Os russos deram ao presidente Vladimir Putin a possibilidade de ficar no poder até 2036, ao votarem por mudanças constitucionais que “reiniciaram” a contagem do mandato do líder russo.
O referendo acompanhava uma série de emendas à Constituição que já tinham sido aprovadas pelo corpo legislativo russo, o que transformou o processo em uma espécie de “plebiscito” que visava dar legitimidade às novas mudanças à Constituição.
Um dos anexos presentes no referendo refere-se à proibição de que um salário mínimo esteja abaixo da linha da pobreza, o que obrigaria o salário mínimo russo, hoje, a ser pelo menos US$ 152.
Outro diz respeito à expansão de investimentos e gastos com auxílios relativos à maternidade.
Um referente à situação de Putin diz respeito à limitação de “dois mandatos” por mandatário, modificando a lei que permitia que se concorresse por até dois mandatos consecutivos. É a partir dessas modificações que o “relógio” de seu mandato reiniciou.
Outro exemplo de mudança é que apenas aqueles que residiram na Rússia por 25 anos podem concorrer ao cargo presidencial, não podendo ter exercido em sua vida cidadania estrangeira ou estabelecido domicílio fora do país.
De mesmo modo, pessoas que tenham “importantes posições na manutenção da segurança nacional” (presidente, ministros, juízes, governadores…) não podem ter cidadania estrangeira ou vistos permanentes em outros países.
“Valores familiares” também estão presentes no referendo, numa tentativa de angariar o apoio de conservadores e nacionalistas de direita.
Estes valores ditam, por exemplo, que o “casamento” só pode ser “a união entre um homem e uma mulher”, que crianças serão a “prioridade principal” do governo, e que a juventude do país receberá uma “educação patriótica”.
Além disso, o idioma russo será permanentemente ancorado à Constituição como “o idioma do povo da nação”.
De acordo com a Comissão Eleitoral Central, 77.9% dos votos contados no país foram a favor das mudanças na Constituição. Segundo o órgão, em torno de 21% votaram contra.
Os Estados Unidos demonstraram preocupação com a votação, ressaltando relatos de “coerção” sobre os votos.
A União Europeia também pediu investigações sobre as supostas irregularidades relatadas.
Alexei Navalny, político de oposição, chamou o voto de um “show ilegítimo” desenvolvido para “legalizar a presidência eterna de Vladimir Putin”.
“Nunca reconheceremos este resultado”, afirmou a apoiadores, em vídeo.
Navalny afirmou que a oposição não protestaria agora por causa da pandemia de Covid-19, mas que o fará em grandes números no outono (na Rússia, entre setembro e outubro) se seus candidatos forem proibidos de participar de eleições regionais ou se seus resultados forem falsificados.
“O que Vladimir Putin mais teme são as ruas”, afirmou o opositor. “Ele não sairá até que comecemos a levar milhares e milhões às ruas”.
Russos foram encorajados a apoiarem o movimento de Putin, com campanhas ressaltando mudanças à Constituição como garantias de aposentadoria e um literal banimento de casamentos homossexuais.
Pagamentos de 10.000 rublos (R$ 758,22) teriam sido transferidos àqueles que têm filhos crianças, sob ordens de Putin, antes de as pessoas se dirigirem às cabines de votação, na quarta, último dia para votar, num período de sete dias que visava limitar o dissemínio do Coronavírus.
65% dos eleitores teriam comparecido para votar.
Com 60% de aprovação, Putin mantém uma bom índice de aprovação, ainda que abaixo de seu pico de quase 90%.
Paulo
02/07/2020 - 22h07
Nada do que vem de países como a Rússia pode ser levado inteiramente a sério, sob a ótica da democracia burguesa, representativa, sob o prisma da transparência. Eles nunca conheceram a democracia. Mas é interessante, por outro lado, essa questão da pauta cultural. Por aqui, ele (Putin) costuma ser louvado pela esquerda, como se fora um herdeiro do comunismo soviético, um porta-voz do igualitarismo humanitário, talvez. Mas qual o esquerdista no Brasil que ousaria vetar o casamento gay, como ele propõe?