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O slogan da delegada

Li algumas críticas de pessoas de esquerda a um dos slogans de Martha Rocha, candidata do PDT à prefeitura do Rio de Janeiro. Os críticos não gostaram do “Chama a delegada” por conta do seu caráter, digamos, policialesco. Vi gente dizendo inclusive que não votaria nela por causa do slogan – uma motivação para o […]

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Foto: Julia Passos

Li algumas críticas de pessoas de esquerda a um dos slogans de Martha Rocha, candidata do PDT à prefeitura do Rio de Janeiro. Os críticos não gostaram do “Chama a delegada” por conta do seu caráter, digamos, policialesco. Vi gente dizendo inclusive que não votaria nela por causa do slogan – uma motivação para o voto no mínimo curiosa.

Slogan é slogan, e por mais desagradável que seja, não costuma dizer muita coisa sobre projetos ou planos de governo. No caso de Martha Rocha a tática é explorar seu cargo de delegada para atrair o eleitorado preocupado com a questão da segurança pública – uma parcela considerável da população, a julgar pela eleição de Bolsonaro, que prometia jogar duro nessa cuestão aí, e de tantos políticos ligados às forças policiais.

Isso não significa necessariamente que Martha é da turma do “bandido bom é bandido morto” ou algo que o valha. Ela caminha, na verdade, no sentido contrário, conforme declarou em entrevista à Folha:

Quem acompanhou minha trajetória na polícia sabe que sempre fortaleci o respeito aos direitos humanos. Incluímos o nome social [de travestis em registros de ocorrência], a motivação de homofobia [em crimes violentos], o que me deu o título de musa LGBT. Na minha gestão, criamos protocolos para atuação nos casos de auto de resistência [pessoas mortas pela polícia]. Se as pessoas querem um rótulo, sou uma delegada de esquerda

Ressaltar suas ações nas questões dos autos de resistência e da homofobia, na defesa dos direitos humanos e de travestis e ainda se dizer uma “delegada de esquerda” não seria, convenhamos, a melhor estratégia para a candidata se ela se alinhasse ao conservadorismo que aplaude e fomenta o estado policial. Orlando Zaccone, um dos expoentes dos policiais antifascistas, lembrou outro caso em que a delegada Martha atuou em defesa de pautas progressistas.

Vejamos outro exemplo de ação da campanha da candidata:

Fonte: Facebook da candidata

Uma análise sociológica não poderia deixar de constatar que o fortalecimento do antagonismo entre o delegado e o malandro não é lá muito positivo, pois essa dicotomia é fundamental para a manutenção do estado policial. No entanto, não é em uma campanha eleitoral que isso se resolverá.

No estado de coisas em que nos encontramos, utilizar esse antagonismo tão arraigado na população para eleger uma candidata progressista é, me parece, uma jogada inteligente. Chegar ao poder executivo é um dos caminhos mais efetivos para que se implementem ações contundentes contra o estado policial. Estando no poder, Martha pode utilizar sua atuação na questão dos autos de resistência para fomentar o debate sobre o assunto, politizando a população, e, assim, ter condições de implementar ações efetivas de combate à tragédia da violência policial.

No mais, apresentar Eduardo Paes como o malandro que está com medo da delegada Martha foi uma boa sacada. Assim como o distintivo emoldurando o número da candidata.

A estratégia de ressaltar o cargo de delegada é uma boa maneira de retirar da direita a exclusividade sobre a pauta da segurança pública, algo evidentemente necessário se pretendemos chegar aos principais cargo de poder do país.

As críticas a esta abordagem são sintomas de dois tipos de purismo que acometem alguns setores da esquerda.

Um, meio inconsequente, parece pretender chegar ao poder apenas quando a população estiver majoritariamente alinhada com os mais nobres ideais progressistas de direitos humanos, distribuição de renda e liberdades de costumes – daqui a algumas décadas, portanto.

Outro é o purismo de goela: na oposição defende a pauta máxima, briga por todos os princípios ideológicos e não abre mão de uma mísera bandeira partidária sequer. No governo, abraça banqueiros, grandes empresários, especuladores, barões da mídia etc., uma festa danada, como diria o Paulo Guedes.

Para estes, o melhor slogan é provavelmente o do governo Lula: Brasil, Um País de Todos, que remete à elogiável inclusão de setores historicamente marginalizados da sociedade, mas também faz lembrar que os “banqueiros nunca ganharam tanto nesse país quanto nos meus governos”, como costuma dizer o ex-presidente. Os banqueiros incluem-se no todos, é claro, só que incluem-se um pouco mais que os outros.

O país era de todos, mas continuava sendo mais dos banqueiros, mesmo. Se a questão é o slogan, eis aí um slogan certeiro e coerente.

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Pedro Breier

Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.

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Comentários

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NeoTupi

28/10/2020 - 19h27

Seria melhor ir direto ao ponto e assumir Maquiavel, que os fins justificam os meios, sem dar tantas voltas e sem agredir de forma simplória o governo de esquerda que sofreu golpe com apoio unânime dos banqueiros.
Seguir Maquiavel eu compreendo perfeitamente em eleições.
Não compreendo é falta de crítica a visão curtissimo prazo, pois é mais uma campanha jogando água no moinho da anti-politica, que valoriza o discurso de que só presta quem tem carreira fora da política (coisa q não ajuda Ciro em 2022). Mais grave no Rio onde a milícia ocupa a política com seus cabos, sargentos, capitães, coronéis, etc se candidatando.
Para piorar tinha q fazer uma crítica intelectualmente pobre e simplória ao governo de esquerda que PDt, PSB participaram. Pois o mercado financeiro foi unânime em apoiar o golpe, e antes do golpe sempre apoiou eleitoralmente tucanos contra o governo de esquerda. Por esse raciocínio os banqueiros teriam se convertido em revolucionários socialistas derrubando um governo para reduzir seus lucros.

Tiago Silva

28/10/2020 - 17h49

O comentarista preferiu a superficialidade… E brindou ao final quando falou dos banqueiros!!! E quando os Banqueiros não ganharam? Aliás, sempre vêm ganhando cada vez mais… Já ganharam mais com Temer, já ganham mais com Bolsonaro, inclusive batem recordes de lucro/spread mesmo na Pandemia.

Será que para defender o pouco defensável (utilização de uma denominação de um cargo público para fins privados eleitorais, além de insuflar o policialesco que no Brasil não é muito afeito a cumprir a lei e busca fazer justiça fora do processo judicial).

O comentarista merece refletir mais, inclusive para não passar vergonha depois.

Jerson7

28/10/2020 - 15h32

Estelionato eleitoral é a especialidade da esquerda.

Alguém deve ter visto a Manuela Davila toda arrumadinha, camuflada de primeira dama, moderada…?
Essa “delegada” é a mesma coisa.

A falta de vergonha na cara para enganar o eleitor dessa gente não possui limites.

Miramar

28/10/2020 - 15h22

Quer saber? A essa altura do campeonato sou a favor de levar a Delegada a todas as igrejas evangélicas e católicas do Rio, anunciar que vem sofrendo ataques mentirosos da cambada do PT e agregados e pedir por orações de proteção. Era capaz de ganhar no primeiro turno!

Arthur Fonzarelli

28/10/2020 - 14h42

Chama o Meirreles….kkkkkkkk

Alexandre Neres

28/10/2020 - 14h30

Sinceramente Pedro Breier, confesso que esperava mais de você. Você é a favor de qualquer servidor público utilizar para se promover a alcunha de Delegada, Major ou Coronel? Sinal dos tempos!

Em tempos bicudos, se aproveitar do punitivismo exacerbado, do lavajatismo que se incrustou na sociedade, é o fim da picada. Tal slogan presta um desserviço aos direitos fundamentais de todos os cidadãos, que, a bem da verdade, estão sendo desrespeitados a torto e a direito como nunca dantes. Em um momento como este de retrocesso civilizatório, com o estado democrático de direito submergindo, eis que me surge um slogan oportunista, o qual antes da matéria nunca tinha ouvido falar sobre.

Não estou tratando de questões político-eleitorais, estou tratando das condições e das circunstâncias que propiciam tantas nulidades vociferarem juntas o mesmo bordão. Mas neste caso é diferente, né não?

    Renato

    28/10/2020 - 17h30

    Punitivismo exacerbado ? Mas os corruptos não estão mais sendo preso; até o Mega traficante Marcelo do Rap está solto por aí . Que punitivismo é esse?


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