,orientado pelo pragmatismo da necessidade de superar a cláusula de barreira. Não tem densidade eleitoral, mas tem dois nomes fortes que agregam (Flavio Dino e Manuela). Aposto que, qualquer que seja a decisão, o PCdoB sairá rachado,com algumas defecções relevantes;
6) Ao PT só restará aliar-se ao PSOL, com mais alguns eventuais dissidentes do PSB/PDT/PCdoB. Não se deve desprezar o poder de uma eventual chapa Boulos/Lula ou Boulos/Haddad-Rui Costa. Pela força do carisma de seus líderes, poderá surpreender e superar o “centrão da esquerda destra” capitaneada pelo Ciro.
Esse seria o cenário hoje, mas os dados estão rolando. Fortes emoções até 2022.
José de Souza
11/12/2020 - 09h32
PS1: não citei o Dória, por uma simples razão. Ele está cada vez mais estigmatizado como um traíra político, daqueles que combinam de vender a mãe, mas não faz a entrega. Isso é fatal para a composição de alianças, o que torne inviável a sua candidatura para além de São Paulo. Tá jogando todas as suas fichas na vacinação, mas pode não render os frutos que ele espera.
PS2: Outro namoro fundamental pro Ciro é com o PSDB e MDB. Tasso Jereissati também é noiva cortejada, o que resta de expressão política do velho tucanato. O flerte parece que está bem encaminhado.
Sebastião
10/12/2020 - 18h21
Como o candidato mais forte da direita é Bolsonaro, e como o PT por mais rejeitado que seja, tem a hegemonia da esquerda e um margem do eleitorado… Ciro só conseguirá chegar ao segundo turno, com os votos da esquerda. Pois jamais a direita deixará de votar em Bolsonaro ou em Dória, pra votar num esquerdista como Ciro. Por isso, ele precisa abaixar essa arrogância dele e buscar negociar espaço. Mas o medo dele é o PT não cumprir com a palavra, e ele nadar e morrer no caminho. Só que os ataques deles é uma verdadeira metralhadora giratória, e só pro lado da esquerda. Ele ataca Boulos, Dino e Manuela. Pra acabar com essas rusgas, dá trabalho.