Por André Ribeiro
As eleições de 2020 acabaram. Como resultado, todos cantando vitória, mas as realidades são bem discrepantes dos discursos. Bolsonaro pessoalmente enfraquecido, mas não derrotado, os partidos do centro fortalecidos para serem o fiel da balança em 2022 e, por fora, a direita liberal e a centro-esquerda disputando esse apoio.
Pode-se dizer que a esquerda, no sentido mais amplo que se possa imaginar, perdeu tamanho nessas eleições, mas também se pode afirmar que o perfil hegemônico desse campo se transformou. A aliança entre PDT, PSB, PV e REDE fez mais do que o dobro do número do prefeituras do que o restante dos partidos de esquerda e vai governar quatro capitais importantíssimas.
Ciristas, Lulistas, Psolistas e tudo o mais. Está na hora de chamá-los à realidade. Afastar as ilusões. Chegou a hora de colocar o pé no chão, ou vamos perder mais uma geração.
Estamos vivendo um processo histórico, como uma gangorra. Essa gangorra está com seu acento da Direita elevado (por vários motivos, lava jato, mídia, erros do próprio PT, etc, etc). Até que essa gangorra abaixe o acento da direita, nenhuma candidatura colocada no imaginário popular como sendo uma candidatura “pura” de esquerda tem qualquer chance.
Vejamos o caso do Boulos. Lindíssima campanha, marketing profissional, redes sociais afinadas, resposta rápida às fakenews e todos juntos com ele em São Paulo e…. Derrota maiúscula no segundo turno, mesmo com Ciro, Lula, Dino e todo mundo ajudando. Não se trata de Boulos ser ruim. Trata-se da percepção da população em geral, que ainda rejeita e muito qualquer coisa mais antagônica ao imaginário representado pela gangorra.
Nomes como Boulos, Dino, Lula, Manuela, Haddad e muitos outros estão muito ligados a essa rejeição. Não adianta apenas avaliar as causas do sintoma. Nem apontar culpados. Isso não resolve. É como um nadador reclamar que entra água no ouvido. É preciso entender que o sintoma existe, é real, justo ou injusto, está no imaginário popular, sendo este quem decide.
Lembremos: Eleição é corrida de 10 mil metros e não de 100 metros. Esses candidatos as vezes largam bem na frente, mas com alta rejeição, são alvo preferencial do “voto de veto” no segundo turno. Foi assim com a Manuela, com o Boulos, com Haddad, a ponto da comparação da votação de Bolsonaro e Haddad na capital paulistana em 2018 ser praticamente idêntica à observada entre Bruno Covas e Boulos. Não é por acaso.
Repito, são bons nomes, mas que apesar de emocionarem seus núcleos, memórias políticas afetivas, nos remetem a uma classificação menos substantiva e mais adjetiva do que é ser de esquerda e não são capazes de fazer os 10 mil metros, por não saírem da nossa bolha.
A eleição de 2020 consolidou no campo progressista o bloco PDT, PSB, PV e REDE. Com apoio unificado e ampliado, esse bloco é o único do campo capaz de abocanhar parte do centro, com quem fez alianças esse ano. Um modelo que deu certo no Ceará, até hoje e com resultados sociais e educacionais inegáveis, provando que não é a aliança quem define o perfil de governo e sim o contrário.
Esse bloco tem um projeto muito bem definido, o Projeto Nacional de Desenvolvimento e seu líder, Ciro Gomes, possui experiência, coragem para fazer o que será duro de pautar. Por outro lado, apesar de conseguir diálogo e alianças fora do campo, Ciro também precisa trabalhar sua rejeição e o primeiro passo é profissionalizar seu marketing, melhorar a comunicação para as massas.
Não existe caminho para vitória em 2022 com um bloco apenas de esquerda. Isso é bonito de se dizer por aí, mas é uma ilusão. Frente ampla não significa frente de esquerda. Enquanto o sistema eleitoral não mudar, ninguém chega à presidência sem uma aliança com parte do centro. Foi assim com Lula, com Bolsonaro e será com qualquer um. Hoje, esse centro não aceita fazer aliança com PT ou PSOL na cabeça de chapa. A consequência lógica disso é evidente.
Ademais, não temos mais um candidato com características de herói no imaginário popular, que detenha 30% dos votos. Na última pesquisa divulgada, o próprio Lula aparece com apenas 17%, considerando ainda que sequer poderá ser candidato. Sem a mesma capacidade de receber transferência de votos de antes, candidatos como Boulos, Dino, Manuela, Haddad, teriam maior dificuldade de sair desse estigma incompreendido pela maioria do povo brasileiro.
Está na hora de parar esse campeonato de “quem é mais de esquerda”. Então agora o dilema é: Ou somos pragmáticos e escolhemos uma estratégia pra vencer pela centro esquerda, para interromper o desmonte do país, ou vamos ter de “deixar sangrar”, colocando o povo para sofrer por longos anos, com o país perdendo o restinho de soberania, enquanto a dita gangorra não termina seu movimento.
Vem aí a cláusula de barreira ampliada. A melhor saída para todos é a formação de um grande pacto pela salvação do país. A candidatura de Ciro Gomes unificando todo o campo progressista, tornando a candidatura mais do que competitiva e deixando a vice para atrair um grande pedaço desse centro, priorizando a reeleição dos atuais governadores progressistas e focando na eleição de uma grande bancada federal puxada por grandes puxadores de voto dos diversos partidos.
É isso ou caso contrário vamos ficar torcendo isolados para nossos candidatos de preferência, fazendo lindas e emocionantes campanhas derrotadas de antevéspera, vendo alguns partidos até deixarem de existir.
É preciso humildade e reflexão de todos nós! A saída é pela esquerda, mas a entrada é pelo centro.