Por Gabriel Barbosa
Não é novidade que o governador do Ceará, Camilo Santana, carrega em seus traços a arte da persuasão e do diálogo para ter êxito no trato político. O exemplo mais evidente é seu arco de aliança no estado, incluindo partidos nacionalmente adversários como PT e DEM, aliados locais desde 2002.
Pois bem, o reencontro entre o ex-presidente Lula e o vice-presidente Nacional do PDT, Ciro Gomes, em Setembro, passou pela articulação sútil e habilidosa de Camilo. Evidente que também é preciso analisar essa movimentação levando em consideração a eleição municipal de Fortaleza.
No radar do chefe do executivo cearense, uma prioridade: abrir diálogo com Lula para que o PT apoiasse a candidatura de Sarto Nogueira, deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, o nome escolhido pelo PDT para concorrer a Prefeitura da capital cearense.
Porém, a candidatura de Luizianne Lins pelo PT representava simbolicamente um eixo de resistência as movimentações de Ciro em relação ao partido, por ora justas e injustas. Cada um no seu lugar e a seu tempo, Lula e Ciro selaram um pacto de não agressão, mas sem que o PT abrisse mão da candidatura de Luizianne que naquela altura já estava no jogo.
O resultado dessa movimentação não saiu como o planejado por Camilo, mas a carga simbólica do encontro entre os dois líderes nacionais em meio a uma tensão política que se arrasta desde 2018 entre PT e PDT abriu o caminho para que o líder petista cearense tente aparar as arestas no campo progressista visando 2022, incluindo no pacote um diálogo franco com o centro político.
É claro que a empreitada será um festival de incertezas e que exigirá muito jogo de cintura para se chegar a um entendimento nacional. Porém, Camilo está disposto a maturar o debate com outras forças até se chegar a um consenso sobre quem pode bater de frente com o presidente Jair Bolsonaro na próxima eleição presidencial.
Assim sendo, o governador do Ceará como um dos mais populares do Nordeste com 51% de aprovação, segundo o Ibope, assumirá esse papel estratégico de modo sútil e habilidoso com o aval de Ciro Gomes e o próprio Lula já em 2021. Xeque-mate a conferir!
Ian Lopes
04/11/2020 - 20h54
Gabriel, o último parágrafo dá a entender – mesmo com o erro do corretor ortográfico – que Camilo Santana é o governador mais popular do nordeste.
Essa informação é inverídica. No link abaixo pode-se ver o resultado da mesma pesquisa feita na Bahia, que mostra Rui Costa (PT) com um percentual de aprovação superior ao do governador do Ceará.
https://g1.globo.com/ba/bahia/eleicoes/2020/noticia/2020/10/30/pesquisa-ibope-veja-avaliacao-de-acm-neto-rui-costa-e-bolsonaro-em-salvador.ghtml
Muito obrigado pela atenção.
Gabriel Barbosa
05/11/2020 - 08h06
Sim, Ian! Agradeço seu feedback, a informação foi corrigida. :)
Alexandre Neres
04/11/2020 - 18h23
Isso que é uma matéria, Gabriel. Salve, salve. Este blogue tem muita culpa por ter açulado esses cachorros loucos, os caras são obsessivos com o PT. Será que eles não veem que por quem o Brasil é desgovernado, não conseguem enxergar um palmo diante do nariz? Tem que aprender a escolher melhor seu adversário, isso beira a loucura. Para quem conhece a história dos trabalhistas históricos, Brizola mostrou como é que se faz em 1989, carregando Lula nas costas. Vargas e Goulart, ao tentarem levar a cabo reformas de verdade e não as neoliberais de hoje, foram golpeados ou houve a tentativa, com o motivo de sempre: corrupção e comunismo. Até JK não passou incólume. Quem desconhece o passado, condena-se a repeti-lo.
Porém, o momento é de relevar as rixas, somos brasileiros e não desistimos fácil, temos que olhar pra frente. Esse encontro foi o primeiro passo, selou uma trégua, nada significa que pode ir adiante. Deve ser ressaltada a habilidade política de Camilo Santana. Não tem cabimento eleitores do PT não se voltarem contra o tal Capitão e Paes caso Sarto e Martha passem para o segundo turno e eles não, tal qual Tatto não ataca Boulos. O adversário salta aos olhos.
Já acusei diversas vezes este blogue de pusilanimidade. Se aproveitar do ataque do establishment para tentar diminuir a estatura da maior liderança popular brasileira de todos os tempos, segundo o insuspeito Reinaldo Azevedo, foi de uma burrice sem par, ainda que possa ter contado alguns pontinhos em cálculos meramente eleitorais, pois isso se volta de uma forma ou de outra contra toda a esquerda, contra todo o campo progressista. Lula teve a vida esquadrinhada, ninguém foi alvo de tamanha persecução como ele. Também pudera, não pertence ao seleto grupo dos donos do poder que mandam neste país a partir de 1500. Nada foi descoberto ou comprovado contra ele desde que Ciro sugeriu levá-lo para uma embaixada.
Argentina, Bolívia, Chile. EUA? Os ventos mudaram. Ouso sonhar. O que houve pode ter sido o primeiro passo. Como disse você, o simbolismo do reencontro foi tão forte que a casa grande surtou. Ficou no vácuo. Camilo que me perdoe, mas não é hora para amadores. Quem sabe o PT não demonstre que aprendeu, se deixarem espaço para o partido ocupar esse papel, e abra mão do hegemonismo. Quem sabe não se torne possível, com uma construção hábil e aparando arestas, uma chapa verdadeiramente forte para enfrentarmos de peito aberto o capetão? João Santana já sugeriu qual seria a chapa dos sonhos e olhe que, embora se possa discordar dele e dos seus métodos, ninguém pode deixar de reconhecer que ele é do ramo e entende do assunto.
Gabriel Barbosa
04/11/2020 - 18h27
Obrigado pelas palavras, Alexandre. Fico feliz em saber que um leitor qualificado como você aprovou essa humilde análise. :)