Estudo do Ibre-FGV indica exponenciais quedas nas taxas que representam a população ocupada, situação que pode levar a taxa de desemprego à casa dos 20% quando o auxílio emergencial tiver fim.
Ao longo da recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 e que durou até o quarto trimestre de 2016 houve uma forte redução do emprego no Brasil, principalmente no final de 2016, quando as quedas observadas na população ocupada foram de quase 3% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Desde então, a população ocupada crescia a taxas robustas, chegando a um crescimento de 2,9% em maio de 2019.
No entanto, após este longo período de expansão da população ocupada, houve, a partir de março, forte retração do emprego.
O Brasil apresentou queda de 2,5% em março, 9,2% em abril e 10,7% em maio, a maior da série histórica.
A queda do emprego na indústria agregada foi influenciada pela retração observada principalmente na construção civil, cuja queda em maio de 2020 foi da ordem de 15,7%.
No setor de serviços, principal setor da economia (concentrando cerca de 70% do emprego gerado no país), a queda começou também em março de 2020, com um tombo de 1%.
Entre abril e maio, as quedas ficaram mais intensas: 8,5% e 10,7% em relação ao ano anterior, respectivamente.
A forte queda de emprego no setor de serviços e na construção civil pode estar associada à elevada informalidade presente nestes dois setores.
Desde o final da recessão de 2014-2016, a contribuição da informalidade para a recuperação do emprego tem sido muito elevada, destoante do padrão observado em recessões anteriores.
Com a pandemia do coronavírus, contudo, uma forte destruição do emprego informal tomou forma, mais elevada que a observada no emprego formal.
Em março, a população ocupada no setor informal caiu 4% em relação anterior; 13,1% em abril; e 15,1% em maio.
A pandemia do coronavírus, de fato, destruiu mais ocupações no mercado de trabalho informal da economia.
O emprego de pessoas sem carteira ou que trabalham por conta própria vinha apresentando crescimento robusto desde meados de 2017, mas foi fortemente afetado pela pandemia.
“Teremos uma volta dessas pessoas que estão fora do mercado de trabalho”, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV.
“Sem o auxílio emergencial, terão que buscar renda, então a taxa de desemprego, que não subiu muito no curto prazo, pode subir mais num segundo momento”, explica.
Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX Investimentos e colunista da Folha, estima que a taxa de desemprego pode subir rapidamente para perto de 20% após o fim do auxílio emergencial.