Após a divulgação do tenebroso vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o país conheceu a verdadeira face do governo Bolsonaro. Na prática, o núcleo da gestão é comandada por militares, basta checar as atuações do vice-presidente Hamilton Mourão na Amazônia e Eduardo Pazuello com sua “tropa” de 23 militares a frente do Ministério da Saúde. Para completar a ópera governista dos verde-oliva, Bolsonaro colocou em seu círculo o coronel Gilson Libório de Oliveira Mendes.
Libório foi nomeado por Bolsonaro para assumir a Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), órgão que está na alçada do Ministério da Justiça. Na última sexta-feira (24), o repórter Ruben Valente do UOL revelou que a pasta chefiada por André Mendonça estaria articulando ações sigilosas contra 579 policiais federais e civis considerados “inimigos” do governo por participarem de movimentos antifascistas. De inicio, André Mendonça teria em seu poder um dossiê com identificação, fotografias e endereços de perfis destes servidores. Além dos policiais, a ação também mira dois professores universitários, um deles é Paulo Sérgio Pinheiro.
Ex-secretário de Direitos Humanos do governo FHC (PSDB), Pinheiro já foi nomeado relator pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995 para atuar em Burundi, após o massacre genocida ocorrido em Ruanda. Após essa missão, o professor foi exercer o mesmo cargo na Comissão internacional Independente de Inquérito sobre a guerra civil na Síria, trabalho esse que gerou um relatório tenebroso que Pinheiro entregou ao Conselho de Segurança da ONU. Pois bem, o extenso currículo de Paulo Sérgio Pinheiro não impediu que o professor entrasse no rol de cidadãos que supostamente possam ser “potenciais ou reais ameaças” no seu próprio país.
O papel de Libório na “missão” dada por Bolsonaro é de “elaborar estudos e pesquisas para o aprimoramento das atividades de inteligência de segurança pública e de enfrentamento ao crime organizado” para a Seopi, chefiada pelo delegado Jeferson Lisboa Gimenes. O coronel Libório é formado pela turma de 1982 da Academia Militar das Agulhas Negras como Oficial da Arma de Infantaria e já trabalhou como major na Casa Militar em 1998. Quando foi promovido a tenente-coronel, Libório foi trabalhar no gabinete do comandante do Exército, atuando no Centro de Informações e da Comunicação Social e nas assessorias jurídicas, finanças do comandante e parlamentar.
Após a saída de Sérgio Moro do ministério da Justiça, houve mudanças drásticas na Seopi, se transformando numa espécie de ‘Abin paralela’ de Bolsonaro. Antes da saída de Moro, a secretaria integrava “operações policiais contra crime organizado, pedofilia, homicidas e crimes cibernéticos”. Para a Comissão Arns, a Seopi afronta os princípios constitucionais por “ações insidiosas contra o Estado de Direito e os que o defendem”. Em 24 de abril, Sérgio Moro usou como justificativa para seu pedido de demissão a interferência política na Polícia Federal por parte de Bolsonaro.