O impensável está acontecendo no Brasil – com ares de normalidade.
Mil e tantos mortos por dia, descontada a fatalmente enorme subnotificação em um país que faz pouco testes para saber quem está infectado, é o nosso novo normal.
Nada indica que a marca das 2 mil mortes diárias que será atingida nos próximos dias gerará alguma comoção.
Pelo contrário, estados e municípios estão afrouxando de vez a quarentena meia boca que vinha sendo feita. Esqueçam serviços essenciais; estamos adentrando a fase do liberou geral.
Há, contudo, um detalhe mórbido: os casos seguem crescendo assustadoramente.
Governantes, imprensa, empresários, todos podem até virar o rosto para o lado, fingir que não há uma incongruência assassina entre a curva de contágio e as medidas adotadas pelo poder público e pelos agentes econômicos. O horror, contudo, não é menos horror porque não queremos vê-lo.
Há muitos responsáveis por essa calamidade, esta maneira profundamente idiota e sanguinária de lidar com a pandemia. Quanto maior o poder de quem se omitiu ou de quem agiu no sentido contrário ao consenso científico, maior a responsabilidade.
Sendo assim, é evidente que o responsável mor, o genocida dos genocidas, é Jair Bolsonaro, o presidente da República.
Sua mente perturbada jogou-nos a beira de uma guerra civil entre fascistas e antifascistas em meio ao morticínio provocado pelo coronavírus.
É claro que ir para as ruas é arriscadíssimo. Da mesma forma, é, no mínimo, exasperante assistir ao diminuto gado bolsonarista tocando o terror e pedindo golpe militar nas ruas. Como criticar quem se dispõe a fazer o enfrentamento?
É unânime a percepção de que Bolsonaro quer o confronto para fechar o regime. Os movimentos democráticos precisam ser cirúrgicos nesse momento, mas a ida às ruas em algum momento será inescapável; se não formos por conta da ameaça de ditadura, é porque já estamos sob uma.
Outro evento inescapável é o julgamento de todos os que colaboraram para a morte de milhares de irmãos e irmãs brasileiras. Especialmente o genocida dos genocidas.
É inadmissível que repitamos a anistia infame aos torturadores e assassinos da ditadura militar. Na Suécia, citada como modelo pelo presidente, será aberta uma investigação sobre a desastrosa atuação do governo na crise sanitária.
Bolsonaro e seus asseclas não podem escapar de seu julgamento de Nuremberg.