– Começa hoje (22) a Assembléia Geral da ONU, que ocorre anualmente em setembro. Será a 75ª AGNU. Conforme a tradição, o Brasil fará a inauguração da sessão tendo direito à primeira fala. Bolsonaro falará pelo Brasil através de um discurso em vídeo, que foi gravado com antecedência. Segundo fontes da imprensa que tiveram acesso ao roteiro, o presidente fala como vítima de uma grande conspiração internacional contra o país, com foco na questão ambiental. Diz também que o Brasil se saiu bem no enfrentamento à pandemia, equilibrando atenção à vida e à economia, e que está sendo atacado em sua soberania através do multilateralismo (leia-se globalismo) que é usado para controlar o Brasil externamente.
– A assembleia geral da ONU ocorre em um ambiente de elevação das sanções dos EUA contra Venezuela e Irã. Em uma cerimônia realizada ontem (21) foram anunciadas as novas medidas que devem afetar o Ministério da Defesa do Irã e a Organização para a Energia Atômica do país (AEOI). Com relação à Venezuela, as medidas são diretamente contra o presidente Nicolás Maduro. As justificativas são que “corruptos funcionários de Teerã trabalharam com o regime ilegítimo da Venezuela para contornar o embargo sobre a venda de armas para o Irã”. Na verdade, os EUA estão passando por cima de decisão do Conselho de Segurança da ONU que por 13 votos a 2 impediu que tais medidas fossem tomadas, como relatei nas Notas do dia 18 de agosto. Outra tensão elevada que ocorre na mesma semana da AGNU tem a ver com a repercussão da visita do subsecretário de Estados dos EUA, Keith Krach, à Taiwan no final da semana passada e que gerou, como reação, manobras das forças navais e aéreas chinesas no Estreito de Taiwan.
– A Itália realizou um referendo popular e eleições nos últimos dias, domingo (20) e segunda (21). O país foi um dos mais duramente atingidos pela pandemia do novo coronavírus e as eleições foram realizadas com um rígido protocolo de biossegurança. Mais de 50% dos aptos a votar compareceram. O referendo foi sobre a diminuição do número de cadeiras no parlamento e aprovou sua diminuição de 945 para 600 congressistas. Era o segundo maior parlamento europeu, atrás apenas do Reino Unido. Seis regiões escolheram seus novos governantes: Toscana, Campania, Puglia, Marche, Ligúria e Veneto. Uma das regiões mais disputadas foi a da Toscana, antigo reduto da esquerda. Eugenio Giani, candidato do PD – Partido Democrático (centro-esquerda), venceu com 47% dos votos e a candidata da Liga (Salvini), Susanna Ceccardi ficou com 40%. De acordo com as últimas notícias, a coalizão conservadora liderada por Salvini, que reúne além da Liga (direita ultranacionalista), a Força Itália, de Berlusconi, e a Irmãos da Itália (neofascistas), ganhou em três regiões: Veneto, Ligúria e Marche. Na Campania venceu o PD e em Puglia um independentista populista (sem partido).
– Nos EUA, o final de semana passado foi de homenagens à juíza da suprema corte do país, Ruth Bader Ginsburg, falecida na sexta-feira (18). Ela foi a segunda mulher a entrar na Suprema Corte e ocupava o cargo desde 1993, quando foi nomeada por Bill Clinton. Ginsburg se consolidou como um ícone norte-americano na luta pela igualdade entre homens e mulheres. Sempre se posicionou também por justiça para negros, migrantes e a comunidade LGBT. Mas, por trás das homenagens, o que mais se discutiu mesmo no mundo político norte-americano nos últimos dias foi a substituição da magistrada faltando menos de 50 dias para as eleições de 3 de novembro. Uma indicação de Trump para substituir Ginsburg pode fazer com que a Corte assuma um perfil mais conservador nos próximos anos. Lembre-se que Ginsburg foi uma defensora do direito ao aborto, casamento homoafetivo, direitos dos migrantes. Pautas contrárias às defendidas por Trump e seus eleitores. A indicação de Trump precisa ser aprovada pelo Senado, que hoje tem maioria republicana. O Senado pode votar a indicação de Trump antes ou depois do 3 de novembro. Duas senadoras republicanas, Lisa Murkowski (Alasca) e Susan Collins (Maine) já se posicionaram contrárias à nomeação em 2020, caso mais dois senadores republicanos se posicionem assim, a indicação não prospera. Se Trump conseguir fazer mais essa indicação, terão sido 3 juízes indicados em seu mandato. O que é considerado bastante, dado que os cargos na Suprema Corte são vitalícios. Segundo a imprensa americana, em uma de suas últimas entrevistas a uma emissora de rádio, Ginsburg teria dito que seu “desejo mais fervoroso” antes de falecer era que se evitasse sua substituição até que um novo presidente assumisse o cargo. A polarização eleitoral entre republicanos e democratas ganha mais um elemento em sua reta final e aumenta o nível de dramaticidade de uma vitória ou permanência de Trump no poder.
– A visita de Pompeo ao Brasil na última sexta (18) repercutiu muito no mundo político. Para além dos partidos e movimentos da esquerda, o posicionamento de maior destaque foi do presidente da Câmara Rodrigo Maia. O posicionamento recebeu reações por parte do governo Bolsonaro, especialmente do chanceler Ernesto Araújo. Em resposta, seis ex-chanceleres brasileiros assinaram nota apoiando Maia. Entre eles, FHC, Francisco Rezek, Celso Lafer, Celso Amorim, José Serra e Aloysio Nunes. E parece que a frase que ecoou da visita de Pompeo, “vamos tirá-lo de lá” não foi exatamente essa, embora a mensagem fosse. A embaixada norte-americana no Brasil fez um pedido às redações dos principais jornais para ajustarem o que pode ter sido um erro do intérprete que fez o trabalho de tradução da fala do secretário de estado. Na verdade, ele teria dito: “nossa vontade é consistente, nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo”, como sequência da frase: “os Estados Unidos também indiciaram Nicolás Maduro por tráfico de drogas. Não devemos esquecer que ele não é apenas um líder que destruiu seu próprio país, provocando uma das crises de mais extraordinárias proporções da história moderna, ele também e um traficante de drogas, levando drogas ilícitas para os EUA, impactando os americanos todos os dias”. Em resumo, com ou sem má tradução a mensagem é clara: os EUA se acham no direito de retirar Maduro do poder e usaram território brasileiro (Roraima) como palco e “campo de batalha”, como disse Amorim, para o intervencionismo norte-americano e ato de guerra contra Venezuela.
– A fumaça das queimadas na Amazônia e no Pantanal se espalha pela América Latina, de acordo com imagens divulgadas pelo Inpe. Uma nuvem cinza já chegou ao Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Mas, segundo o presidente Bolsonaro, são “apenas alguns focos de incêndio”. E como disse o sociólogo Celso Rocha de Barros, “a visão de Bolsonaro para o Brasil é Serra Pelada sob administração do Major Curió” (FSP).
– Chegou ao Brasil no último final de semana (20) o novo caça Gripen de fabricação sueca (com transferência de tecnologia) da FAB – Força Aérea Brasileira de um total de 36 unidades adquiridas pelo Governo Dilma em 2013. Mas há uma curiosidade, ele chegou de navio e não voando. As informações são de que ele ainda está em fase de testes e terminará de ser equipado no Brasil.
– Duas notas sobre a reunião de ministros de relações exteriores da União Europeia ocorrida ontem (21). Não foram aprovadas sanções contra autoridades da Bielorrússia, pois o governo do Chipre impôs a condição de que as mesmas medidas fossem tomadas contra o governo da Turquia, por violação de direitos humanos do povo chipriota. Foram aprovadas novas sanções contra autoridades da Líbia, como proibição de viagens e congelamento de bens. Já tratei diversas vezes aqui nas Notas que a Líbia é um completo caos desde 2011 quando da derrubada de Kadhafi por Obama dos EUA e governantes europeus. Desde 2019 a situação se agravou com a tomada de parte do país pelas forças do marechal Khalifa Haftar e a guerra por ele travada contra Fayez al-Sarraj que tenta governar o país apoiado pela ONU. No final de semana Haftar desbloqueou a extração de petróleo de alguns poços. A Líbia possui as maiores reservas de petróleo da África e calcula-se que o bloqueio já causou prejuízos na casa dos 10 bilhões de dólares.
– Na corrida mundial por uma vacina para o novo coronavírus, que provoca a Covid-19, os países mais ricos estão comprando lotes de vacinas ainda em teste. Segundo dados da Oxfam, difundidos em uma reportagem do Brasil de Fato, os países mais ricos e que possuem 13% da população mundial já compraram 51% das vacinas em fase de desenvolvimento. As cinco vacinas mais avançadas nos testes são as da Univ. Oxford/Astrazeneca, a do Instituto Gamelaya da Rússia (Sputnik V), a chinesa Sinovac (Coronavac), a da Pfizer e a da Moderna. Segundo a Oxfam, a vacina da norte-americana Moderna, por exemplo, tem sido vendida entre 12 a 16 dólares uma dose nos EUA e a 35 dólares para outros países. Países como a Índia e o Brasil, com grandes populações, alta incidência de contágios pelo vírus e que tem fornecido voluntários para os testes podem ficar desguarnecidos da vacina, se não for feita uma gestão global do imunizante que leve em conta não o lucro das farmacêuticas, mas a saúde das populações mais vulneráveis.
– Completam-se neste mês de setembro de 2020 os 400 anos da saída do navio Mayflower de Plymouth Inglaterra em direção ao “novo mundo” na América do Norte. O navio levou cerca de 100 religiosos puritanos que escapavam de perseguições e discriminação na Inglaterra. A chegada do Mayflower no continente americano provocou o encontro inevitável e fatal entre os colonos brancos e os povos indígenas nativos. Em cima da romantização desse encontro foi criado o feriado de Ação de Graças ou Thanksgiving nos EUA, como alusão a uma suposta festividade de confraternização entre os ingleses e os nativos. Fato é que a data tem sido mais um gancho para discutir a história da colonização das Américas e a desterritorialização e sofrimento imposto aos povos nativos, como o povo Wampanoag, que residia no território do atual estado de Massachussets, onde os peregrinos religiosos ingleses do Mayflower se estabeleceram. Conta-se que o povo Wampanoag ensinou aos religiosos ingleses a pescar, caçar e cultivar o milho, mas, como é sabido, a coexistência pacífica não duraria e os indígenas seriam exterminados nas décadas seguintes.
Jerson7
22/09/2020 - 10h05
Existe orgão mais inutil que a ONU…?