(Atualização: fiz um vídeo com alguns comentários adicionais. Assista abaixo).
A aprovação de Bolsonaro explodiu no Nordeste e nas camadas mais humildes da população, em virtude do Auxílio Emergencial.
Mas é uma lua de mel com data para acabar.
Quando esse apoio dos mais humildes e do Nordeste refluir, Bolsonaro ver-se-á sem a base que o elegeu e que vinha lhe apoiando no primeiro ano de governo, a classe média.
Neste setor, o apoio a Bolsonaro não parou de cair.
Ao mesmo tempo, agora está claro as limitações políticas dos programas de renda mínima.
Numa palestra recente, o ex-presidente Lula declarou: “Provamos ser barato cuidar dos pobres. Difícil é cuidar dos ricos”.
Na verdade, difícil é promover reformas estruturantes que mudem a vida de todos os brasileiros, de pobres a ricos. De fato, é relativamente fácil implementar programas de renda mínima, uma fórmula que o principal ideólogo do neoliberalismo, Milton Friedman, defendia em sua obra mais conhecida, Capitalismo e Liberdade.
Difícil é implementar reformas profundas na educação fundamental.
Difícil é reformar o sistema tributário, de maneira a termos um Estado com capacidade de financiamento para investir pesadamente em infra-estrutura, em saúde, em ciência e tecnologia, de maneira a reposicionar o país na divisão internacional do trabalho.
A explicação para a disparada da aprovação de Bolsonaro junto aos setores mais humildes da população é simples.
Com a pandemia e a suspensão temporária dos obstáculos ideológicos que criminalizavam despesas sociais, o governo passou a gastar cerca de R$ 50 bilhões por mês em auxílios emergenciais. O Bolsa Família custava aproximadamente R$ 30 bilhões por ano.
O impacto desse dinheiro no bolso dos mais pobres foi imediato e profundo, conforme revela pesquisa CNI/Ibope divulgada hoje. Os números estratificados da pesquisa, usados neste post, podem ser baixados aqui.
No Nordeste, a aprovação de Bolsonaro explodiu para 45%, maior índice desde o início de seu mandato. Entre famílias com renda até 1 salário, a aprovação chegou a 48%, igualmente o maior índice da atual administração.
Por outro lado, o presidente nunca ficou tão mal junto a eleitores com renda familiar acima de 5 salários, segmento que era o que mais apoiava Bolsonaro após sua eleição: sua aprovação neste segmento chegou a bater em 63% em junho de 2019, foi caindo paulatinamente e agora chegou a 47%.
Entre eleitores com ensino superior, a aprovação caiu para 41%, menor índice desde o começo da nova administração.
Entretanto, é olhando a rejeição que se entende melhor a mudança no perfil do eleitorado.
A rejeição de Bolsonaro junto a eleitores com renda familiar até um salário tinha chegado a seu maior nível em dezembro, 61%, e agora em setembro de 2020, caiu para 46%, mesmo índice de abril de 2019.
Mas entre eleitores com renda acima de 5 salários, a rejeição a Bolsonaro chegou ao nível máximo, de 51%, o maior desde o início de sua administração.
A mesma coisa se dá entre eleitores com ensino superior, entre os quais a rejeição a Bolsonaro chegou a 55%, igualmente o maior índice da atual gestão.
Reiterando, a aprovação do presidente junto aos mais pobres tem prazo para acabar: assim que a população se der conta de que o auxílio emergencial chegou ao fim, a aprovação ao presidente tende a desabar junto às camadas mais humildes da população.
Como o prestígio de Bolsonaro se deteriorou irremediavelmente junto a classe média, o governo vai ficar órfão de apoio.