Reunião de emergência no Planalto:
— Presidente, a história de mostrar a cloroquina pra ema tá pegando mal. Estão dizendo na internet que o senhor pirou de vez.
— Como assim, porra? Aquele bicho vagabundo me atacou, não me atacou? Tô mentindo?
— Não, senhor.
— Cala a boca! Era uma pergunta retórqui… Fosfóric… Ah, essa palavra aí, talkey? Não era pra responder, porra. Tô falando ainda.
(Assessor aquiesce com a cabeça.)
— Pois então, a porra da ema me bicou. Doeu pra cacete! E aí você vê como é esse pessoal dos direitos humanos: ninguém deu um pio! Ninguém falou nada! Aposto que tão, como sempre, do lado do bandido, que, no caso, é a ema. Mas enfim, o certo seria o que?
— …
— Uns tiros de três oitão bem dados no animal, porra! Um perigo pra sociedade um bicho desse daí solto. Mas eu, como sou um estadista, e já prevendo a gritaria que ia dar se eu fizesse o certo, que que eu faço? Estendo a mão pra ema! Ou melhor, a cloroquina! Esse remédio é milagroso, cacete. Cura até ema raivosa, vai por mim.
— Mas, presidente…
— Não acabei, porra! Pois eu estendo a mão, ofereço a cura pro animal, e esse bando de comunista faz o que? Critica, é claro. Esse pessoal só sabe falar mal, só sabe torcer contra. É de estourar a hemorroida!
— Posso falar, presidente?
— Agora pode. Porra.
— É que a cena é mesmo estranha, presidente. O senhor está mostrando uma caixa de remédio pra uma ema. Até descrever a cena é esquisito, presidente. O ideal seria o senhor evitar esse tipo de coisa, realmente não está nos ajudando.
— Evitar é o cacete. Azar dos esquerdistas, eu sou o presidente, eles vão ter que me aturar. E azar da ema também que não quis tomar a cloroquina, esse presente de Deus aos homens de bem.
— Mas isso pode dar merda, presidente. Tem a denúncia no Tribunal de Haia agora, e…
— Ah, quanto a isso, tá tranquilo! Inclusive o Wassef… quer dizer, aquele outro advogado meu, que não é o Wassef, falou que essa história da ema pode ser útil no meu julgamento.
— Como, presidente?
— A ideia é dizer que eu sou imprestáv… Não, inimig… Não, também. Ah, “inim alguma coisa” nisso daí, entendeu?
— Entendi sim, presidente, entendi. Faz sentido.