Diz o ditado que a política adora a traição mas abomina o traidor.
As eleições em Recife nos permitirão observar se a frase é verdadeira ou não.
Vamos contar a história a partir dos últimos acontecimentos.
Nesta noite de domingo, o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) fez uma denúncia cabeluda em seu twitter.
Meu chefe de gabinete foi procurado pela coordenação da campanha do PSB no Recife. Disse que eles estavam querendo “negociar o meu silêncio” nesse segundo turno. Dá pra acreditar?! Me senti testemunha de um crime. Crime mesmo foi o que eles fizeram nesses últimos anos no Recife.
— Túlio Gadêlha (@tuliogadelha) November 22, 2020
Em resumo, ele acusou o coordenador da campanha de João Campos, candidato do PSB à prefeitura de Recife, de entrar em contato com seu chefe de gabinete para tentar comprar seu “silêncio”.
É uma acusação gravíssima, com potencial de destruir a reputação dos envolvidos, e manchar a campanha de João Campos.
Entretanto, horas depois, o próprio chefe de gabinete de Tulio Gadelha, o jovem Rafael Bezerra, veio à público desmentir categoricamente a informação. Bezerra disse que o fato relatado por Gadelha “nunca aconteceu”.
Gostaria de registrar, como Chefe de Gabinete do Deputado Federal @tuliogadelha, que li o seu mais recente Twitter com grande consternação e tristeza.
— Rafael Bezerra (@RafaelBezerrade) November 23, 2020
A lei mais antiga do mundo (está no Código de Hamurabi) é a que trata da validade de uma acusação, e do risco que o acusador incorre caso não consiga prová-la.
No Direito moderno, essa lei milenar foi traduzida e simplificada numa fórmula muito simples: o ônus da prova é de quem acusa. Tulio fez uma acusação baseada exclusivamente no testemunho de seu próprio chefe de gabinete. Este o desmentiu categoricamente, em tom indignado, e pediu demissão.
A situação em Pernambuco abriu uma crise no seio trabalhista, porque o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) rompeu o acordo costurado entre PDT e PSB, de apoiar João Campos à prefeitura de Recife, e decidiu se engajar na campanha da adversária, a petista Marília Arraes.
Gadelha queria se lançar à prefeitura da capital pernambucana, mas as direções nacionais de PDT e PSB firmaram uma parceria, na qual se acordou que o candidato de Recife seria um quadro do PSB, com vice do PDT. Em outras cidades, como no Rio de Janeiro, o acordo foi invertido: a candidata trabalhista ficou na cabeça de chapa, e o PSB teve o vice.
O acordo nacional nas eleições deste ano visa construir as bases para uma eventual aliança em 2022. O PDT tem muita esperança de que, com apoio do PSB, uma legenda de tamanho razoável, que governa muitas cidades no país, o seu candidato Ciro Gomes tenha mais chances de chegar ao segundo turno. Em 2018, havia essa expectativa, mas o PSB preferiu manter a neutralidade no 1o turno, após uma articulação do PT para retirar a candidatura de Marília Arraes ao governo do estado, o que abriu caminho para a reeleição de Paulo Câmara.
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, um dos principais articuladores da aliança entre os dois partidos, não escondeu sua indignação com o que ele chamou de “trairagem”.
Agora em Recife! pic.twitter.com/qSyFiSuDZg
— Carlos Lupi 🇧🇷🌹 (@CarlosLupiPDT) November 22, 2020
A partir de agora, a presença de Gadelha no PDT corre sério risco.
Segundo apuramos, a maioria dos membros da Fundação Leonel Brizola em Pernambuco, instituição que cuida dos interesses políticos do PDT em cada estado, está chocada e decepcionada com a postura de Gadelha. O presidente da Fundação, Pedro Josephi, que foi candidato a vereador este ano (teve 2.103 votos, e não se elegeu), e que era muito próximo de Tulio Gadelha, tem se manifestado nas redes contra a posição do deputado.
Minha total solidariedade a @RafaelBezerrade companheiro com que milito há 12 anos. Sempre foi um cara ético e honesto. Um líder jamais poderia jogar a imagem de alguém do “seu” time assim no lixo. Aos poucos a verdade vai aparecendo e o vitimismo de alguns vai caindo por terra. https://t.co/ZcjKLWO2MS
— Pedro Josephi (@PedroJosephi) November 23, 2020
Gadelha se isolou em seu próprio partido.
No primeiro turno, o resultado das eleições em Recife ficou bastante apertado, com João Campos obtendo 29,13% do votos, e Marília Arraes, 27,9%.
As primeiras pesquisas mostram vantagem de quase 10 pontos para Marília Arraes, mas o PSB é uma legenda com força impressionante em Pernambuco. O partido – que governa o estado – elegeu agora 12 dos 39 vereadores da Câmara de Recife. O PT elegeu 3 vereadores. O PSOL, dois. O PCdoB, aliado do PSB, elegeu dois vereadores.
Tem sido uma campanha extremamente agressiva, com acusações mútuas de “jogo sujo” e “fake news”. Apoiadores de Marília Arraes tem espalhado registros fotográficos de santinhos que detratam a petista, associando-os à campanha de João Campos, mas não há provas de que eles vem mesmo da campanha socialista; podem ter sido produzidos por candidatos conservadores, para a campanha de primeiro turno.
Os observadores distantes do caos em que se tornou a eleição no Recife já se perguntam quais serão suas principais consequências? A aliança entre PDT e PSB emergirá mais consolidada? Ou seria o contrário? Ganhando Recife, o PT não teria mais força para obrigar o PSB a ficar neutro mais uma vez, evitando que o PDT ganhe musculatura para disputar com mais competitividade uma vaga no segundo turno nas eleições presidenciais de 2022?
As emoções serão grandes nos próximos dias!
Francisco*
23/11/2020 - 13h00
Deixa ver se entendi…
O deputado do PDT, apoiador de Marilia Arraes contra orientação do PDT, tuita:
“Meu chefe de gabinete foi procurado pela coordenação da campanha do PSB no Recife. Disse que eles estavam querendo ‘negociar o meu silêncio’ nesse segundo turno. Dá pra acreditar?! Me senti testemunha de um crime. Crime mesmo foi o que eles fizeram nesses últimos anos no Recife”.
O chefe de gabinete em questão, até então supostamente utilizado como intermediário da suposta ‘proposta’ feita pela coordenação da campanha do PSB no Recife, tuita em resposta:
“Gostaria de registrar, como Chefe de Gabinete do Deputado Federal @tuliogadelha, que li o seu mais recente Twitter com grande consternação e tristeza.”
“Ainda que os elementos da comunicação estejam suscetíveis a ruídos, afirmar algo que nunca aconteceu fere o que poderia se considerar contornável mesmo dentro do que conhecemos como ‘jogo político’. ”
“Assim, é com muito pesar que me deparo com uma tentativa de exposição quase vil que, ainda que tenha muito me afetado, não conseguirá manchar um trabalho sério e árduo construído até então.”
“E não me posicionar seria não responder aos meus colegas de Gabinete, colegas de Ministério Público, companheiros do Partido, meus familiares e aos meus pares de uma vida inteira de luta.”
“Com lamento, perplexidade e indignação, despeço-me da composição de um mandato que construímos com grande implicação e compromisso. Sigo no PDT e na construção de um Projeto Nacional de Desenvolvimento. Sigamos, pois esse projeto é maior do que todos nós.”
A primeira vista, de duas, uma, ou o deputado federal, do nada e sem sequer conversar com o chefe de gabinete sobre, inventou essa estória em que o dito chefe não faz parte, ou o chefe de gabinete topou consertar a história não inventada, ficando com o PDT, como vítima fiel e dedicada, obviamente, ao largar o deputado supostamente pinel, ou alguém consegue concebe-lo, em seu perfeito estado de juízo, inventando estória em que participa o chefe de gabinete sem sequer informa-lo, quanto mais consulta-lo, sobre a dita? Pode isso Queiroz?
Ah! Ia esquecendo, a segunda vista, o tuitter, “Ainda que os elementos da comunicação estejam suscetíveis a ruídos, afirmar algo que nunca aconteceu fere o que poderia se considerar contornável mesmo dentro do que conhecemos como ‘jogo político’.”, sei não…, pode, com adequada intelecção, indicar que de fato o chefe de gabinete transou ‘elementos da comunicação’, ‘suscetíveis a ruídos’, com o deputado, que então, apenas um quarto pinel, não entendeu o ‘jogo político’ e, ‘incontornávelmente’, acabou trocando, ‘conhaque de alcatrão’ por ‘catraca de canhão’, entendem?
Diria o Nascimento, Edson, antes de Jack, não o estripador, Palance, encerrar a estória do chefe de gabinete com: ‘Acredite Se Quiser!’
Renner Malta
23/11/2020 - 12h36
O PDT nao expulsou a galera q votou contra trabalhador e quer penalizar o deputado de recife. Eh coerente sim, pode confiar.
André Araujo
23/11/2020 - 11h22
Túlio fez o certo! Ciro o Tulio traiu o PDT e o Tulio Gadelha. Ninguém do PDT raiz quis apoiar esses bandidos da família campos.
Franklin
23/11/2020 - 10h46
Primeiro isso aí não é briga na justiça. Código de Hamurab? Foi longe em.
Se Gadelha disse e o assessor negou. Qualquer um pode estar mentindo. Como o Gadelha tem muito mais a perder que o assessor. Acho razoável acreditar no Gadelha. Até porque este tipo de coisa dito por Gadelha é comum na política. Imagina nessa eleição barra pesada.
De toda a forma é bom o PDT fazer política. Muito bem. Pra depois não ficar de mimi, porque o Lula foi mais habilidoso.
jose carlos rodrigues arana
23/11/2020 - 10h37
O ex-vereador Estéfano Menudo, pai da vereadora Nathalia de Menudo, do PSB, em um culto,sem saber que estava sendo gravado, disse aos “irmãos” presentes para não votarem em Marília Arraes para que ele não perca 232 cargos que tem na prefeitura.
O vídeo está disponível nas redes.
jose carlos rodrigues arana
23/11/2020 - 10h27
João Paulo, uma das principais lideranças do PC do B também declarou apoio a Marília.
Enquanto isso João Campos adotando mentiras na campanha em sinal de desespero. Que vergonha!
Tiago Silva
23/11/2020 - 09h48
Muitos reclamaram do PT por não deixado a Marília Arraes ser candidata ao Governo de Pernambuco (assim como poderiam relatar que o encontro de Ciro com Lula foi para tentar viabilizar o candidato do PDT para a prefeitura de Fortaleza e escantear a Luiziane)… Porém, na minha opinião, o que o PDT faz com o Túlio Gadelha é bem pior, pois apesar de o PDT ter feito a mesma coisa que o PT em prol de aspirações eleitorais presidenciais de 2022, ainda tenta “queimar” um parlamentar do PDT que é atualmente um dos mais coerentes com o programa e história trabalhista.
O anti-petismo no PDT vai destruindo o próprio PDT, pois o anti-petismo é uma anti-Esquerda (porém sempre voltado ao candidato ou partido que tenha mais chances de atrapalhar as medidas Neoliberais pós Golpe).
Tiago Silva
23/11/2020 - 09h37
Qual a razão deste blog querer “queimar” um dos poucos quadros do PDT atual que segue (principalmente através de votos e propostas) o programa trabalhista?
Sebastião
23/11/2020 - 11h04
Porque o blog é entusiasta da coligação PSB/PDT, que visam dá sustentação a candidatura de Ciro em 2022.
Agora, fica o dito pelo não dito?! Túlio iria ficar se expondo assim? O chefe de gabinete pode ter a preferência política dele, e voltado atrás após fazer o inferno… Tudo é possível na política!
Ser chefe de gabinete não configura 100% de confiança entre ambos… Política não se confia 100% em ninguém, mas somente o lado profissional deve ser levado em conta. E nisso, deve existir a ética profissional.
Fábio maia
23/11/2020 - 07h34
Acordos nacionais não eram considerados autoritários? Pimenta no olho dos outros e refresco de maracujá!!!