O ex-presidente do Equador e principal líder político do país, Rafael Correa, assumiu a posição de um verdadeiro estadista: será candidato a vice-presidente na chapa do economista Andrés Arauz.
Rafael Correa repete o gesto da ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner. Dois gigantes colocando o interesse nacional acima de seus projetos pessoais e/ou partidários.
Do Equador vem outra lição. A candidatura será pela Frente União Pela Esperança, organização que reúne diversos partidos e organização sociais e indígenas. A Frente vai além da esquerda, agregando também o Centro Democrático.
O Equador vive um drama muito semelhante ao brasileiro. Operações judiciais-midiáticas foram a fachada institucional para solapar a democracia.
Traído por seu sucessor, Correa foi implacavelmente perseguido. Acabou condenado a oito anos de prisão. Está exilado na Bélgica. Nesta semana, a ex-ministra María de los Ángeles Duarte, condenada no mesmo processo, se refugiou na embaixada da Argentina em Quito.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Estamos diante de uma Nova Operação Condor no continente com o objetivo de desestabilizar os países, prender seus líderes populares mais importantes e sequestrar suas riquezas.
Na Argentina e no Equador, Cristina e Rafael compreenderam a gravidade do momento e a necessidade de ampliar, projetando novos nomes e construindo Frentes – se engana quem diz que o peronismo possui similaridade com qualquer partido brasileiro.
Se as situações são tão semelhantes, por que as respostas são tão distintas? Por que no Brasil o campo popular e democrático está fragmentado?
Não há argumento racional capaz de sustentar a atual divisão na disputa eleitoral nas principais capitais do país.
É correto colocar projetos individuais e partidários acima do interesse nacional e da vida do povo? A ameaça fascista é real ou apenas um discurso engana-trouxa? Não existe mais projeto coletivo no Brasil? A esquerda morreu?
A oposição grita que Bolsonaro é um monstro e desenvolve teses sociológicas complexas para tentar explicar a indiferença da sociedade à política insensível e genocida do capitão na pandemia.
Está em curso um genocídio no Brasil? Um desmonte do país? Qual a atitude diante desta barbárie? A divisão pequena e mesquinha? O cada um por si e o povo que se dane? Adotar o cinismo como prática política é inaceitável.
Nossos irmãos equatorianos repetem nossos vizinhos argentinos e nos apontam o caminho. Uma Frente União Pela Esperança, ampla, um grande esforço de salvação nacional.
O tempo está correndo. Cabe aos nossos principais líderes escolherem seus lugares na história. Gigantes ou pigmeus? Que a esperança vença a miopia.
Ricardo Cappelli é Secretário Chefe da Representação Institucional do Governo do Maranhão no DF. Jornalista, Pós Graduado em Administração Pública pela FGV.