– A explicação para o alto preço do arroz no Brasil vem também de um olhar sobre o mercado internacional. Ainda em outubro do ano passado, já se sabia que uma quebra de safra nos EUA favoreceria o arroz brasileiro. Já se anunciava que a colheita de arroz nos EUA seria pelo menos 16% menor para a safra 2019/20, perto de 1,7 milhão de toneladas a menos, em razão do atraso para plantio gerado por problemas climáticos. O fim das exportações dos EUA para a Venezuela também foi benéfico para o Brasil que passou a vender ainda mais para Caracas do que já vendia e se beneficiou de uma triangulação com a China. Esse “presente dos céus” veio para os rizicultores brasileiros em um momento em que estes já tentavam a renegociação de suas dívidas com o governo, após perda de rentabilidade há três temporadas do ciclo do arroz. Países que nunca compraram do Brasil, como Peru e Irã, passaram a adquiri-lo. Assim como foi ampliado o montante vendido para o Iraque, a Arábia Saudita e aqui nas Américas para o Peru e o México (tradicional comprador dos EUA e Uruguai). Em maio de 2020, a imprensa começou a divulgar que em abril as exportações brasileiras de arroz haviam aumentado em 75,6% em relação a março, segundo dados da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz). No mesmo período as importações caíram gerando o prenúncio de um desabastecimento interno. Em reportagem daquela época, Tiago Sarmento, do Sindarroz-RS, disse que “o crescimento das exportações e a queda das importações” eram “reflexos do câmbio” que estaria impulsionando as vendas externas. O Rio Grande do Sul responde por 90% da exportação do arroz brasileiro e 70% da produção nacional. Um fator importante é que a exportação aumentou significativamente mesmo com a redução da produção em 20%, o que pode explicar também em parte a elevação do preço internamente. Outra explicação importante é que países grandes exportadores de arroz como China e Índia, além de terem tido problemas com as safras (inundações na China), também fizeram uma política de gestão especial dos alimentos essenciais por conta da pandemia. Com foco para a população de seus países e privilégio do mercado interno. O governo brasileiro, além de não reconhecer a gravidade da pandemia, não fez nenhuma gestão nesse sentido de resguardar a soberania alimentar do povo brasileiro, são públicos os dados sobre a destruição da política nacional de abastecimento e armazenagem pública de alimentos.
– O candidato americano e conselheiro da Casa Branca para América Latina, Maurício Claver-Carone, foi mesmo eleito para presidir o BID nos próximos cinco anos. Foram 30 votos a favor e 15 abstenções, em votação realizada no último sábado (12). Ele vai substituir Luis Alberto Moreno que está no comando do banco desde 2005. Como já tratei diversas vezes aqui nas Notas, o BID tem sido comandado desde 1959 por presidentes latino-americanos. O governo argentino foi o que mais se empenhou no adiamento da eleição, o México chegou a fazer coro, mas por fim recuou e decidiu não bloquear a votação.
– Depois do acordo com os Emirados Árabes Unidos, Israel avança em um acordo com o Reino do Bahrein. Novamente a divulgação foi feita em conjunto com os EUA. Trata-se de um acordo de “normalização” das relações entre os dois países. O Bahrein é a sede da base naval dos EUA na região e possui uma relação profunda de interdependência com a Arábia Saudita. O novo acordo foi denunciado pelos palestinos como mais uma traição de um país árabe com a causa da libertação da Palestina. Embora a Arábia Saudita ainda não tenha dado esse passo em direção à Israel, o novo acordo com Bahrein é visto como articulado por seu governo junto ao governo dos EUA em uma política de promoção do isolamento do Irã, da qual os palestinos têm sido as maiores vítimas.
– No Paraguai, segue sequestrado o ex-vice-presidente Oscar Denis. O presidente Benitez pediu ajuda ao Brasil, à Colômbia e aos EUA para encontrar o político. Um avião presidencial foi até a Colômbia buscar especialistas nesse tipo de busca, informou o governo paraguaio. Denis tem 74 anos e desaparecem em Concepción, que fica a 500 km de Assunção. O sequestro ocorreu uma semana após a morte de duas meninas de 11 anos em uma troca de tiros entre as forças armadas do Paraguai e membros do EPP. O próprio presidente Benítez chegou a posar armado no local. As meninas eram argentinas e filhas de dirigentes do EPP e há indícios de que teriam sido vestidas com roupas de guerrilheiras após serem mortas e enterradas sem a autorização da família. O governo da Argentina, organizações políticas e de direitos humanos do Paraguai e do exterior, assim como a Corte Interamericana de Direitos Humanos pressionam o governo Benítez e o Estado do Paraguai para investigar as circunstâncias da morte das meninas e punir os culpados.
– A Índia e a China fecharam um acordo para diminuir as tensões na região fronteiriça no Himalaia. Em uma negociação mediada pela chancelaria russa, os ministros das relações exteriores da china, Wang-Yi, e da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, concordaram em trabalhar juntos sobre os conflitos na região. A primeira medida será o afastamento e o estabelecimento de uma equidistância das tropas dos dois países das zonas territoriais disputadas. Foi feito também um pacto de não provocação e não criação de “fatos novos” que pudessem desencadear reações de parte a parte.
– A operadora de telefonia Reliance Jio, que já foi certificada pelo Departamento de Estado americano como “operadora limpa” (sem componentes chineses), estaria trabalhando um 5G “made in Índia” com previsão de operacionalização para 2021. Até agora, EUA, Reino Unido e Austrália baniram os equipamentos chineses da Huawei de seus projetos 5G e pressionam países como Brasil e Índia a fazerem o mesmo. Em uma cada vez maior aproximação com os EUA, a Índia andou banindo aplicativos chineses como o TikTok, WeChat, Alipay e Baidu.
– Na Grécia, o incêndio no campo de Moria, na ilha de Lesbos, que deixou quase 13 mil refugiados desabrigados, sem comida e água, revela o drama humanitário que os europeus não conseguem resolver. As condições no campo já eram desumanas, após o incêndio o que se vê são famílias inteiras errando pela região sem saber para onde ir e como sobreviver. Enquanto isso, chefes de Estado da Europa se digladiam para encontrar uma solução conjunta, algo que não parece próximo da conclusão. Enquanto a presidenta grega Katerina Sakellaropoulou diz que o problema é europeu, o chanceler austríaco, por exemplo, Alexander Schallenberg, diz que “se esvaziarmos o campo de Moria, o local vai lotar de novo, imediatamente”. Alemanha e França dizem que vão receber 400 migrantes menores de idade, mas sem as famílias? Que nome possível pode ser dado a esse tipo de política xenófoba, racista e desumana?
– No Japão, parece próxima a nomeação do novo primeiro-ministro. Yoshihide Suga é o novo líder do Partido Liberal Democrata (PLD) de Shinzo Abe. Ele é muito próximo do ex-primeiro ministro e atua como secretário-geral do governo. Uma sessão extraordinária do parlamento japonês vai ocorrer no próximo dia 16 para nomear o novo primeiro ministro. Suga vai pegar um país em recessão econômica, com seu próprio governo criticado pela má gestão humanitária da pandemia e Jogos Olímpicos e Paralímpicos por realizar.
– O atual Embaixador dos EUA na China deve deixar o cargo, conforme anunciado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo. Terry Branstad atua como o representante dos EUA no país desde 2017, assim que Trump assumiu. Segundo a imprensa, sua saída se dá por iniciativa do próprio diplomata e não do governo norte-americano. Em seu comunicado de saída ele diz estar muito orgulho do trabalho de negociação do acordo comercial entre os dois países em sua Fase Um. O embaixador Branstad conhece o presidente chinês Xi Jinping desde os anos 80 quando era governador do estado americano de Iowa e Xi fez parte de uma delegação chinesa que foi ao estado para visitar fazendas e celebrar a irmandade entre Iowa e o estado chinês de Hebei. A relação se manteve quando Xi virou vice-presidente e Branstad passou a atuar como diplomata.