No Ipea
27/05/2020 16:07
Boletim de Acompanhamento Setorial da Atividade Econômica revela brusca reversão dos indicadores de serviços, comércio e indústria
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) passa a acompanhar, mensalmente, o desempenho dos principais segmentos de serviços, comércio e indústria, sob a ótica da crise provocada pela pandemia da Covid-19. A primeira edição do “Boletim de Acompanhamento Setorial da Atividade Econômica”, divulgado nesta quarta-feira (27), mostra que o bom desempenho dos indicadores de atividade econômica no 1º bimestre de 2020 foi bruscamente revertido a partir de março, com a adoção de medidas de prevenção ao novo coronavírus. As projeções antecipam dados das séries divulgadas nas pesquisas do IBGE: Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF); Pesquisa Mensal de Comércio (PMC); e Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). A análise faz um cruzamento de dados com um conjunto amplo de informações, desde pesquisas qualitativas a dados diários referentes a transações comerciais.
O setor mais atingido até agora é a indústria, cujo destaque negativo em março foi a produção total de automóveis (-95%). A previsão do Ipea aponta para uma retração de 36,1% em abril, em relação ao mês anterior.
No comércio varejista, a piora deve ser disseminada, com as vendas encolhendo 34,7% entre os meses de março e abril. O setor de serviços também foi severamente impactado pela pandemia – apenas o segmento de tecnologia, informação e comunicação deve recuar -21,2% no período. O Ipea prevê redução de 23,7% para o indicador PMS (Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE) de abril.
O boletim apresenta uma projeção detalhada por segmento para o mês de abril, cujos dados ainda não estão divulgados. A indústria alimentícia, que cresceu 0,5 % em março, tem previsão de queda de -14,7%. A produção de derivados de petróleo e biocombustíveis, que já havia recuado em março (-0,3%), despencaria para -14,3% – mesmo índice previsto para artigos químicos (que caíram -4,7% em março). O crescimento em março nos setores de produção de celulose e papel (0,3%) e artigos de limpeza e perfumaria (0,7%) também deve ser revertido em abril, com queda de 1,4% e 2,7% respectivamente.
A fabricação de produtos de borracha e plástico (-12,5% em março) deve cair para -24,3% em abril, mesmo movimento da metalurgia (-3,4% em março e -9,7% em abril), e da fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos (-7,2% em março e -33,1% em abril). A produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que teve queda expressiva de -10,6% em março, deve recuar ainda mais em abril (-17,4%). Seguem essa tendência a produção de máquinas e equipamentos (de -9,1% para -19,6%), outros equipamentos de transporte (-4,4% para -41,7%) e outros produtos manufaturados (-0,3% para -30,3%). Um dos mais afetados em março foi o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias (- 28%), com projeção de queda da produção de expressivos -92,9% em abril.
Para alguns setores, porém, a expectativa é de prejuízos menores em abril, na comparação com o mês de março deste ano. A construção civil, que registrou queda em março de -12,3%, tem projeção de -7% para abril. A produção têxtil, que caiu -20% em março, deve se recuperar um pouco (-10,6%). Nessa mesma linha estão artigos para vestuário (-37,8% em março para -14,6% em abril), artigos de couro e calçados (-31,5% para -6,6%) e farmoquímicos e farmacêuticos (-10,9% para -0,8%). Nesse último caso o prejuízo é menor devido à demanda por medicamentos.
Segundo Leonardo de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, “houve prejuízos menores, mas eu destacaria casos como o da celulose, que caiu um pouco, de um crescimento de 3% em março para um recuo de -1,4% em abril. Os empresários do setor externaram uma perspectiva positiva para a demanda externa e esse fato está relacionado diretamente à Covid-19, que elevou o consumo de papel para fins sanitários e embalagens”.
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