A pesquisa CNT/MDA divulgada hoje tem um defeito grave, que faço questão de enfatizar no início do post: não traz a estratificação por região, renda, escolaridade, sexo, tamanho de cidade, nada!
Isso é muito ruim para a confiabilidade de qualquer pesquisa.
Dito isso, vamos aos números.
A inteligência humana funciona por comparação. Sem isso, não conseguimos apreender a realidade.
No caso de pesquisa, preciasamos comparar a aprovação no tempo e no espaço.
No tempo, o gráfico deixa bem claro que houve uma deterioração forte e rápida da avaliação do governo federal.
Em janeiro, a soma de ruim e péssimo era de 31%, número que saltou 12 pontos, para 43% em maio.
A avalição positiva, por sua vez, oscilou 3 pontos para baixo, mas ainda é apreciável, 32%.
No espaço, a comparação é feita com a mudança na avaliação de prefeitos e governadores. O que faremos mais abaixo.
Os números de aprovação do desempenho pessoal de Bolsonaro também sofreram um forte abalo desde janeiro.
Em janeiro, 48% aprovavam o presidente, o que era um número impressionante para alguém tão divisivo e polêmico como Bolsonaro, mas esse apoio caiu 9 pontos e hoje é de 39,2%, um número ainda alto.
Por outro lado, a rejeição a Bolsonaro disparou mais de 8 pontos e chegou a 55%.
Nas tabelas abaixo, com a avaliação de prefeitos e governadores, fica patente que a crise do coronavírus provocou mudanças importantes na percepção popular sobre lideranças do Executivo. As pessoas passaram a prestar mais atenção ao que eles fazem e agem.
Os governadores e prefeitos se notabilizaram, na crise atual, por uma gestão mais “conservadora” da saúde pública, priorizando o combate ao vírus e o respeito absoluto à recomendação da comunidade médica e científica à politização do debate. Bolsonaro seguiu o caminho contrário.
Resultado: a rejeição de governadores e prefeitos caiu, e a de Bolsonaro aumentou.
Essa comparação “no espaço” é importante para balisar uma análise: o próprio Bolsonaro ainda deve estar se beneficiando, em boa parte, do aumento da insegurança popular, que leva as pessoas a olharem para a adminstração pública com ansiedade e esperança, e isso é o que leva ao aumento da aprovação. Entretanto, como a maior parte da população avalia negativamente o desempenho de Bolsonaro no combate ao coronavírus, um possível crescimento da aprovação é compensado pelo forte crescimento da rejeição.
Outro ponto fundamental para fazermos uma predição do que vai acontecer daqui para frente é a constatação de que o avanço das mortes por Covid-19 vai fazer um estrago maior nos governantes que demonstraram pouco apreço pela ciência, e que fizeram declarações apressadas e irresponsáveis, que serão cada vez mais resgatadas pela massa crescente de insatisfeitos. Ou seja, o estrago na aprovação de Bolsonaro será cada vez maior.