Governo liquidou nossa empresa de semicondutores

Do site do Paulo Gala.

*escrito com um especialista que preferiu não ter seu nome divulgado

O governo brasileiro liquidou nossa empresa de semicondutores, os governos de China, Coreia e Taiwan seguem fortalecendo as deles!

Segundo o Secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, a empresa deu prejuízo de R$ 12 milhões em 2019 e, desde que foi criada em 2008, o governo teria investido R$ 907 milhões, sem retorno.

O setor de semicondutores é considerado estratégico em todo o mundo. Chips formam a base de praticamente todas as tecnologias cruciais do futuro, como inteligência artificial, robótica, carros autônomos e internet das coisas.

Está no centro da guerra tecnológica entre as duas maiores potências do mundo, China e Estados Unidos. Para atrasar e até bloquear o avanço da Huawei na tecnologia 5G, os EUA restringiram o acesso da empresa a insumos que contenham tecnologia americana.

O maior gargalo? Semicondutores. A TSMC, empresa taiwanesa que se tornou referência na fabricação de chips, é cobiçada pelos dois países. Na China, fala-se inclusive em invadir Taiwan para assegurar o fornecimento regular dos chips. Trump, por outro lado, aproveitando-se da rivalidade entre Taiwan e China, pressionou a TSMC para que ela construísse uma planta de chips no Arizona.

Produções do setor de pesquisa e desenvolvimento por tipo, onde semicondutores têm os mais altos índices. Fonte: McKinsey and Co.

O problema é que produzir semicondutores é muito difícil. A curva de aprendizado é longa. O setor é um dos mais intensivos em pesquisa e desenvolvimento e o montante de investimento requerido, sem retorno garantido, é muito elevado.

Nesse sentido, as pioneiras levam muita vantagem sobre as retardatárias. Pioneiras que, como Intel, Samsung e TSMC, beneficiaram-se enormemente do Estado, seja por meio de compras governamentais (especialmente a Intel, em decorrência da demanda dos complexos aeroespacial e militar americanos), seja pela concessão de empréstimos subsidiados (com destaque para a Samsung), seja pelo investimento público em pesquisa e desenvolvimento (TSMC é um spin-off do Industrial Technology Research Institute de Taiwan).

O quadro abaixo mostra como é difícil para empresas retardatárias reduzirem a distância em relação às pioneiras. Neste setor, quanto menor for o tamanho do nódulo, mais avançado ele é tecnologicamente.

Empresas por “tamanho do nódulo” do semicondutor. Observa-se no quadro que os da Intel, TSMC, Samsung são os menores do levantamento. Fonte: OCDE.

As duas últimas são empresas chinesas, estatais, mais antigas do que a brasileira CEITEC e que receberam investimentos muito maiores, mas que mesmo assim continuam atrasadas tecnologicamente em relação às líderes do setor.

Tipos de apoio governamental total para as empresas estudadas, contabilizado em mais de 50 bilhões de dólares no período de 2014-18. Fonte: OCDE.

Pelo menos desde 2011, com a Circular Nº 4 do Conselho de Estado (Several Policies for Further Encouraging the Development of the Software Industry and Integrated Circuit Industry), o setor é considerado estratégico para o futuro do país.

Em 2014 foi criado o China Integrated Circuit Industry Investment Fund Co., Ltd, com recursos da ordem de US$ 23 bilhões. O Plano Made in China 2025 estabeleceu como objetivo atingir 40% de autossuficiência em chips até 2020 e 70% até 2025. A real magnitude do apoio governamental chinês ao setor de semicondutores é difícil de mensurar, pois envolve uma série de instrumentos e não se caracteriza por ser transparente. Mesmo assim, a OCDE calculou estimativas para 21 empresas.  

Segundo a OCDE, todas as empresas de semicondutores analisadas receberam apoio governamental entre 2014 e 2018.

A chinesa Tsinghua foi a que mais recebeu, seguida da Samsung, da Intel e da TSMC.

Em relação à receita de cada uma, destacam-se as chinesas. SMIC e Tsinghua, por exemplo, receberam suporte equivalente a mais de 30% da sua receita no período. Hua Hong e JCET vieram na sequência. Aportes de capital do governo chinês de 2014 a 2018 aumentaram significativamente os ativos das empresas do país. Porém, as respectivas margens de lucro continuaram muito menores do que as das demais empresas da amostra, apesar do forte apoio governamental.

Segundo a OCDE, empresas chinesas se destacam entre aquelas que não conseguem gerar lucro suficiente para cobrir o custo do capital. Ademais, à esta altura já está claro que os objetivos do “Made in China” não serão atingidos.

Tais resultados abalaram a confiança dos chineses? Fizeram com que eles desistissem de desenvolver semicondutores? Os chineses liquidaram suas estatais porque “oneram o cidadão”? De forma nenhuma. No ano passado, a China criou um novo fundo, agora com US$ 29 bilhões (maior do que o de 2014), para o país ficar menos dependente dos EUA em semicondutores. No auge do rigoroso lockdown imposto sobre Wuhan devido ao COVID-19, a empresa Yangtze Memory Technologies, produtora de chips de memória, tinha vagões de trem reservados para funcionários da empresa e supervisionados pelo governo para poder continuar funcionando, enquanto o resto da cidade estava parado. Somente no mês passado, o governo chinês injetou US$ 2,2 bilhões na SMIC, muito mais do que a CEITEC recebeu do governo brasileiro em toda a sua existência.

O domínio desta tecnologia é considerado crucial ao desenvolvimento chinês. A elite do país considera que não há outra opção.

“Vermelho” indica períodos em que os rendimentos foram abaixo da média de mercado, sob os parâmetros da estimativa média do relatório. Fonte: OCDE.

Por mais custoso e frustrante que possa ser o desenvolvimento deste setor na China, não há outro caminho possível para o país se tornar uma potência. Tem país que tem ambição de se desenvolver. Outros se contentam em vender soja e minério de ferro e continuar sendo colônia para sempre.

O que é um semicondutor?
Relatório da OCDE.
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