O resultado das prévias internas do PSOL em São Paulo, que confirmou a vitória já esperada da chapa encabeçada pelo líder do MTST Guilherme Boulos tendo como vice a deputada federal e ex-prefeita paulistana Luiza Erundina está provocando uma série de reflexões sobre o cenário que se desenha no processo eleitoral da maior cidade do país, sobretudo no PT.
Em que pese o fato de o PSOL nunca ter obtido resultados eleitorais relevantes na cidade, a nomeação oficial de Guilherme Boulos levou a uma série de questionamentos e postagens irônicas de petistas nas redes sociais nos últimos dias, sugerindo uma possível deserção de parte do PT da candidatura do ex-deputado federal Jilmar Tatto para um apoio velado ou até mesmo explícito a Boulos, liderança que caminhou junto, até com algum protagonismo, na denúncia da prisão ilegal do ex-presidente Lula.
Reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo jogou mais lenha na fogueira ao especular um movimento encabeçado por setores do PT descontentes com a nomeação de Jilmar Tatto, que incluiria a bancada de vereadores do partido, rumo a uma substituição de Tatto por Fernando Haddad, ou ainda a retirada da candidatura em prol do PSOL.
Ainda que a matéria não seja verdadeira, e tenha sido plantada por sabe se lá quem, é fato que há quem tenha interesse no que é aventado pelo jornal. O que expõe alguns dos dilemas vividos pelo petismo em São Paulo.
Uma das coisas que o PT mais se orgulha é a sua propalada democracia interna, onde a decisão da militância, apesar de processos recentes indicarem fraudes em determinadas cidades que colocaram em jogo a legitimidade dos resultados nas disputas internas anteriores (não foi o caso da escolha de Tatto, registre-se), é tida como sagrada.
O partido está disposto a rasgar a escolha dita soberana dos filiados paulistanos? E vamos supor que a vontade seja respeitada, e Tatto seja mantido candidato, o partido estará engajado de fato em sua campanha? Mais uma vez o partido irá mostrar que está mais preocupado com lutas internas do que com apresentar um projeto forte para a cidade?
Somente a hipótese remota de o PT, ou setores do PT, cogitarem abrir mão de candidaturas nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, para apoiar nomes do PSOL, partido que nas últimas eleições municipais paulistanas teve cinco vezes menos votos que o PT e elegeu menos de um quarto dos vereadores, indica problemas e reflexões urgentes que o partido e sua militância devem fazer.
Ainda que seja um gesto interessante quando todos pedem unidade das esquerdas, diante do discurso hegemônico petista de que é natural o partido estar liderando os processos eleitorais – Lula queria candidatos do PT em todas as capitais do país – algo está errado, e é preciso saber quem ganha quando esse tipo de critica política torna-se quase proibida, sob o risco de acusações de traição e golpismo.
Enquanto isso, o campo progressista da cidade tem hoje a candidatura da dupla Márcio França, do PSB, e Antônio Neto, do PDT, como a mais competitiva em termos eleitorais, segundo as últimas pesquisas apontaram. Os dois partidos já apresentam um esboço de seu programa de governo e diagnóstico dos problemas da gestão de Bruno Covas, líder nas pesquisas, mas que ainda não foi devidamente avaliado pelo povo paulistano devido à pandemia da Covid-19.
A última peça que falta ser colocada no tabuleiro é qual será o candidato do bolsonarismo na maior cidade do país. Rompida politicamente com João Dória, a extrema direita não tem um nome “autêntico” para chamar de seu. Os mais próximos disso são Paulo Skaf, articulador do partido que Bolsonaro quer montar, o Aliança pelo Brasil, e justamente por esse motivo não receberá legenda da sua atual sigla, o MDB, e Celso Russomanno, por suas ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus, aliada de primeira hora do presidente da República.
Portanto, ainda há muita água para passar por debaixo da ponte.