Por Gabriel Barbosa
Em julho deste ano, conversava com um amigo publicitário, experiente em campanhas políticas, sobre o esgarçamento dos extremos políticos, no sentido das paixões, representados pelo ex-presidente Lula e o atual chefe do executivo, Jair Bolsonaro, e como isso poderia influenciar no pleito municipal.
De praxe, analisamos que figuras políticas que escolhem navegar nos discursos inflamados tendem a se tornar datados, pois sobrevivem apenas do exagero, antagonismo, e ambas as qualidades vão perdendo sentido com o tempo, esgotando os recursos simbólicos e de narrativa. Em outras palavras, isso exaure a cabeça do eleitor que acaba se afastando do ringue.
É claro que em se tratando de luta, carisma e no trato político, o ex-presidente Lula têm mais relevância histórica do que o estreitismo de Bolsonaro, que se elegeu por antagonismo a desmoralização da era Dilma-Temer e a total desorganização das forças tradicionais da política.
Mas o ponto é justamente esse, ser eleito na base do antagonismo cobra seu preço e com 22 meses de governo, Bolsonaro já perdeu o gás nesse sentido, tanto é que algumas candidaturas que receberam seu apoio estão derretendo nas intenções de voto como Delegada Patrícia Domingos (Podemos) em Recife, Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro, Celso Russomano (Republicanos) em São Paulo e Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte.
Além disso, a rejeição de Bolsonaro ultrapassa os 50% em algumas capitais como São Paulo, Fortaleza e Salvador.
No caso de Lula, sua força política como oposição a Bolsonaro está sendo testada nas candidaturas próprias do PT e o resultado não é nada animador. Das 14 capitais com chapa “puro sangue”, o PT só têm reais chances com João Coser em Vitória e Marília Arraes no Recife. Apesar disso, ambas as candidaturas tiveram uma certa resistência em adotar a estratégia sugerida pela cúpula do partido de fazer a defesa de Lula e ressaltar o legado do PT durante a campanha.
Sendo assim, as candidaturas de Centro ocupam um papel estratégico no xadrez político de afastar as arestas do radicalismo e se apresentarem aos eleitores de forma prática, mostrando no concreto suas propostas. O exemplo caricato é Alexandre Kalil que deve ser reeleito por aclamação em Belo Horizonte. Na última pesquisa do Datafolha, o prefeito estava com 63% das intenções de voto, 55 pontos a frente do segundo colocado, João Vitor Xavier (Cidadania) que estava com apenas 8%.
O partido de Kalil, PSD, têm chances de triplicar sua presença nas prefeituras no pleito de 2020. Entre as 95 maiores cidades do país, a legenda comandada por Gilberto Kassab possui quatro prefeituras, podendo saltar para 12. Se a tendência for confirmada, o partido de Centro pode tomar a vice-liderança do PSDB, saindo de 10% para 15%. A cereja do bolo continuará com o MDB que deve eleger 20% dos prefeitos.
Presidido pelo atual prefeito de Salvador, ACM Neto, o DEM não terá um crescimento exponencial como o PSD, mas deve continuar exercendo seu poder de influência em possíveis alianças para 2022, começando pelo estado da Bahia, onde Neto pretende lançar sua candidatura ao Governo Estadual.
Na capital baiana, o candidato Bruno Reis pode se eleger com folga em 1° turno. De acordo com a última pesquisa do Big Data/CNN, o demista têm 56% das intenções de voto, 40 pontos a frente da candidata Major Denice (PT) que aparece com 16%. A militar é apoiada pelo governador Rui Costa.
O fato é que as eleições municipais devem servir de termômetro para quem deseja apresentar um projeto de alternativa ao desmonte patrocinado pelo presidente Jair Bolsonaro e ao atraso retórico, hegemônico e econômico defendido por Lula que insiste no discurso popular, mas que nos bastidores seu partido age em defesa de um projeto liberal como o projeto de autonomia do Banco Central. Vamos aguardar os próximos capítulos!