A virulência com que alguns militantes e eleitores de esquerda estão tentando empurrar – mais uma vez – o PDT para a direita no espectro político me fez refletir.
E se o PDT for mesmo um partido de direita? E se o Ciro Gomes for um expoente do conservadorismo nacional? Se assim for, minha capacidade de análise está realmente prejudicada e peço que as leitoras desconsiderem minhas colunas aqui no Cafezinho dos últimos 4 anos e pouco – ou seja, todas.
Talvez o critério para definir se alguém é de esquerda é o purismo. Quem se alia com a direita não é de esquerda. Parece um bom critério – ao menos é simples e prático.
Sob esse critério, é forçoso reconhecer que o PDT não é um partido de esquerda, pois faz alianças com a direita. Contudo, o PT também faz alianças com a direita. E o PT é considerado um partido de esquerda por muitos dos que vociferam contra Ciro e o PDT.
O PSOL, este sim seria um partido de esquerda. Puro e imaculado. Mas o PSOL está bastante próximo do PT. Muitos militantes do PSOL consideram que o PT está à esquerda do PDT. E o PT faz aliança com a direita. Governou o país com a direita. Por esse critério, portanto, é um partido de direita. E, nesse caso, o PSOL também é de direita, porque faz aliança com partido de direita.
Ficou confuso. Melhor tentar outro critério.
Política econômica, quem sabe? É o que define, afinal, para onde vão os recursos do país, para os grandes ou para os pequenos, para os especuladores ou para os trabalhadores.
O PSOL é de esquerda, sem dúvidas. Vamos comparar o PT com o PDT, então.
Lula, o líder máximo do PT, adotou políticas econômicas neoliberais em boa parte do seu governo. Ciro Gomes, líder máximo do PDT, se engalfinha com liberais em debates religiosamente, há mais de 20 anos.
Lula se orgulha, em seus discursos, de que os bancos nunca ganharam tanto dinheiro nesse país quanto nos seus governos. Henrique Meirelles, um banqueiro conservador, foi presidente do Banco Central nos oito anos do seu governo. Dilma Rousseff nomeou um cara do Bradesco para o Ministério da Fazenda após se reeleger em 2014. Ciro Gomes bate na especulação financeira religiosamente, há mais de 20 anos.
Dilma vetou a auditoria da dívida pública no auge das movimentações pelo impeachment, em seu segundo mandato. A auditoria havia sido milagrosamente aprovada pelo Congresso Nacional. Ciro bate no gasto de metade do orçamento nacional com a dívida pública religiosamente, há mais de 20 anos.
Curioso. Esse critério é importante, mas ainda assim o PT parece figurar à esquerda no imaginário de uma parcela dos militantes e eleitores.
Talvez seja a estética, então. O PT usa mais a cor vermelha que o PDT…
Ou, quem sabe, o comportamento do partido imediatamente após o 1º turno das eleições seja o critério supremo para a averiguação ideológica.
Não subiu no palanque do PT no 2º turno? Direita. “Mas transferiu os votos e…” Não interessa. Direita. Demorou mais de doze horas para definir o apoio a apoio a uma candidatura do campo progressista? Direita. “Mas e a reciprocidade no apoio em outras cidades e…” Não interessa. Direita.
Sei lá, viu. Acho que o cara do Bradesco na Fazenda pesa mais…