Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) atribui lucro ao esforço incansável de empregados do banco. Nesta quinta-feira, trabalhadores da Caixa e de outras instituições financeiras fazem assembleias em todo o país. Bancários da estatal podem deliberar por greve
Brasília, 27/08/2020 – Bancários da Caixa Econômica Federal e de outras instituições financeiras realizam, nesta quinta-feira (27), assembleias decisivas, em todo o país, para a definição das próximas medidas a serem tomadas diante das propostas apresentadas pelos bancos, que retiraram direitos históricos dos trabalhadores. Os empregados da Caixa — na linha de frente do atendimento a mais de 120 milhões de brasileiros para o pagamento do Auxílio de R$ 600, do FGTS Emergencial e de todos os outros benefícios sociais operacionalizados pelo banco — podem deliberar por uma greve por tempo indeterminado.
Além da tentativa da direção da Caixa de inviabilizar o plano de saúde dos empregados ao propor alterações no modelo de custeio do Saúde Caixa — o que vai encarecer o custo para todos os usuários — o banco, a exemplo das outras instituições financeiras, insiste em reajuste zero para os trabalhadores. Na noite desta quinta-feira (27), haverá assembleias em sindicatos de todo o país para a avaliação das propostas apresentadas pela Federação Nacional das Bancos (Fenaban) e a deliberação de novas ações da campanha salarial. Mais uma negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban está marcada também para hoje, antes das assembleias.
Nesta quarta-feira (26), a direção da Caixa Econômica informou que a estatal, mesmo com a crise econômica e o pagamento de diferentes benefícios para mais da metade da população, apresentou um lucro líquido de R$ 5,6 bilhões no primeiro semestre deste ano. Neste segundo trimestre, o lucro apurado foi de R$ 2,6 bilhões. Novamente, o presidente do banco, Pedro Guimarães, afirmou: “A Caixa nunca teve tanto lucro”.
Na avalição da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), esse resultado se deve ao esforço incansável dos empregados do banco, que, mesmo com total dedicação ao trabalho essencial que presta à sociedade, não têm sido efetivamente reconhecidos pela direção da empresa. “Os números mostram que a Caixa continua lucrando. Ou seja, o banco não tem motivos para deixar de atender nossas reivindicações e muito menos retirar direitos dos empregados”, destaca o presidente da Fenae, Sérgio Takemoto.
De acordo com o balanço divulgado pela Caixa, as despesas do banco com pessoal — considerando, inclusive, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) — diminuíram em doze meses (2,42%). A Caixa encerrou este primeiro semestre com 84.320 empregados. Em doze meses, foram fechadas agências, 28 postos de atendimentos e 16 lotéricos.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E ABONO — Na 12ª segunda rodada de negociações da Campanha Nacional 2020, realizada nesta quarta-feira (26), os bancos recuaram em mexer na regra da Participação nos Lucros e Resultados (PLR). De acordo com a proposta apresentada pela Fenaban, fica mantida a parcela adicional, que é de 2,2% do lucro líquido, sem alterar a regra.
Porém, os representantes dos bancos insistiram no reajuste zero. Como “compensação”, a Fenaban propôs a concessão de um abono de R$ 1.656,22, este ano. Para 2021, a proposta apresentada foi de reposição de 70% da inflação pelo índice INPC, a partir de 1º de setembro, e os outros 30% depois de seis meses.
“Até agora, as propostas da Fenaban têm tido uma repercussão muito ruim entre a categoria”, afirma a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira. “Temos assembleias nesta quinta. Os bancos têm até à noite para apresentar uma proposta decente de reajuste. Não vamos defender uma proposta com reajuste zero. A categoria tem consciência dos lucros que os bancos tiveram e também sabem o esforço para trabalhar durante essa pandemia”, acrescenta Moreira.
Mesmo registrando lucro líquido de R$ 5,6 bilhões neste primeiro semestre, a direção da Caixa Econômica endossa as propostas financeiras apresentadas pela Fenaban. Como destaca o presidente da Fenae, o lucro dos cinco maiores bancos do país somou R$ 108 bilhões, ano passado, com alta de 30,3% em doze meses.
“Apesar da crise econômica, a Caixa e os bancos seguem lucrando”, reforça Sérgio Takemoto. Neste primeiro semestre, o lucro dos quatro maiores — Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil — chegou a R$ 28,5 bilhões.
“As assembleias de hoje serão decisivas. Esperamos que na negociação desta quinta-feira haja avanços porque, sem reajuste, os bancos vão jogar os bancários para a greve”, assegura a presidente da Contraf.
SAÚDE E TELETRABALHO — Questões como assistência à saúde e condições de trabalho serão discutidas entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban. Houve concordância em negociar o teletrabalho; mas, falta avançar na questão da jornada em home office, como detalhes sobre equipamentos e valores. Os representantes dos bancários defendem que as empresas garantam o ressarcimento dos custos dos empregados com internet e equipamentos, por exemplo.
PRIVATIZAÇÃO — Na apresentação dos lucros obtidos pela Caixa, Pedro Guimarães deu destaque à comparação dos resultados com períodos anteriores à crise provocada pela pandemia. Segundo o banco, houve queda de 31% no lucro líquido do primeiro semestre (R$ 5,6 bilhões) em relação ao mesmo período de 2019 (R$ 8,1 bilhões). Em relação ao segundo trimestre, a diminuição foi de 39,3% quando comparados os três meses deste ano (lucro de R$ 2,6 bilhões) com o mesmo trimestre de 2019 (R$ 4,2 bilhões).
Contudo, Pedro Guimarães ressaltou a solidez do banco e disse que a redução do lucro nesse primeiro semestre foi “conjuntural”. Afirmou também que “está confiante” que a estatal deve apresentar recuperação da lucratividade já no terceiro trimestre.
Para isso, Guimarães reafirmou os planos de fazer a abertura do capital da Caixa Seguridade no próximo mês de outubro, mesmo com os números apontando a lucratividade da subsidiária de seguros.
No primeiro semestre deste ano, a Caixa Seguridade acumulou R$ 807,9 milhões de lucro líquido recorrente — um aumento de 5,2% em relação ao mesmo período de 2019. Deste montante, R$ 393,9 milhões foram auferidos no segundo trimestre — um incremento 2,7% em comparação ao segundo trimestre do ano passado.
Além da Caixa Seguridade, o presidente do banco voltou a confirmar o objetivo do governo de “logo depois, também abrir o capital da Caixa Cartões”. “A intenção de Pedro Guimarães e de Paulo Guedes [ministro da Economia] é vender as partes mais lucrativas da Caixa, as partes que o sistema financeiro internacional deseja. O governo Bolsonaro está comprometido só com interesses financeiros”, alerta Sérgio Takemoto.
MANOBRA — O presidente da Fenae lembra que o caminho para a privatização da Caixa Econômica foi aberto pela Medida Provisória 995, editada pelo Executivo no último dia 7 e encaminhada ao Congresso, onde recebeu um total de 412 emendas; mais de uma dezena delas, sugeridas pela Fenae. A MP permite a criação de subsidiárias da Caixa e, a partir delas, a criação de outras subsidiárias, com o objetivo de privatização da estatal.
Sérgio Takemoto também chama a atenção para o fato de que o fatiamento do banco — conforme permite a Medida Provisória 995 — constitui uma manobra para burlar a necessidade de consentimento do Legislativo à venda de estatais. Ele ainda observa o desrespeito do Executivo e ao Supremo Tribunal Federal.
“Para burlar decisão do STF, que veta a venda de estatais sem autorização do Poder Legislativo, o governo Bolsonaro promove o fatiamento da Caixa, a exemplo do que vem fazendo com a Petrobras — fato já questionado pelas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado — para posteriormente consolidar a privatização da empresa-matriz”, afirma o presidente da Fenae.
CARTA ABERTA — Seis ex-presidentes da Caixa divulgaram uma Carta Aberta para defender a importância do banco 100% público e a consolidação da estatal como maior gerenciador de programas sociais do país. O documento alerta para os perigos da MP 995 e da privatização da Caixa Econômica e foi lançado, na noite desta terça-feira (25), durante a live “O X da Questão”. O encontro virtual contou com a participação de ex-dirigentes do banco a partir de 1992 até 2018: Danilo de Castro (1992-1994), Jorge Mattoso (2003-2006), Maria Fernanda Coelho (2006-2011), Jorge Hereda (2011-2015), Miriam Belchior (2015-2016) e Gilberto Occhi (2016-2018).
“A instituição centenária passou por diversos governos. Em alguns, por pouco não sucumbiu à privatização, como na década de 1990, quando praticamente todos os bancos estaduais e diversas outras empresas públicas foram vendidos. E consolidou-se, nas últimas décadas, como maior gerenciadora de programas sociais do País”, diz a Carta.
A live foi conduzida pela representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração do banco, Rita Serrano. Também participaram do debate, o presidente da Fenae e representantes de outras entidades sindicais.
No encontro, os seis ex-presidentes do banco exaltaram o papel da instituição, o esforço dos empregados e a superação da empresa frente ao desafio do pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios. Eles observaram que oito de cada dez brasileiros são assistidos pela Caixa durante a pandemia.
Sérgio Takemoto ressaltou a gravidade da situação do banco durante o governo Bolsonaro. “É com união e mobilização que vamos superar este momento e construir o futuro que as pessoas que precisam da Caixa merecem. A Fenae estará sempre na luta em defesa da Caixa 100% pública e de um país mais justo e mais democrático”, afirmou o presidente da Federação.
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